Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: (des)União Europeia (Post 133 – 87/2011)

134: Crise 2.0: (des)União Europeia (Post 133 – 87/2011)

 

 

 

“É melhor um final trágico do que uma tragédia sem fim” (mantra dos “mercados”)

 

Semana a semana, temos visto a agonia e o prolongamento da Crise 2.0 sem que possamos ver qualquer solução a curto prazo diante de nós. E, ao contrário da frase predileta acima repetida no “mercado”, estamos longe do fim da tragédia, pois vários finais trágicos foram tentados e nada acontece, apenas mais aguda se torna a grave crise.

Estamos acompanhando atentamente passo a passo o que os governos têm feito, suas ações para debelar a crise, e constatamos que as lições do setembro de 2008 não foram assimiladas corretamente – mesmo com os EUA mergulhados numa espiral de queda, a Zona do Euro vai se utilizando do mesmo remédio: dar dinheiro público e salvar os bancos.

Salvar a Grécia ou os Bancos?

 

 

 

 

O banco Dexia, o principal da Bélgica, o 12º europeu, com ativos de 600 bilhões de euros, tem cerca de 33% de créditos “podres”, ou seja, 180 bilhões de euros. Neste fim de semana, França, Bélgica e Luxemburgo assumiram as operações do Dexia, criando uma “novidade”: um banco “lixo tóxico”, com ativos negativos de 95 bilhões de euros, repartidos assim: 60% do governo belga, 36,5% do francês e 3,5% de Luxemburgo. Apenas para comparar: para “salvar” a Grécia o pacote foi de 158 bilhões de euros, somente com o Dexia se gastarão 95 bilhões. Quem vale mais? Um país com 11,3 milhões de habitantes (Grécia) ou um punhado de banqueiros que se locupletaram?

Celso Ming, do Estadão, escreveu semana passada sobre a situação de salvamento dos bancos europeus, e diz literalmente:

Como tanta coisa nesta crise, o problema começa como se fosse um tantinho, mas logo se transforma em tantão. Os tais 200 bilhões de euros para capitalizar os bancos, como indicou o FMI, levam jeito de ser uma conta destinada apenas para início de conversa. Só o Dexia tinha 180 bilhões de euros em “lixo tóxico”. E, no entanto, o EFSF será dotado de somente 440 bilhões de euros.

Depois candidamente confessa os porquês da demora e das vacilações franco-germânicas:

“Até agora, França e Alemanha relutavam em acudir os bancos, ainda mais às vésperas das eleições. A população tem dificuldade em aceitar que, em tempos tão duros e de dinheiro tão apertado, centenas de bilhões de euros do contribuinte tenham de ser despejados para escorar os bancos. A rapidez com que, apesar disso, a opinião dos dirigentes está mudando é outro indício do tamanho da encrenca.”

 

O que farão Alemanha e França?

 

A crise se aprofunda e já não cabem mais meias medidas: os governos de direita alemão e francês administram uma situação calamitosa, seus países carregam o peso da “farra” dos empréstimos fáceis e da abundância de capital, que circulou amplamente na Zona do Euro.

Os juros baixos financiaram o consumo das famílias, levando a que populações de padrões de vida inferiores, o caso de gregos, portugueses, espanhóis, desfrutassem da boa vida alemã e francesa, como se a conta nunca fosse cobrada. A armadilha foi fatal, o conto do modo de vida igual foi muito bem “vendido”, mas agora vem a fatura.

Os dois principais financiadores da Europa unida têm ante si não apenas o ônus de se salvar, mas também os demais países, pois, não esqueçamos, os bônus da ciranda do consumo, dos serviços e dos bens materiais foram das empresas deles. Culpar aqueles que acreditaram no sonho europeu é o mais simples, mas lembrar de que este amplo consumo favoreceu bancos, indústrias e empresas de serviços, que ganharam muito dinheiro com a farra, ninguém quer.

Este processo de salvar os bancos e a expectativa de que França e Alemanha anunciem medidas duras de mudanças na Zona do Euro caminham para um desfecho político desfavorável à concepção inicial da União Europeia e consolida a versão de uma Europa dominada apenas pelos dois países, o restante a eles submetido de forma irresistível.

As lutas que se alastram pela Europa serão reprimidas pelo consórcio franco-germânico? Um protesto, por exemplo, na Grécia, greve geral convocada para esta semana, quem vai reprimir? A jornada de luta chamada em Portugal, iniciando no dia 15 de outubro, será coibida?

Dependendo de para onde apontem as decisões de França e Alemanha, os destinos da Europa mais do que nunca passam apenas pelos gabinetes de Berlim e Paris. Outros países e governos sucumbiram a uma Europa desunida.

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0 thoughts on “134: Crise 2.0: (des)União Europeia (Post 133 – 87/2011)”

  1. Era só o que nos faltava, os regimes endurecerem na Europa! Já não basta serem burros, têm que ser autoritários também? Coitados dos europeus, que horizonte terrível se apresenta… No sábado alguém comentou que a juventude lá não quer muito, ser mileurista já serve. Não sei o que pensar.

  2. A única certeza que sempre temos em época de crise é que o Estado tem que intervir para salvar o mercado que sempre luta pela intervenção mínima daquele. Pura ironia!
    O Capitalismo é realmente algo absurdo. Primeiro ele vem e vomita todas as facilidades de abertura de crédito e pagamento dessa dívida. Te acostuma a um padrão de vida álém de suas possibilidades e fala que isso é legal e possível de sustentar. Afinal, quem não quer sempre mais? O ser humano é ambicioso, não?
    Pronto, você é um consumista. Pode comprar tudo, pode ter tudo e pode prolongar o pagamto disso ad eternum. Pagando juros, mas só depois.
    O que há de se esperar de uma economia baseada no “depois”, no incerto? Somente quando se cai no abismo das dívidas é que se percebe o quanto isso é perigoso.
    Mas convenhamos que o culpado é aquele que não pagou a sua dívida e não quem o seduziu para contrair uma, duas, três.
    Em uma crise, só quem ganha são os bancos e financiadoras. Pois sempre recebem, afinal eles são as vítimas, certo?

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