Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Depressão e Democracia?

185: Crise 2.0: Depressão e Democracia?

 

 

 

Como é de conhecimento dos que seguem esta crônica sobre a Crise 2. 0, que o Estadão tem sido fonte recorrente de minhas analise e o motivo é simples – eles fazem o melhor caderno de economia. Além de terem excelentes analistas, com os quais não tenho nenhuma afinidade ideológica, mas que trazem importantes informações ao debate da crise.

Neste sentindo as férias do Celso Ming, me fez muita falta, pois dentre os articulistas é o que tem uma melhor compreensão, burguesa claro, da crise, além de escreve de forma simples e objetiva. Hoje retornou em grande estilo, tratando de um tema, que já escrevi( Crise 2.0: Capitalismo vs. Democracia ), mas que precisa mais debates e visões: A questão da Democracia.

Depressão

 

 

Ming, parte do artigo de Paul Krugman (minha outra referência nesta série)  no New York Times “Depression and Democracy” cujo cerne é sua visão de que para além da crise, o que vivemos hoje é uma situação análoga à 29, uma Depressão Economica, inclusive com avanços nazifascista.

“O Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, escreveu no New York Times que é preciso perder ilusões e dar às coisas o nome correto: “Estamos em depressão” – avisou.

Quando se fala em depressão econômica, a referência é o que aconteceu nos anos 30 em escala mundial, especialmente nos Estados Unidos: profunda paradeira, estancamento do comércio mundial, alto desemprego, quebradeira nos negócios e pânico generalizado”.

 

Porém, segundo Ming, não se pode ainda chegar a esta conclusão de que há uma depressão pois  “Mas há fatores que parecem justificar a relutância em chamar de depressão o que acontece hoje. As bolsas de valores, por exemplo, estão, sim, em relativo estancamento, mas mantêm-se longe de um crash generalizado – como o dos anos 30. Salvo em alguns momentos muito particulares – como durante a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008 –, não há pânico nos mercados. O comércio mundial está recuando, mas não é uma catástrofe. Os preços das matérias-primas (principalmente das commodities) seguem relativamente altos. Os grandes bancos centrais podem não estar fazendo tudo o que está a seu alcance para reverter a situação, mas vêm atuando como não fizeram nos anos 30. E também não se registram quebras em cadeia de empresas, em parte, porque os Tesouros nacionais também têm agido.

Provavelmente, o fator que parece diferenciar definitivamente o panorama de hoje do prevalecente na década de 1930 é o bom desempenho das economias emergentes da Ásia, com destaque para China e Índia. Naquele período, o maior país emergente eram os Estados Unidos, que estavam prostrados. Desta vez, as economias em desenvolvimento (e o Brasil continua lhes fazendo companhia) mostram surpreendente grau de imunidade à peste”.

As visões mais catastróficas da crise ainda não se cumpriram inteiramente no estilo de 1929, com a grande Depressão, aí apontando que os emergentes de hoje, não foram abalados pela crise do centro capitalista. Mas não custa lembrar que se as torneiras dos financiamentos do mercado mundial fecharem o ambiente piorará sensivelmente.

 

A Democracia sob risco

 

Do outro lado, a questão da Democracia sob risco, aliás, é o titulo da coluna dele, ele parece concordar com os argumentos de krugman. Aponta assim a questão:

“Krugman está preocupado sobretudo com o acirramento das tendências autoritárias na Europa, em boa dose, decorrente do desvanecimento do sonho de um continente unificado.

Não há um Hitler a caminho, admite o economista. No entanto, partidos de extrema direita ganham repentino respaldo político com as massas desempregadas e espalham discursos xenófobos por toda a Europa, com maior intensidade na Áustria, na Finlândia e na Hungria”.

Termina apontando para o centro do problema, que numa crise vertiginosa destas os países endividados, seus estados falidos, são obrigados a abrir mão de sua soberania e aceitarem mais “sacrifícios” o que realmente pode levar a uma viagem sem volta, nas palavras dele:

“Paira no ar outra síndrome politicamente desintegradora, não mencionada por Krugman. Trata-se do atual endividamento insuportável dos Estados soberanos da Europa cujo tratamento está exigindo mais austeridade e sacrifícios e menos crescimento econômico. A enorme dívida imposta à Alemanha pelo Tratado de Paz de Versalhes (1919) foi justamente o caldo de cultura que gerou o nazismo e tudo o que veio com ele. O maior risco vai por aí”.

Quanto mais se restringe a democracia, mais se cria situação propícia aos extremistas de Direita, a própria “solução” de impor tecnocratas não eleitos para dirigirem a Crise na Itália e Grécia é um indício de ruptura com a Democracia formal burguesa.

O teatro pede mais ação e suspense…

 

 

 

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0 thoughts on “185: Crise 2.0: Depressão e Democracia?”

  1. Como vemos, você esteve na frente dos dois o tempo todo. Essa preocupação a gente já discute aqui há tempos. Claro que quando chamo a Merkel de der Führer não uero dizer que seja o novo Hitler — não invadiu a Polônia nem nada, hehehe –, mas está fazendo coisas perigosas, impondo humilhações dolorosas e acirrando ódios. Tenho medo dela e da arrogância dela.

  2. Sabe, Arnobio, pra mim não é o fato da onda da direita surgir em tempos de crise que me preocupa. O que me deixa preocupada é o que a esquerda fez quando esteve lá no poder? Como é que se pensa e se prepara uma economia de esquerda?

    Quero trazer aqui pra você e pros seus leitores um texto curto do Eduardo Galeano, escrito em 1991 (pra você ver como é atual!), sobre o poder “invisível” que está na mão dos “banqueiros”. Só não vale dizer que o Galeano é psolista, tá? rsrsrsrs Veja se não é atual:

    A vida profissional / 3

    “Os banqueiros da grande bancaria do mundo, que praticam o terrorismo do dinheiro, podem mais que os reis e os marechais e mais que o próprio Papa de Roma. Eles jamais sujam as mãos. Não matam ninguém: se limitam a aplaudir o espetáculo.

    Seus funcionários, os tecnocratas internacionais, mandam em nossos países: eles não são presidentes, nem ministros, nem foram eleitos em nenhuma eleição, mas decidem o nível dos salários e do gasto público, os investimentos e desinvestimentos, os preços, os impostos, os lucros, os subsídios, a hora do nascer do sol e a freqüência das chuvas.

    Não cuidam, em troca, dos cárceres, nem das câmaras de tormento, nem dos campos de concentração, nem dos centros de extermínio, embora nesses lugares ocorram as inevitáveis conseqüências de seus atos.

    Os tecnocratas reivindicam o privilégio da irresponsabilidade:

    — Somos neutros — dizem”.

    To espalhando esse texto nos artigos de economia que leio por aí porque acho que o Eduardo Galeano está atual demais pro meu gosto…
    A a ideia de que as pessoas de poder financeiro terem mais poder do que as democracias representantivas já é antiga dentro da esquerda, já poderíamos ter pensado em algo pra contrabalançar esse poder…

    Como escreveu o Boaventura, “A direita tem à sua disposição todos os intelectuais orgânicos do capital financeiro, das associações empresariais, das instituições multilaterais, dos think tanks, dos lobbistas, os quais lhe fornecem diariamente dados e interpretações que não são sempre faltos de rigor e sempre interpretam a realidade de modo a levar a água ao seu moinho. Pelo contrário, as esquerdas estão desprovidas de instrumentos de reflexão abertos aos não militantes e, internamente, a reflexão segue a linha estéril das facções”.

    http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5356

    Ufa! Era isso que eu queria desabafar.

    Abraços,

    Amanda

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