Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Uma União Precipitada – Martin Wolf

Crise 2.0: Uma União Precipitada – Martin Wolf

 

Os desesperados - Foto : Reuters

Sexta passada publiquei uma espécie de reflexão de mais fôlego aqui na série Crise 2.0, que indicava como leitura do fim de semana, um artigo de ahnck Red, Presidente da Consultória Towbsend Group, Crise 2.0: Alemanha deveria sair da Zona do Euro?. A reflexão é bem original, hoje, indicarei o artigo do Editor-chefe de Economia do The Financial Times, Matin Wolf, publicado no Valor e republicado no Nassif.

 

O artigo, como todos os textos de Martin Wolf, traz uma gama ampla de informações sobre Economia Mundial, em especial sobre a atual Crise. Uma crítica mordaz à Zona do Euro, com precisão e concisos parágrafos abordando país a país, uma aula. Abaixo, publico integral, aqui vou comentar alguns trechos, mas vale a leitura completa, um mestre, preciso, com humor fino e ferino.

 

Uma pergunta ferina em destaque, diz bem o centro do problema: Há tempo disponível para impor novas regras e procedimentos, tendo em vista os imensos desequilíbrios internos? Além disso, será que a Alemanha tem alguma flexibilidade sobre suas posições que são, em parte prudenciais, em parte constitucionais e em parte morais?

Wolf identifica com maestria que a Alemanha é o centro da Crise, é dela que desencadeia todos os desequilíbrios do Euro, e põe em relevo que além das questões Econômicas(prudenciais), Políticas(Constitucionais) há a questão moral, punitiva, pecadora que ganham relevo quando a direita estar no controle.

 

Os países mais afetado pela crise, ele vai descrevendo um a um:

“Os gregos, os mais descontentes entre todos, aparentemente escolheram um governo de partidos ligeiramente menos insatisfeitos do que os demais com os programas acertados para o país. Antonis Samaras foi um oponente oportunista da austeridade quando na oposição, embora seu partido, o Nova Democracia, tenha responsabilidade total pela má administração pré-crise. Há muitos problemas ainda à frente: Alexis Tsiparas, do partido de extrema esquerda Syriza, teve 27% dos votos. Ele se mostrará mais do que satisfeito em explorar a crescente ira pública.

 

A confusa situação de um país destruído politicamente, que teve um governo biônico, com um sistema eleitoral pior do que o brasileiro, basta lembrar que o “vencedor” recebe um bônus de 50 deputados, dá a dimensão do conflito. Mas surgiu um caminho à esquerda que assusta até o Sr Wolf.

 

“A Espanha espera pelo pacote de socorro financeiro de €100 bilhões para seus bancos, embora infelizmente se trate de um programa que beneficia os credores das instituições bancárias à custa da capacidade creditícia do governo. Pelos juros atuais, é apenas uma questão de tempo até a Espanha solicitar um resgate fiscal. Isso exauriria os recursos disponíveis da região do euro. Também traria o risco de transformar um país altivo em um dependente, o que poderia ter resultados assustadores para a estabilidade”.

 

Quem ler a série sobre Crise 2.0, está familiarizado com as questões da Espanha, sabe do caos que ameaças se estabelecer de vez, que vai além da Economia, o caos social do desemprego e miséria, gerida por um governo sem projetos, sem imaginação, refém de um neoliberalismo capenga. Será presa fácil para Troika, quando se render e pedir o resgate fiscal ( Crise 2.0: A Rendição da Espanha?).

 

“O déficit fiscal da Itália é bem menor que o da Espanha, mas seu problema de rolagem é maior. De acordo com o relatório “Monitor Fiscal”, do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Itália precisa de novos financiamentos equivalentes a 28,7% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, bem superior aos 20,9% da Espanha. Além disso, é um enigma o que se seguirá ao governo de Mario Monti, programado para deixar o cargo em 2013″.

