367: Dos Blogs

 

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Este blogueiro procura escrever, pensar e agir com alguma coerência, tanto aqui no blog, como nas redes sociais que participo, notadamente o Twitter e Facebook, confesso, não é tarefa fácil. O que vejo, não condeno, mas também não compactuo, é uma geleia geral, os temas vão surgindo, e as pessoas e teses se misturando, o que no mínimo demonstra uma incoerência, em alguns casos, um oportunismo, bem característico desta época de desarme ideológico.

 

As situações e pressões por respostas a cada tema novo ou velho, fez dos blogs – e blogueiros – uma espécie de âncora, comentarista da realidade, mas se cria um problema, a maioria de nós não tem efetivamente como responder a demandas tão grandes, trabalhamos em outras atividades, o blog é apenas uma atividade paralela, não sendo fonte de recurso para a gama imensa dos  que escrevem, apenas por prazer e vontade de intervir no mundo. Os blogs são uma resposta simples, mas não tão elaboradas que cada um tem de contribuir com a conjuntura.

 

O tema ou os temas que os blogs trabalham são muito amplos, impossível pensar em atuação única, ou tentar pautar o que pensam e escrevem os blogueiros. Mas, também, é claro que há franjas de temas que são comuns, que faz parte de uma gama mais restrita de blogs, em particular a questão política do mundo em geral e do Brasil em particular. A busca de respostas e debates, saiu das colunas de jornais e ganhou no mundo virtual o ambiente mais apropriado, pois tem uma questão fundamental, que lá não se tem, o espaço para o contraditório. No passado, bem remoto, ainda se conseguia pequenos espaços nos jornais, que dão o combate diário, à linha editorial, pós-muro de Berlim, nem isto se tem mais. É pensamento único e ponto.

 

O sucesso dos blogs, em especial os  que travam este embate político, no primeiro momento dentro do próprio blog, depois a explosão das redes sociais (Orkut,Twitter, facebook) , fez com  que amplificasse o alcance destes textos, o que objetivamente pôs em xeque a grande mídia,  o que ela pensava dominar a cena política. Esta linha de pensamento único, sem qualquer contraditório, ruiu em poucos anos, mas também apresenta problemas,  não são apenas flores, os limites, até físicos, de elaboração e profissionalismo cobra alto preço aos blogueiros, sobreviver não é fácil, poucos os que conseguem linhas de financiamento da atividade.

 

Pelo últimos números, os blogs tem já hoje, no Brasil, 25% da audiência da grande mídia em seus portais, que são esquema pesado de grana e propaganda, são retroalimentados por suas matrizes tradicionais, com seus patrocinadores, tanto público quanto privados. Pressionam fortemente quando qualquer blogueiro consegue um patrocínio, mesmo que o blog tenha grande audiência. Os mesmo que defendem a liberdade de imprensa, de expressão, lutam contra quem a quer exercer, sem depender da estrutura da mídia tradicional, em pouco tempo nossa atividade vai ser mais criminalizada do que já é, pois começa a ter visibilidade e atrair, poucos, anunciantes.

 

Mas, mesmo entre nós, enfrentamos problemas, não de posicionamentos políticos, o que é muito bom que seja o mais amplo possível, mas a atuação conjunta, principalmente a solidariedade entre nós, o compartilhamento de elaborações, a divulgação dos trabalhos, em particular do blogs menores, percebo que há uma hierarquização de blogs e blogueiros, o que acaba prejudicando que se amplie mais o espaço e crescimento geral dos blogs. Raramente se procura ampliar e dá conhecimento mais amplo aos trabalhos que não sejam dos blogs maiores, até os RTs das redes sociais são condicionados a apenas divulgar os grandes, uma incoerência, enfim.

 

Outro aspecto é a capacidade de elaboração, de criar, ampliar os temas, vivemos ainda muito ao sabor do que vem da grande mídia, maioria de nós é pautado por ela. Muitos apenas reproduz os textos que lá são publicados, muitas vezes sem nem três linhas de crítica, isto mata a atividade intelectual, a crítica alternativa ao pensamento único, aceitar migalhas de matérias que nos interessa, reproduzindo-as sem a devida crítica. O que amplia a influência da grande mídia ou dos grandes blogs, não servindo para que mais vozes surjam e participe dos debates.

 

Os encontros de blogs acabam refletindo esta realidade, priorizando figuras carimbadas, parece que há um grupo de especialistas tão especiais, que qualquer outro não serve, reforçando assim a hierarquia, os grupos já estabelecidos, pouco diferindo de como age a grande mídia. Ainda somos novos, podemos mudar, erramos, mesmo com as melhores intenções, mas persistir no mais do mesmo, é aceitar a realidade como ela é. Podemos ser mais criativos e mais democráticos do que os outros, um pequenos esforço de mudar o foco, talvez ajude.

