Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Panorama Geral

302: Crise 2.0: Panorama Geral

 

Conforme constatamos nesta série Crise 2. 0 o ápice do ciclo do Capital, nos EUA, foi em 2005, por volta de julho daquele ano, todas as forças produtivas tinham seu auge, o emprego era “pleno”, com 4,9% de desemprego, os salários em seu pico, mas principalmente o mercado imobiliário atingia o seu maior “Valor”, o conjunto de preços de imóveis das maiores cidades estava no ponto máximo.

 

No conceito de Marx de que a Crise se dá no pico, jamais na queda, da economia, pois para ele a Crise é de superprodução de Capital, não de escassez, ou de consumo, estas crises são do início do século XIX, porém desde de 1846 não se dá mais por estes fenômenos. As crises como a longa de 1873, já é num patamar superior, afastando assim de qualquer causa periférica como uma má colheita, ou seca, ou muita chuva. A Crise passa a ser “industrial”, no seio do capitalismo, rompendo com as amarras agrárias.

 

EUA

 

Importante também notar que a Crise, para maioria de nós, só é sentida quando sentimos seus efeitos, em regra, um ou dois anos depois de quando efetivamente ocorreu, neste caso em particular, apenas em 2007, mais ainda em 2008, é que o “mundo” foi apresentado à crise americana. A queda acentuada de 2008, em números gerais, pode ser vista apenas como o PIB americano tendo sido igual ao do ano anterior e menor em 2009( em trilhões de US $)

 

2007 13,2
2008 13,2
2009 12,7
2010 13,1
2011 13,3

Apenas em 2011 os EUA retomam os valores do PIB de 2007, neste período houve um recuo geral de emprego, salários e valores imobiliários. O Desemprego bateu em 9,1%, a massa salarial recuou em 15%, o número de usuários do stamp foods passou de 32 milhões em 2005 para 46 milhões em 2011. O conjunto de valores das casas e imóveis caiu em torno de 25%. Estas são as expressões do que Marx chama de queima de Forças Produtivas.

 

Agora visto do ponto de vista do capital, nas palavras do Falcão Democrata, Larry Summers, sobre a atual retomada da Economia dos EUA:

“já por algum tempo, o crescimento do emprego vem acontecendo bem acima da expansão da população. O nível das cotações do mercado acionário é maior e sua volatilidade é a menor desde 2007, indicando que se reduziram as incertezas no mundo dos negócios. Consumidores que adiaram a compra de automóveis e outros bens duráveis criaram uma demanda reprimida que agora parece emergir. Até que enfim, o mercado de imóveis residenciais se estabiliza. Por anos, o ritmo de constituição de novas famílias tem ficado abaixo do normal e mais jovens passaram a morar com os seus pais. Em algum momento, eles vão se estabelecer, criando um círculo virtuoso constituído de um mercado de imóveis mais forte, mais “formação de famílias” que impulsiona a demanda, melhoras adicionais nas condições de habitação e assim por diante. Além disso, se não houver uma regulação punitiva, as inovações na tecnologia de informação, as redes sociais e as novas descobertas de petróleo e gás natural parecem ser fontes de investimento e criação de empregos”.

Depois pontua:

“mesmo que a economia crie 300 mil empregos por mês e cresça ao ritmo anual de 4%, muitos anos serão requeridos para que se restabeleça a normalidade. Assim, uma virada rumo ao tipo de políticas apropriadas em tempos normais seria muito prematura”.

 

Zona do Euro

 

A retomada é lenta, o outro grande mercado mundial, a Europa, teve uma pequena assincronia com o ciclo econômico dos EUA, enquanto a crise lá inicia entre meados de 2005 e início de 2006, a Zona do Euro, mesmo sentindo os efeitos da queda em 2007/2008 dos EUA, efetivamente terá justamente em 2008/2009 o auge, sendo a Alemanha o a força motriz, mesmo nos anos de 2010/2011 se manteve em crescimento, só agora entra em queda.

