Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: A Rendição da Espanha?

448: Crise 2.0: A Rendição da Espanha?

 

Abraço de afogados - do que riem? foto: V. PINTO (AFP)

 

Voltamos a escrever hoje, sexta, aqui na série Crise 2.0, fazendo um resumo da semana e as perspectivas que se aproximam nas próximas semanas. Esta semana foi recheada de temas e fatos que aprofundaram o caráter da crise, reforçando a visão de Krugman e outros que a Crise é depressão, particularmente, ainda não fechei com a tese, mas os elementos estão dados. Depois da grave crise americana, espero fazer um artigo depois sobre o que se passa lá, ela desembarcou na Europa, e se tornou centro do problema.

 

Por dois anos seguidos as economias menores da Zona do Euro foram atingidas de forma pesada: Irlanda, Portugal e Grécia, faliram de forma incondicional e vivem sob o jugo da Troika, suas economias perderam qualquer autonomia, mas, pior ainda, suas instituições políticas ruíram. Estes países são monitorados numa quase intervenção, cumprem draconianos planos de austeridades, mas a crise não foi debelada. Como a soma de PIB dos três não chega aos 8% da Zona do Euro, parecia um problema menor, grave, mas contornável.

 

Mas a crise se deslocou internamente, na Europa, atingindo quase todos os países, com recessão no Reino Unido( que está fora da Zona do Euro), França, Itália e Espanha. Mas o caso ganhou relevo com a quebra da Espanha, que leva junto aos olho do furacão a Itália. A Espanha, a quarta maior economia, entrou em crise profunda desde o início de 2011, e seguidamente vem decaindo mês a mês, a parte mais visível era o desemprego galopante, que subiu em 16 meses de 11,6 para 25%. Mas, o mais grave, ainda não era conhecido, amplamente.

 

A troca de comando na Espanha, centro-esquerda, pela Direita, com alguns aspectos neofascistas, parecia dá certo ânimo aos “mercados”, mas Mariano Rajoy, assumiu o governo sem qualquer plano, pegou o que a Alemanha elaborou, técnicos do Ministério das Finanças deram assistência aos espanhóis. O grande plano foi cortar o orçamento central e das províncias, reduzindo  o imenso deficit fiscal de 8,9 para 5,3% do PIB em 2012, mesmo numa crise de emprego terrível. O Plano 1 propôs corte de 28 bilhões de Euros, o alívio nos títulos espanhóis foi nulo. Um segundo plano propôs corte diretamente na Educação e Saúde de 10 bilhões de Euros, com 40 mil demissões de professores temporários.

 

Nem bem foi a frente este segundo plano estourou a crise bancária, apenas o Bankia, quarto maior banco do País, dirigido pelo Ex-Chefe do FMI, Rodrigo Rato, ligado direita radical espanhola, exigiu resgate do Governo, a conta inicial era de 9,2 bilhões de Euros, em duas semanas chegou aos 23,5 bilhões. O Governo Espanhol tinha apenas 10 bilhões para um resgate do tipo. Duas semanas a mais de estresse intenso, o Governo Rajoy, tentou um “drible da vaca”, um resgate apenas aos bancos falidos, de 100 bilhões de Euros, sem que o Governo fiasse o negócio, não aumentando sua galopante dívida pública, que cresceu em 4 anos(2008 a 2011) de 377 bilhões de Euro oara 771 bilhões. Mais 100 bi, representaria mais 15% na dívida.

 

Estas dúvidas, sobre quem realmente fiaria os 100 bilhões pressionou mais ainda a Espanha, que não consegue rolar suas obrigações, a não ser que pague caro para obter novos empréstimos. A imensa fuga de capitais é o maior reflexo desta crise, nada menos de 250 a 300 bilhões de Euros, quase 20% do PIB espanhol, saiu em apenas 11 meses. Esta sangria, praticamente zerou todos os investimentos internos dos últimos 15 anos. O agravamento é tão grande que só sobrou a opção do resgate total do país, ou seja virar uma colônia da Troika, fazendo companhia a Irlanda, Portugal e Grécia. A suprema humilhação, está em vias de se concretizar.

 

Segundo a agência Dow Jones, o conselho de ministros das finanças da Zona do Euro, conhecido como Eurogrupo, já “Espera-se que a Espanha formalize um pedido de resgate à zona do euro na segunda-feira, declarou hoje o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. De acordo com ele, o resgate financeiro à Espanha, que será destinado à recapitalização dos bancos do país, primeiro sairá da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, nas iniciais em inglês), que é provisória, e depois será transferido para o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) assim que este entrar em vigor.”Nós esperamos que as autoridades espanholas façam o pedido formal de ajuda financeira até a próxima segunda-feira, disse Juncker. Ainda segundo ele, o montante exato da ajuda será conhecido “ao término das negociações do memorando de entendimento”.

 

O Presidente espanhol, Rajoy, já não pode enrolar mais, nem ficar com empáfia e arrogância típica da Direita, a situação já fugiu ao controle, perderá seu, já pouco, poder. Será um mero administrador controlando pelo que a Troika decidir. Durante o G-20, Rajoy já sentiu que não apita mais nada sobre o destino do país, foi cobrado duramente por Merkel, por esconder o resultado da auditória bancária. Virará apenas um fantoche. Hoje o Eurogrupo se reune, pode ser a decisão final. O FMI, um dos pilares da Troika já recebeu 456 bilhões de Euros, na reunião do G-20 para operação resgate.

 

A queda da Espanha, levará junto Itália, um dominó impensável…acompanhemos!!!

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