Arnobio Rocha Política A "loucura" dos grandes

401: A "loucura" dos grandes

De uma representação de Hamlet, pela Saratoga Shakespeare Company

“O olho da inteligência um argueiro o turva”. (Hamlet – W. Shakespeare)

Por tantas vezes escrevi sobre Hamlet, a mais importante obra de Shakespeare, ou até da língua inglesa. Mas acredito que nunca vai se esgotar, dali saí sempre novas e reparadoras lições para alma, para nossa vida. A leitura da obra pode ser feita das mais diversas maneiras, assim como a sua apresentação no palco, na rua, no cinema, simplesmente não se esgota, cada vez se abre uma nova e mais sensacional perspectiva. Das mais de vinte vezes que li, a sensação é de que é a primeira vez.

Mas a introdução é apenas para lembrar que uma possível leitura é sobre o viés da Loucura, mas não qualquer uma, mas a que atormenta o Poder, que advém dele, que aprisiona ou amedronta quem lhe cerca. Muitas vezes pode ser na paranoia de enxergar inimigos em todo lugar e pessoa, típica de ditadores, como Stalin, que dizimou toda a sua geração de grandes revolucionários russos, assim como a outra que se seguiu. Qualquer um representava perigo, risco para sua necessidade de mais poder.

Espalhada pelo livro, vimos como Cláudio e seu primeiro-ministro Polônio, cercam Hamlet e lógico, como era muito delicada a questão, melhor alegar que ele foi acometido de Loucura, acompanhe o que diz o Polônio, absolutamente maravilhado com as peripécias e discursos filosóficos do príncipe:

Polônio

“Apesar de ser loucura, revela método. […] Como são agudas, não raro, as suas respostas! É uma felicidade da loucura, algumas vezes, felicidade que a razão e o bom senso não alcançam com a mesma facilidade”.

 

Do lado do Rei, pressente o risco e o perigo de alguém tão popular e, nobre,  passar-se por louco, mais ainda revelar seus crimes terríveis, para Cláudio, não há nada de poético, na aparente Loucura, mas apenas um jogo de alto risco, que pode lhe derrubar, não havendo porque dar mais espaço, se por um lado é bom alimentar que a loucura o tomou, por outro é preciso frear, antes que lhe seja fatal:

Claudio

“Na alma dele algo a melancolia está chocando; e não duvido que o produto possa causar algum perigo, que é preciso prevenir. […] É sempre ousada a loucura dos grandes não vigiada”.

 

Ora, Hamlet, joga bem, enfrenta seus demônios, a loucura é uma grande máscara, para que através dela possa falar as verdades que possam lhe libertar da opressão e ódio que lhe consume. A intensa trama, a combinação de real/imaginário, o próprio Hamlet mostra seu método de ação:

Hamlet

“A loucura acerta; nunca os sentidos ficam subjugados pela paixão, a ponto de falharem totalmente na escolha”.

 

Bem mais à frente, o jovem príncipe, já sem mais qualquer saída, revela plenamente o que é sua “loucura”, desmascarando seus inimigos, para que saibam quem realmente é “louco”, como segue.

Hamlet falando à Laertes :

“Tudo o que fiz, que a vossa natureza por ventura ofendesse, e a honra e o caráter, proclamo-o: foi loucura. Foi Hamlet que a Laertes magoou? Jamais. Se Hamlet de si mesmo se abstrai e, sem ser ele,causa a Laertes uma ofensa, Hamlet não foi o causador, pode afirmá-lo. Quem foi, então? Sua loucura. Logo, Hamlet está do lado do ofendido; seu maior inimigo é a própria doença. Deixai, senhor,que, em face dos presentes, o franco renegar de maus intentos me absolva ante vossa alma generosa”.

Neste últimos dias, um personagem da república, Senhor Gilmar Mendes, saiu como se “louco” fosse, mas, ao contrário de Hamlet, com fins pouco nobres, apenas encobrir suas diatribes, seu comportamento desproporcional ao que o cargo lhe impõe. Esquecendo-se juiz, que é seu mais alto cargo, virou parte, tomou partido na contenda, desqualificou a si e a seus pares, como observei ao Luis Nassif, parafraseando Shakespeare – Na “loucura”, tem um método. O comportamento é incompatível ao importante que hora ocupa, trazendo riscos institucionais indevidos, a troco de que?

Como tem sido comum, nesta quadrada, a grande mídia lhe deu ampla divulgação, amplificando seus ataques, tomando como verdade, situação pouco verossímil, movida por seu intenso ódio ao Ex-Presidente Lula e a seu partido, usando as declarações cada vez mais açodadas como combustível a uma oposição estéril em proposta, um triste espetáculo, que nada ajuda ao país, não engrandece as instituições democráticas, serve apenas a um ego inflamado e pobre, do próprio Gilmar. Há que goste, que ache que tenhamos pelear, prefiro buscar a razão, voltar aos debate que interessa.

Realmente Hamlet nos dar excelente lições, a maior delas é a racionalidade, equilíbrio, mesmo na aparente “loucura”, é neste caminho que sigo, persisto e insisto, qualquer outra coisa é a derrota, que só interessa a quem está fora do poder.

“O resto é silêncio”. ( Hamlet – W. Shakespeare)


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  1. A agenda do momento envolve três pontos: o julgamento dos “mensalões” (incluindo o de MG), os trabalhos da CPMI e as medidas econômicas que vem sendo tomadas pelo governo. Tudo o mais é dispersão e só atende aos interesses de quem a está pautando. A situação hoje é muito séria para se cair na esparrela dos que só tem a lucrar com desvios de rumo, com discussões estéreis (histéricas?) e, não se iludam, muito bem organizadas e articuladas. Ninguém é louco nessa história, ninguém fala coisas não pensadas, ninguém se manifesta sem propósitos definidos. Então não façamos este papel também, não podemos ser/bancar os inocentes. Os três pontos principais hoje para tocar o barco deste país, tanto no que diz respeito à segurança das instituições como para fazer frente a uma conjuntura de crise mundial que atinge o país estão claramente colocadas:

    – Toda a atenção e apoio ao STF, independente e soberano, que deve ser e é a única instância que pode realizar os julgamentos dos “mensalões” técnica e tempestivamente;

    – Toda atenção e apoio aos trabalhos da CPMI, exigindo a apuração rigorosa dos fatos denunciados, com base em trabalho técnico dos diversos órgãos e no trabalho político que se espera do Congresso Nacional;

    – Toda a atenção e apoio às medidas que devem ser tomadas na área econômica, necessárias ao enfrentamento da crise que se prenuncia cada vez mais intensa no mundo, com reflexos óbvios em nossa economia.

    Todo o resto, agora, é catarse. As palavras (hashtags?) do momento são #Atenção, #Foco e #Articulação.

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