 

Enquanto a Espanha precisa de 300 bilhões para renovar seus títulos, que pela ciranda financeira louca, só renova com prazo curtíssimo(3, 6, 12 e 18 meses) ou seja, uma crise a cada 3 meses, com prêmios explosivos, de mais de 5% ao ano, para yelds de 12 meses, um CRIME. No caso italiano, a rolagem total é de 500 bilhões, mas a ciranda se acendeu, títulos com os mesmos prazos espahóis, juros, por enquanto, menores, mas altíssimos por volta de 3,5%.

 

Imagine que os bancos pegaram 1 trilhão do BCE, com juros de 1% ao ano, agora recompram títulos e obrigações espanholas ou italianas com juros de 5 e 3,5 % ao ano, com resgate imediato, é o caos estabelecido de forma institucional, sem o menor respeito aos povos, que enfrentam desemprego e desespero, que são obrigados a aceitar os planos de austeridade, enquanto seus banqueiros especulam internamente, e mais, ainda, se tudo der errado, serão resgatados, para eles não há Austeridade alguma.

 

É um claro sinal de falência da Democracia, até quando o povo aguentará?

 

 

A união precipitada, por Martin Wolf

Enviado por luisnassif, qui, 21/06/2012 – 11:07

Por Marco Antonio L.

No Valor Econômico

Sequelas de uma união precipitada

Martin Wolf

“Casamento apressado; arrependimento demorado”. Cheios de ardor impetuoso, os parceiros da Alemanha seduziram – alguns poderiam dizer chantagearam – a economia mais poderosa do continente e a convenceram a sacrificar sua independência monetária há 20 anos. Porém, como observou o príncipe do livro “O Leopardo”, de Giuseppe di Lampedusa, sobre sua própria união indissolúvel: “Fogo e chamas por um ano; cinzas por 30”. Agora, chegou a hora das cinzas para a região do euro.

Os chefes de governo do G-20 que não são da região do euro devem estar se sentindo como conselheiros matrimoniais, tentando reconciliar cônjuges cujas personalidades e valores são diferentes demais para viverem felizes juntos. Empréstimos imprudentes anteriores a 2007 agravaram os perigos. As imprudências, amplificadas pela noção de que o casamento tornava a todos ig
uais, tornaram a crise ainda pior.

Aqueles cujas captações lhes permitiram um padrão de vida superior ao que poderiam arcar, agora estão sendo obrigados a aceitar um mergulho rumo à pobreza. Não é de surpreender que se sintam ressentidos com a mudança.

Há tempo disponível para impor novas regras e procedimentos, tendo em vista os imensos desequilíbrios internos? Além disso, será que a Alemanha tem alguma flexibilidade sobre suas posições que são, em parte prudenciais, em parte constitucionais e em parte morais?

Os gregos, os mais descontentes entre todos, aparentemente escolheram um governo de partidos ligeiramente menos insatisfeitos do que os demais com os programas acertados para o país. Antonis Samaras foi um oponente oportunista da austeridade quando na oposição, embora seu partido, o Nova Democracia, tenha responsabilidade total pela má administração pré-crise. Há muitos problemas ainda à frente: Alexis Tsiparas, do partido de extrema esquerda Syriza, teve 27% dos votos. Ele se mostrará mais do que satisfeito em explorar a crescente ira pública.

A Espanha espera pelo pacote de socorro financeiro de €100 bilhões para seus bancos, embora infelizmente se trate de um programa que beneficia os credores das instituições bancárias à custa da capacidade creditícia do governo. Pelos juros atuais, é apenas uma questão de tempo até a Espanha solicitar um resgate fiscal. Isso exauriria os recursos disponíveis da região do euro. Também traria o risco de transformar um país altivo em um dependente, o que poderia ter resultados assustadores para a estabilidade.

