275: Caos

 

 

Muitas vezes repetimos a frase: “Minha vida está um Caos“, ora, nem percebemos a dimensão exata de tão forte afirmação, o real significa do que é o Caos. Como sou um curioso sobre a Grécia, quando li a primeira vez a Teogonia, do poeta de Ascra, Hesíodo, logo me chamou a atenção os verso iniciais do canto, após a evocação às musas:

“Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também

Terra de amplo seio”…

 

Ou seja o Caos é a primeira divindade que surge no panteão grego, depois repetido no romano, mas, mais além deles, está presente na cosmogonia do Egito, da Índia e da China. Sem esquecermos que na Bíblia e no Torá o Caos(Tohu) também está presente. Numa passagem longa e esclarecedora, Junito de Sousa Brandão, nos leva às diversas culturas e religiões em que o Caos é a força primeva.

 

Leiamos o grande mestre:

 

“CAOS — No princípio era o Caos. Caos, em grego χάος  (Kháos), do v. χαίνειν (khaínein), abrir-se, entreabrir-se, significa abismo insondável. Ovídio chamou-o rudis indigestaque moles (Met. 1,7), massa informe e confusa. Consoante Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, o Caos é “a personificação do vazio primordial, anterior à criação, quando a ordem ainda não havia sido imposta aos elementos do mundo”. No Gênesis 1,2, diz o texto sagrado:

“A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”. Trata-se do Caos primordial, antes da criação do mundo, realizada por Javé, a partir do nada. Na cosmogonia egípcia, o Caos é uma energia poderosa do mundo informe e não ordenado, que cinge a criação ordenada, como o oceano circula a terra. Existia antes da criação e coexiste com o mundo formal, envolvendo-o como uma imensa e inexaurível reserva de energias, nas quais se dissolverão as formas nos fins dos tempos. Na tradição chinesa, o Caos é o espaço homogêneo, anterior à divisão em quatro horizontes, que equivale à criação do mundo. Esta divisão marca a passagem ao diferenciado e a possibilidade de orientação, constituindo-se na base de toda a organização do cosmo. Estar desorientado é entrar no Caos, de onde não se pode sair, a não ser pela intervenção de um pensamento ativo, que atua energeticamente no elemento primordial”.

 

O Caos, hoje e no passado, é símbolo da desorientação, de perder a noção de “realidade”, ficar em suspenso, sem ter como sair, uma espécie de volta à estaca Zero. Somente se sairá do Caos quando uma grande força, física ou psicológica, te toma e voltamos ao prumo. A força criativa do Caos e a enorme energia produzida ou vinda dele, que seja interna ou externa, leva à  grandes feitos, elaborações, arroubos artísticos e filosóficos.

 

O que parecia algo francamente negativo, pode se transformar em força libertadora, construtiva, destruindo barreiras e tabus, tornando a pessoa ou a sociedade, totalmente diferente do estágio anterior. O Caos é necessário para “bagunçar” nossas certezas, gerar novas dúvidas e reafirmar o novo. Viva o Caos!!!

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0 thoughts on “275: Caos”

  1. Então está explicado, porque eu sou uma metamorfose ambulante, bem ao estilo raul seixista: toda vez que sinto a ação do caos, logo em seguida ocorrem mudanças tanto nas minhas certezas, quanto nas minhas ações…O problema é que, por vezes, as dúvidas persistem um pouco mais do que deveriam persistir e as incertezas me levam a longas e caóticas reflexões, mas no final tudo fica bem.
    Gostei da explicação, Arnóbio.

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