Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Grécia – A Vitória de Pirro

Crise 2.0: Grécia – A Vitória de Pirro

 

 

Samaras,líder da Direita( a cara do AgriPipino Maia) Foto - John Koledisis

No ano de 281 A.C, o Rei e General Grego Pirro, invadiu a Itália, com uma armada gigante formada por cerca de 25 mil homens, liderada diretamente por pelo Rei. Porém, no ano de 279 A.C., as tropas de Pirro invadem a região da Apúlia, travando uma longa batalha em Áscoli, que, embora vitorioso, o exército grego teve enormes baixas, a que Pirro prontamente falou: “Mais uma vitória como esta, e estou perdido.” O que  passou a ser conhecida como “Vitória de Pirro”, aquela em que a vitória, parece uma derrota, de tão custosa.

 

Acompanhamos neste último ano o desenrolar dos acontecimentos da Crise Mundial, aqui na série Crise 2.0, em particular na Europa, e nesta com especial carinho, o destino grego. As tragédias se sucederam nestes últimos dois anos ao país, uma queda vertiginosa, daquilo que nunca fora realmente forte, mas com a adesão ao Euro, parecia uma oportunidade de mudar o destino de um dos países mais pobres da Europa. Todos os esforços do povo grego para aderir ao Euro, foram jogados fora por uma elite corrupta e entreguista. Os bilhões de Euros que aportaram no país, boa parte foi desviado para uso privado e mesquinho.

 

Enquanto a farra do dinheiro fácil circulava na Zona do Euro, parecia que tudo ia bem, mas a Grécia já acumulava grandes déficits fiscais, alguns culpavam pela mal sucedida Olimpíadas, em que gastaram cerca de 15% do PIB do país,  em obras que nada mudou a economia ou a dinâmica de desenvolvimento. O custo altíssimo, as imensa corrupção levou rapidamente ao vermelho todas as finanças. A combinação de corrupção e ineficiência estatal, incapaz de cobrar impostos dos mais ricos, apenas o setor de construção naval, quase a metade da riqueza do país, é isento de impostos com norma constitucional que os protege.

 

Rapidamente, após o estouro da crise em 2008 na Zona do Euro, Grécia, a exemplo de Irlanda e Portugal, os três países mais pobres do acordo, faliram. A situação grega foi a pior de todas, até agora, em apenas 2 anos o PIB do país recuou 20%, a sua dívida pública quase que dobrou, atingindo mais de 160% do PIB. O desemprego saltou de 12 aos 22,6%, entre os jovens em mais de 50%. Ano passado em 8 meses 11% dos médicos saíram da Grécia. Em pouco mais de 1 ano se formou uma massa de sem teto em Atenas de mais de 50 mil pessoas. A fome e miséria virou rotina. Um empobrecimento ainda maior, retrocedeu o país ao pré-Euro.

 

Troika e Eleições

 

Em Setembro de 2011, a Alemanha, via Troika(FMI, BCE e UE), impôs ao povo grego um governo tecnocrata, liderado por PapaDEMos, por coincidência um dos homens que tinha feito o último swap de contas gregas junto ao Goldman Sachs, seus ex-patrões, que deu um prejuízo de mais de 300 milhões de Euros. A intervenção e monitoramento do dia a dia da vida da Grécia, apenas pioraram mais ainda as condições da Economia. 6 meses depois do Governo tecnocrata, as eleições aprofundaram a crise, com nenhum grupo conseguindo formar um governo.

 

Ontem as eleições suplementares deu vitória à Direita, para formar um governo pro-Euro, mas é a famosa vitória de Pirro, aqui de nome Samaras, seu partido obteve 29,6 % dos votos, contra 26,7 % da Esquerda radical Syriza, que prometia “romper com os pactos de resgate e suspender o pagamento das dívidas, cresceu de menos de 5% a 26,7%, tornando-se a segunda força política do país. A diferença entre Samaras e seu principal adversário, Alexis Tsipras, era no final da noite de ontem de pouco mais de 170 mil votos, entre 9,8 milhões de eleitores”.

 

A Alemanha sinaliza que pode rever uma parte do acordo: “após vitória da Nova Democracia, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, se recusou a usar o termo “renegociação”, mas admitiu que a União Europeia tende a aceitar a alteração de cláusulas do segundo plano de socorro. “Não podem ocorrer mudanças importantes nesse acordo, mas eu posso imaginar que rediscutamos as datas”. Westerwelle ressaltou, entretanto, que o país terá de fazer reformas estruturais de qualquer forma. “A Grécia deve se ater ao que foi acertado. Não há saída fora as reformas.”

 

Apesar do empenho de Angela Merkel, ameaçando diretamente se os gregos votassem em Alexis Tsipras, ele obteve um resultado estupendo, dando-lhe a chance de ficar com a segunda bancada no parlamento, ganhando mais forças diante de pacote tão desumano imposto aos gregos pela Troika, como bem observou “Vamos fazer uma oposição em benefício do povo grego. Em nenhuma hipótese vamos apoiar as medidas de austeridade. Elas não podem ir além”.

 

Na Grécia há uma cláusula eleitoral que o partido que ganha a maioria dos votos, nomeia 50 deputados a mais, uma coisa esdruxula, que elevou a participação da Direita de 79 cadeira ao 129, enquanto a Syriza ficou com 71 cadeiras, os “socialistas” caíram de mais de 100 cadeiras para 33.  A diferença é que agora os termos do acordo com a Troika não serão assinados por todos os parlamentares, como fizeram em outubro, por exigência da Alemanha, ou todos partidos assinavam o acordo ou não daria a ajuda, uma humilhação jamais vista, nem em rendição de guerra. Um parlamento que não aceita divergência.

 

O Estadão traz longa matéria que não demonstra tanto otimismo com a “vitória de Pirro”:  “O resultado oficial, quando confirmado, dará direito a Samaras de costurar a formação de um governo de coalizão, que deve ser integrado por Nova Democracia, Pasok, Esquerda Democrática e, possivelmente, Gregos Independentes. Os dois primeiros partidos são considerados “pró-austeridade”, por seu compromisso com os termos do programa de socorro de € 130 bilhões concedido pela União Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Até a noite de ontem, as discussões sobre a formação de um governo de coalizão não tinham sido iniciadas oficialmente, o que deve ocorrer hoje, encerrando um impasse político iniciado em 6 de maio. Há só um problema: alguns líderes do Pasok condicionam a formação de um governo à participação do Syriza, hipótese excluída por Tsipras desde as últimas eleições fracassadas”.

 

Pobre Grécia, mas ao mesmo tempo heroica de resistir a tanto assédio. Acompanhemos.

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