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0 thoughts on “367: Dos Blogs”

  1. Repete-se assim as práticas condenadas.
    Não tenho muita paciência para discussão virtual, mas é impressionante como não se pode pensar diferente sem ganhar um rótulo.
    Acho incrível como nas redes sociais são criticadas à exaustão alguns veículos de informação, porém quando conveniente politicamente suas matérias são citadas sem nenhum constrangimento. Ora bolas, então não se rotule de “maldita”, critique-se ou elogie-se, ao sabor da opinião, como deve ser.
    Abomino generalizações. Veículo (ou partido, ou candidato) A é bom e B é mau, isso é muito pequeno. Critique-se, mas não generalize-se.
    Um dia volto a falar mais.
    :)

  2. Arnobio, esta postagem é uma análise muito importante e necessária. Muito obrigado por compartilhá-la conosco. Repercutirei.

  3. Pois é, Arnóbio, esta foi a questão que levantei já no primeiro BlogProg, no GT que participei. Apesar dos aplausos por levantar a questão, caras e bocas tortas de outros.

    O que está ocorrendo é apenas uma transferência de poder e não a socialização que se pretendia, ficando apenas a retórica.

    É perceptível que há uma certo ‘horror”, por parte de alguns, quando uma informação, seja ela reproduzida ou produzida num blog ganha alguns RTs a mais, porém jamais de um “grande blogueiro” e menos ainda a reprodução com os devidos créditos.

    Muitos se aproveitam das informações repassadas, que demandou grande trabalho de pesquisa e leitura, postam em seus blogs sem dar o devido crédito (afinal os artigos estão na internet, qualquer um pode acessar, não é mesmo? porque teria sido justo do seu blog?)

    Medo de “perder” posição ou ter que dividir verba publicitária para manutenção do blog, afinal quem é você?!

    A disputa desta mesma verba, ocorre também com as TVs comunitárias, tema este que não é considerado pela mídia alternativa, assim como o desejo de muitos esquerdistas de acabar com “A Voz do Brasil”, TV Brasil e TVs Estatais que poderiam ser a chave para acabar com os oligopólios no país e o pensamento hegemônico.O partidarismo ou nega ou quer tomar para si ou privilegia seus pares com estes veículos de informação, transformando-os em palanques eleitoreiros. Vergonhoso!

    Mais dos mesmo para os mesmos!

  4. Eu sempre leio seu blog. Às vezes comento, às vezes não, ou pq não tenho o que dizer de novo, ou pq demoro a refletir sobre o assunto e o momento passa. Gosto de seu blog justamente pq seu raciocínio é original, fruto de visível esforço de pesquisa, seus temas me interessam pq não ficam na discussão partidária cotidiana. Você tem lado mas não impõe suas percepções numa “militância” permanente, se é que vc me entende. Contudo, não sou blogueira e jamais serei. Confesso que tentei me juntar, como tuiteira, a um blogprog, fui a uma reunião anual de blogprogs e desisti. Nunca mais. Acho as palestras e “debates” inúteis, quase tão inúteis quanto conferências ou encontros anuais de sociólogos (minha profissão). Aprende-se muito pouco para tempo demais de falação dos mesmos de fala mais fácil para dizerem as mesmas coisas de sempre, e logo se cria uma hierarquia das palestras “mais concorridas” e inúteis tanto quanto as outras. As conversas no café ou no jantar é que são o quente desses encontros. Ali se trocam “alianças”, apoios, e se criam “prestígios” e lideranças. Isso é fazer política, no meu caso política profissional, no caso dos blogueiras, política blogueira.Como não sou blogueira, tô fora. Pra dizer a verdade, com duas ou três exceções de blogs de “sucesso” (muitos acessos, que criam debates de grande repercussão, às vezes polêmicas de intenções claramente marqueteiras ou para chamar atenção para o blogueiro ou o blog), e que, ademais, apresentam assiduamente conteúdos originais, são de fato bem informados e influem na grande mídia ou na imprensalona, os demais não me interessam, slavo qdo leio no Twitter que há uma post interessante; os demais não acompanho regularmente. Entre os primeiros cito o Nassif, de quem posso ou não discordar como ser que se deseja pensante como sou. Outros, às vezes leio, muitas vezes não. Há sites informativos ou opinativos que me parecem importantes, e que frequento diariamente, como o Carta Maior, o Outras Palavras. Fato é que 2 desses blogs (o terceiro é o seu) são feitos por jornalistas não ligados a grandes portais e que têm uma infra-estrutura de empresa. Acho que é bom pensar sobre isso; por que jornalistas que se organizam em bases empresariais independentes da imprensalona, produzem conteúdos próprios de relevo? Na verdade, fora estes, acho que o que incomoda e mais influi na midia corporativa é o Twitter. Tenho visto que a imprensalona reage mais fortemente e mais frequentemente ao que sai nos tuítes do que aos comentários de muitos blogues. No entanto, tuiteiros não têm voz ou muito pouca nos encontros de blogprogs. Não sei explicar. Aliás, o que escrevi acima é tudo impressão minha. Releve a espontaneidade. Abs

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