Arnobio Rocha Política Dilma: Grande vitória política da Esquerda (34 – 24/2010)

35: Dilma: Grande vitória política da Esquerda (34 – 24/2010)

Dilma: Grande vitória política da Esquerda

Brasil elege Dilma para ser

O que estava em jogo nesta eleição era a possibilidade de avançarmos o debate político-ideológico com as manifestações Neoliberais decadentes no mundo, mas que ainda resiste no Brasil num setor do centro-direita e com ampla campanha da imprensa local. Enquanto o mundo se desloca das alternativas de estado mínimo, a agenda da direita apoiada na imprensa é a mesma pré-setembro de 2008.

Pela primeira vez os projetos alternativos voltam ao palco no Brasil e no mundo depois de 19 anos de massacre e pensamento único, a Direita tinha seu projeto e era incontestável, hoje ela não tem projeto, apenas administra (mal e porcamente) a crise gigantesca, mas ainda não achou um novo cabedal político e ideológico para ancorar.

À esquerda na sua longa crise letargia ainda não forjou um novo paradigma na luta contra o capital, aqueles (trotskistas) que achavam que a revolução se abria não conseguiu encontrar seus “novos/velhos Soviets” nem a Direita achará seu “Estado de Bem estar Social”.

A questão é complexa para os dois lados, buscar teoria já testada é necessário, porém mundo não é o mesmo de 1917 e nem anos pós-guerra. Este é desafio da Direita e o nosso da Esquerda: entender o mundo parece secundário, mas ambos (direita e esquerda) dão respostas com receituário velho para novas doenças. Agora empatamos o jogo, estamos sem armas e certezas absolutas.

Claro que a situação é melhor já não sofremos o massacre político-ideológico destes últimos 20 anos, mas também não nos conforta saber que fomos incapazes de repensar nossos conceitos, nem o velho Marx conseguimos entender. Neste tempo todo não termos feito nada de concreto, alternativo, apenas resistir é muito pouco.

O Brasil e o neoliberalismo

Limitarei a falar sobre o período Lula, pois é mais que evidente que Collor/Itamar e mais ainda FHC abraçaram felizes o Neoliberalismo sem menor divergência com suas diretrizes.

Nenhum projeto político ficou imune a lógica Neoliberal, o do PT de Lula se adaptou a este mundo, mas por uma condição particular de extrema miséria e às doses cavalares do receituário neoliberal aplicados aqui, já se começava a gestar iniciativas tímidas de tentativas de fazer algo diferente à política dominante.

Dois fatores, para mim foram fundamentais:

1)       Diminuição da dependência americana, busca de novos parceiros comerciais;

2)      Rompimento com a política de privatizações, que preservou o Banco do Brasil a CEF e a Petrobras;

Mesmo sob críticas ferozes Lula buscou desde 2003 remar lentamente contra a maré, fez uma excelente política externa coordenada por Celso Amorim, aproximando da China, da África e uma aliança estratégica com a Europa, em particular com a França.

Impulsionou o G20 grupo que passou a ter voz ativa na OMC e fazer frente às demandas dos países centrais de maior exploração dos recursos destas nações e imposição de seus interesses de privatização e invasão de seus produtos.

A segunda política, a de parar as privatizações salvou um pouco do patrimônio público e deu margem de manobra para impulsionar uma política de desenvolvimento incentivado pelo Estado.

A Petrobrás que quase fora privatizada por US$ 3 bilhões em 1999, em janeiro 2003 tinha seu patrimônio em US$ 20 Bilhões, em janeiro de 2010 ela vale US$ 200 Bilhões e movimenta cerca de 10% do PIB, sendo hoje a quarta maior petroleira do mundo. Os ganhos do Pré-Sal podem definitivamente tirar o Brasil da miséria endêmica.

Cenário atual

Direita americana, mais radical é a religiosa, tratam Obama como Bolchevique, podem acreditar, está cada dia mais xenófoba e alguns estados aprovam leis mais restritivas aos imigrantes. Na França Sarkhozi que já estigmatizara os mulçumanos, agora quer deportar em massa os ciganos. Espanha, mesmo governada pelo PSOE, restringe os direitos dos estrangeiros, pois há um desemprego em massa.

No Brasil a esquerda brasileira (PT) ocupou um espectro mais amplo, tomou o centro do PSDB, sobrou apenas a Direita mais raivosa, fundamentalista a eles. Este deslocamento de forças e projetos, ainda não se deu por completo no imaginário popular, PT ainda é identificado como esquerda raivosa, muitos “absorveram” Lula, mas é fato que ainda temem o PT, isto é reforçado por um discurso extremamente preconceituoso de Serra, que afaga a Direita.

Mobilidade do PT rumo ao centro, independe de Lula, foi à realidade que o empurrou ao centro, para ter maior interlocução com outras forças que fazem o jogo político no Brasil, tirando do PSDB a hegemonia na sociedade.

Entender o que estava em jogo é mais importante das tarefas de cada militante e explicar pacientemente a cada um, as questões subjacentes aos grandes debates é que novas e velhas demandas aparecem ou reaparecem com força, mas não podemos nos agarrar a este debate menor e esquecer a luta principal.

Questões como aborto, liberdade de culto, de expressão são temas que cortam a sociedade, mas não poderiam ser o mote de qualquer resposta global às demandas mais prementes do Brasil.

O Significado da vitória de Dilma

É preciso reconhecer o grande gênio político de Lula que conseguiu trazer ao centro político uma Mulher como sua herdeira, que fez a síntese de um governo com grandes acertos histórico, apoio popular e identidade nacional. Governos que recupera a auto-estima o sentido de brasilidade.

Se com Lula tivemos um operário, sem curso superior, de origem extremamente humilde, que chega ao maior cargo do Brasil, com Dilma teremos o ineditismo de termos uma mulher na presidência, descontada a bobagem da Miriam Leitão de falar em Princesa Isabel, claro está que efetivamente, pela via popular e democrática as mulheres efetivamente chegam ao centro do poder nesta eleição.

Dilma traz em si as marcas do Governo Lula, sua participação decisiva já tratei num post que pode ser lido neste link “Presidencialismo à Francesa: Lula Presidente, Dilma Primeira-Ministrahttp://arnobiorocha.wordpress.com/2009/11/23/presidencialismo-a-francesa-lula-presidente-dilma-primeira-ministra/

Agora Dilma fará seu próprio Governo que a meu ver será mais técnico, mais voltada para questões da reorganização do Estado, no seu discurso da vitória ela já aponta as principais diretrizes políticas e econômicas para o novo período.

A carga simbólica desta verdadeira revolução de termos Dilma Presidente é comparável à Obama, um negro, chegar a Casa Branca, fruto de um momento ímpar da história mundial. Brasil tem a chance de ingressar de vez no primeiro mundo, mas entrar pela porta da frente, sem modismos, ocupando seu lugar com força e liderança.

Caminho internacional traçado por Lula será bem percorrido e repisado no Governo Dilma, aprofundando nossos ganhos e projeção no mundo. Lula, acredito, será um embaixador informal do Brasil e dos países mais pobres no novo mundo.

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