Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: de Maastricht a Bruxelas (Post 141 – 95/2011)

142: Crise 2.0: de Maastricht a Bruxelas (Post 141 – 95/2011)

 

 

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Maastricht

 

Sonhos de uma noite de inverno

 

Nas telas dos cinemas mundiais os filmes 1492 – A conquista do paraíso de Ridley Scott e Batman – o retorno, uma versão sombria, gótica, de Tim Burton prendem a atenção dos expectadores, alheios ao que acontece na pequena Maastricht (Holanda), uma cidade milenar encravada entre Alemanha e Bélgica, banhada pelo Rio Maas (Mosa). Lá o mais importante evento europeu dos últimos séculos está se concretizando.

Reunidos em Maastricht os líderes europeus estão assinando o tratado, que além de mudar o nome de Comunidade Europeia para União Europeia, muda as bases de todos os acordos anteriores, iniciados com o tratado de Roma em 1957.

O mundo ocidental vitorioso contra a União Soviética, que fizera uma revolução socialista, mas que ficara incompleta, um misto de capitalismo de estado com regime autoritário, uma antítese do modelo socialista, mas que ficara marcada como socialista. Em agosto de 1991 o último ato se completara da queda as ex-URSS, a deposição de Gorbachev por Boris Yeltsin. No lado europeu a custosa unificação alemã, após a queda do muro de Berlim, também já estava equacionada.

O tratado de Maastricht era a consolidação final deste momento auspicioso tudo era festa e fogos, pelo novo acordo, em 10 anos, seria adotado a nova moeda, substituindo as moedas locais, seus três eixos foram:

1)   Legislação comum: Energia, Ambiente, Saúde, Educação, Agricultura, Telecomunicações, Investigação e Desenvolvimento;

2)   Política Externa e Segurança comum do bloco;

3)   Cooperação Jurídica e policial;

Os padrões adotados para a verdadeira unificação, baseada numa moeda forte, eram os da maior economia, a alemã, mesmo que padecendo dos custos da unificação com a sua parte oriental. Os países determinantes deste novo momento eram: Alemanha, França e Itália. Os compromissos era que todos os membros passassem a desfrutar das vantagens da riqueza e opulência dos maiores. Porém, já em Maastricht o primeiro país a cair fora do acordo foi a Inglaterra,  com o pretexto de não mudar sua moeda, repudiou a futura moeda comum. Interessante notar que a Inglaterra vivia uma situação econômica complicada devido a radical e fracassada experiência ultra liberal de Tatcher, mas empáfia falou mais alto.

Bem vindos ao Clube

Os anos seguintes coincidem com uma ampla circulação de capital pelo mundo, em particular na Europa, países inteiros foram redefinidos em novos padrões de ganhos e de economia, casos clássicos de Espanha e Portugal, cujas economias eram muitos frágeis e distantes do padrão da nova União. Os bancos emprestavam e financiavam os novos sócios, gerando uma riqueza artificial, mas que naquele momento era absolutamente secundário, o importante era que todos tivessem fichas no cassino.

Dos sócios fundadores da União o primeiro a entrar em crise permanente foi a Itália (ver Crise 2. 0 – Itália um case de insucesso ) , os ecos dos anos 70 de ampla disputa política e guerra mafiosas, culminou com a famosa “Mãos Limpas” que varreu os partidos tradicionais em poucos meses, uma nova ordem fundada extremamente frágil abriu flanco para o surgimento do burlesco neofascista, o magnata Berlusconi. A decadência italiana é evidenciada nos seu empobrecimento nos últimos 15 anos.

Enquanto Alemanha e França se tornaram os verdadeiros sócios majoritários da Europa unida, se criou, ainda que não desejado, uma série de países dependentes. Mas a adoção do Euro mascarou a realidade por mais 6 anos, troca simples de moeda injetou um novo ânimo em 2002.

Porém, com a grave crise americana de 2008, a realidade europeia veio à nu, os números de enriquecimento artificial dos países menores tornou claro quando os bancos começam a cobrar a fatura, que em primeiro lugar é devida pelos governos locais, com seus imensos déficits, em segundo das empresas e famílias que se endividaram achando que teriam crédito para sempre no cassino. Esta realidade tem sua maior mostra nos números de desemprego e baixa expectativa de crescimento.

“Favor passar no guichê do Cassino”

Amanhã uma cartada decisiva será jogada em Bruxelas as muitas especulações sobre o que se decidirá estão tomando conta dos jornais, blogs, analistas e políticos. A primeira tentativa de fechar um “plano decisivo” no domingo falhou, um profundo desacordo se estabeleceu e a decisão ficou para dia 26.

As escolhas não são fáceis os números impedem uma decisão “simples” é um jogo de muitas perdas porque falta uma liderança forte e confiável e mais que isto uma política clara que não sacrifique ainda mais a população mais empobrecida, que aponte para o crescimento e criação de empregos. Porém, até agora, o que se aponta, assim como fez os EUA, é salvar os bancos e banqueiros, com a criação de um colchão de salvamento de 2 trilhões de Euros. Até o burlesco premier italiano tripudiou:  “nenhum país da União Europeia deve ousar falar em nome de nenhum governo eleito” e que “ninguém está em posição de dar lições”

Olhando para os números da Zona Euro, está mais do que claro, que não haverá um acordo, sim uma imposição dos mais fortes, ou quebrará em definitivo os sonhos daquele fim de inverno da tão próxima e tão distante  Maastricht.

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