Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: A Nova Tragédia Grega

209: Crise 2.0: A Nova Tragédia Grega

 

 

Moradores de rua em Atenas: Até mesmo alguns clérigos são dependentes de doações de caridade

Moradores de rua em Atenas: Até mesmo alguns clérigos são dependentes de doações de caridade (Foto Der Spiegel)

 

 

“Brandindo seu archote, o deus maléfico da peste devasta a cidade e dizima a raça de Cadmo; e o sombrio Hades se enche com os nossos gemidos e gritos de dor”. (Édipo Rei – Sófocles)

 


Toda vez que tratei da Grécia nesta série sobre a Crise 2. 0, fi-lo com uma certa dor no peito, pela imensa afinidade com aquele povo, quase mítico, que tanto fez pela sociedade ocidental. Quando leio as notícias catastrófica que hoje atinge a a Grécia viajo ao passado e parece que as tragédias gregas estão de volta, mas não seus poetas, pelo menos não conheci nenhum novo que as descreva.

Na última semana o New York Times fez uma reportagem, traduzida pelo Estadão ( Crise leva gregos ao passado agrícola ), sobre os gregos que abandonam as cidades e volta ao campo, ou ao mar. A matéria é crua, para não dizer cruel, com o estado de coisas de lá. Jovens desesperados e assolados pelo desemprego só encontram duas saídas dignas: Ir embora ao exterior ou voltar para o campo e viver de subsistência, agricultura familiar, em exíguos pedaços de terra.

“Nikos Gavalas e Alexandra Tricha, de 31 anos, formados em agronomia, estavam frustrados trabalhando por um mísero salários em Atenas, onde os empregos são escassos e o custo de vida é alto. Assim, no ano passado, decidiram iniciar um novo projeto: criar escargots comestíveis.

À medida que a economia da Grécia mergulha cada vez mais no abismo, o casal veio se juntar ao êxodo de gregos que estão fugindo para o campo e vendo o rico passado rural do país como o guia para o futuro. Eles admitem que esta é uma empreitada peculiar, com mais trabalho manual que eles, como universitários formados, jamais pensaram em realizar. Mas num país onde as pessoas estão passando fome por causa das medidas de austeridade, mesmo que um calote esteja próximo, essa parece uma boa aposta”.

Os dois primeiros parágrafos já dão ao noção do tipo de tragédia humana. As pessoas pessoas estão passando fome, há cerca de 50 mil sem tetos em Atenas, 25 mil moradias foram retomadas pelos bancos devido a inadimplência. O Natal grego houve queda de 25% nas compras comparadas, com as já ruins,  do ano de 2010. Uma situação desesperadora. Nada lembra dos primeiros anos da entrada do Euro.

“O desemprego na Grécia atingiu 18%, chegando a 35% entre os jovens entre idade de 15 e 19 anos – um grande aumento frente aos 12% e 24% no final de 2010. Mas o setor agrícola é um dos poucos a registrar alguns ganhos desde o início da crise, com um aumento de 32 mil postos de trabalho entre 2008 e 2010 – a maior parte ocupada por gregos e não por trabalhadores estrangeiros, segundo um estudo divulgado pela Confederação Pan-helênica das Associações Agrícolas”.

Esta saída ao campo é uma das poucas possibilidades de se viver com dignidade, num dos trechos um jovem acadêmico diz que ao fazer entrevistas era melhor negar grande formação, pois a qualificação não era bem vista, pois os salários oferecidos, em tese, seria incompatível com qualquer especialização. Aqui mesmo no Brasil, conheci um amigo grego, que era Doutor, chegou dar aulas na Alemanha, mas veio ser engenheiro comum numa empresa chinesa. E estava feliz, pois a maioria dos parentes encontram-se desempregados ou sub-empregados lá.

 

Sem Saídas

Mesmo com tanta miséria o primeiro ministro biônico, representante do Goldman Sachs, ameaça com mais arrocho, uma reportagem da Der Spiegel, revista alemã, dá conta do temor do país pela visita que a “Troika” ( FMI, BCE e Comissão da UE) fará aos país. Eles mostram a situação de abandono, mesmo os padres da igreja ortodoxa, que recebem salários do estado, tiveram cortes radicais, para algo como 500 Euros. A maioria da empresas aproveitou a crise e os cortes gerais e promoveu corte não só de pessoal, mas também de salários em torno de 20%.

As lojas estão com promoções permanentes de descontos por volta de 70% (alguém lembrou de queima de Forças Produtivas), nem assim atraem clientes. A confiança do consumidor que era tinha índice 102 em 2009, caiu para 46,9 em dezembro de 2011. O medo maior é que novas medidas provoquem um colapso total da Grécia, provocando uma desagregação social sem precedentes.

Segundo o EuroNews “O número de suicídios aumenta em toda a Europa. Na Grécia aumentou para 40% no primeiro semestre de 2011, relativamente ao ano anterior”. Triste ver tudo isto acontecendo com a Grécia…2500 anos de tragédia…

 

 

 

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0 thoughts on “209: Crise 2.0: A Nova Tragédia Grega”

  1. Por que será que a crise na Grécia me lembra o Brasil há 10 anos atrás? Já passamos por isso, já sofremos esta dor. É uma péssima situação financeira por causa da igualmente péssima política. Hoje a Grécia parece o Brasil de outrora, entretanto não sabemos por quanto tempo…

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