 

A economia da Zona do Euro, mas especificamente sua periferia: Grécia, Portugal e Espanha, começam a ter sérias dificuldades em 2010 e entram em queda livre durante 2011, arrastam para o olho do furacão a terceira economia da Zona do Euro, a Itália. O projeto “comum” do Euro não avançou na integração produtiva, a Alemanha com seu padrão tecnológico, melhor formação, fez um ampla reforma produtiva no início dos anos 2000, então ficou numa situação mais confortável. Além de seu poder econômico, que já era superior aos demais.

 

A Crise na Europa, vais muito além dos desequilíbrios fiscais, as relações de dívida x PIB, o que se tem de fundo é uma profunda diferença entre os padrões produtivos e de consumo, que se tentou resolver de forma “monetária” com a adoção do Euro, o que parecia uma solução, virou um pesadelo, os últimos dados de emprego são chocantes, mostram a realidade da crise em sua forma mais aguda e as distorções entre os países. Enquanto a Alemanha mantém uma taxa de desemprego em 7% a Espanha chegou aos 23,8%, Portugal 15% e Grécia 21%(dez/2011).

 

As propostas radicais dos governos tecnocratas de Espanha, Itália e Portugal de literalmente acabar com qualquer direito social, neste momento só tem piorado o ambiente econômico. Espanha aprovou todo o pacote radical de ajustes do Governo da Direita, enfrentou uma greve geral com muitos distúrbios, prisões e feridos. Mesmo assim se discute um pacote de salvamento emergencial de 200 bilhões de Euros.

 

BRICS

 

Os países que formam os BRICS( Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) por mais que tenham sobrevivido a atual crise, não estão imunes, recentemente se reuniram na Índia, buscando uma maior convergência de ações e intercâmbio, para que possam, de forma mais efetiva, protegerem suas economias e manter o crescimento econômico dos últimos anos.

 

O ambiente geral é complicado, se em 2007/2008 os EUA caíram economicamente, mas a Zona do Euro se manteve, com um detalhe a mais, a Zona do Euro é a maior financiadora da China, cerca de 25% do investimentos gerais, 15% do Brasil. Com a Crise de 2011 houve um fechamento de torneiras dos financiamentos externos, tão essenciais a estes países, devido a baixa poupança interna.

 

As duas políticas acertadas neste recente encontro são: 1) No comércio entre os BRICS, usar as próprias moedas; 2) Criar um banco de investimento do grupo; São
medidas que dinamizam o comércio entre estes países, pois em parte não se precisa usar Dólar/Euro nas transações. O banco comum ajuda na questão de financiamento, diminuindo a dependência e do humor do mercado mundial.

 

Além disto os BRICS se unem contra a chuva de trilhões imposta pelos EUA(FED) e UE(BCE) que incentiva a especulação com as moedas locais, impondo sua valorização, causando um desequilíbrio das contas e tornando os produtos destes países mais “baratos” diante da produção local. O fluxo de capital com caráter especulativo desarruma as contas públicas de países como o Brasil.

 

Na próxima semana, a Presidenta Dilma, irá aos EUA, falar não apenas em nome do  Brasil, mas com tarefas bem definidas pelos BRICS, consolidando não apenas sua lideranças, mas principalmente o estreitamento dos laços deste grupo, que vai se tornando, mesmo com suas disparidades, uma alternativa aos EUA e UE. A Crise ajudou muito este momento dos BRICS, cabe a ele, saber melhor usar.

 

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0 thoughts on “302: Crise 2.0: Panorama Geral”

  1. Além da abordagem marxista, um dos aspectos que mais enriquecem suas análises, caro Arnobio, é o destaque reservado aos BRICS. Abraço!

  2. Suas análises, são claras, eu como leiga, aprendo muito. Sua série 2.0 foi ótima, aprendi mais do que lendo os grandes jornalões. Obrigada viu.

  3. Continuo com medo dessa chuva de trilhões, o tsunami financeiro. De qualquer modo, acho que nosso crescimento e, espero, desenvolvimento sejam sustentáveis mesmo!

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