O déficit fiscal da Itália é bem menor que o da Espanha, mas seu problema de rolagem é maior. De acordo com o relatório “Monitor Fiscal”, do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Itália precisa de novos financiamentos equivalentes a 28,7% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, bem superior aos 20,9% da Espanha. Além disso, é um enigma o que se seguirá ao governo de Mario Monti, programado para deixar o cargo em 2013.

A isso, deve somar-se a divergência de opiniões entre França e Alemanha sobre política econômica. A vitória parlamentar de François Hollande intensificará o estresse. O debate por vir sobre o que significa estratégia de crescimento, embora necessário, corre o risco de tornar-se bastante acalorado.

Por que, então, alguém pode imaginar que um casamento tão complicado como esse pode durar? Uma resposta é porque a maioria dos cidadãos da região do euro quer assim. A mais forte, no entanto, é porque as pessoas estão (corretamente) aterrorizadas com as consequências de um desmembramento. À medida que o tempo passa, as finanças tornam-se mais domésticas. As economias, contudo, estão altamente integradas. Além disso, a União Europeia (UE) de hoje foi construída em torno do euro. Não se pode presumir que a integração sobreviveria a um desmembramento. Representaria, certamente, uma violação dos compromissos acertados em tratados.

O casamento pode ter sido tolo, mas o divórcio seria assustador. É com esse pano de fundo que precisamos avaliar as opiniões do parceiro dominante: a Alemanha. De acordo com uma tradução que recebi da embaixada alemã, Angela Merkel, a cautelosa primeira-ministra da Alemanha, disse ao Bundestag, Parlamento alemão, na semana passada que ela desejaria dizer a “todos os que […] estão empenhados em persuadir a Alemanha de que precisamos de eurobônus, fundos de estabilidade, um esquema de garantia de depósitos europeus, vários bilhões adicionais e muito mais: sim, a Alemanha é forte”. Também acrescentou: “Estamos convencidos de que a Europa é nosso destino e nosso futuro […] Mas também temos consciência de que a força da Alemanha não é infinita”. Ainda mais: “Além do fato de que essas propostas aparentemente simples […] são inviáveis em termos constitucionais, elas são completamente contraproducentes. Elas tornariam a mediocridade parâmetro para a Europa. Seríamos, portanto, forçados a abandonar nosso objetivo de manter a prosperidade diante da concorrência internacional.”

A isso tudo, ela agregou: “O pacto fiscal é o primeiro passo em direção a combinar uma maior unidade com um maior controle no plano europeu. E será vital que apenas se abdique dos poderes nacionais quando estiver claro que isso envolverá uma supervisão independente das instituições europeias”. Ela expôs três pontos: primeiro, a Alemanha não tem intenção de despejar mais dinheiro; segundo, todos na região do euro precisam se tornar uma Alemanha; terceiro, a Alemanha poderia aceitar mais perdas de soberania nacional quando, e apenas quando, houver regras fortes e controles confiáveis no plano europeu.

Esses posicionamentos levantam grandes questões: Há tempo disponível para impor essas novas regras e procedimentos, tendo em vista os imensos desequilíbrios internos, amplas diferenças de competitividade e profundas pressões fiscais? Além disso, será que a Alemanha tem alguma flexibilidade sobre suas posições que são, em parte prudenciais, em parte constitucionais e em parte morais? Meu palpite para a resposta a essas questões é que não.

Quaisquer que sejam as respostas, no entanto, é evidente que a abordagem alemã promete continuidade nas políticas de forte austeridade nos países vulneráveis e, com toda probabilidade, no crescimento medíocre na região do euro. Isso, por sua vez, assegura a recorrência de crises econômicas e políticas, mesmo se a região do euro sobreviver. Se os conselheiros matrimoniais se perguntarem por que há disposição em suportar tudo isso, a resposta é clara: desta vez, a Alemanha quer assegurar o comportamento que gostaria de ver em seus parceiros.

Consigo contemplar cinco resultados: primeiro, um casamento feliz, sob os termos da Alemanha, embora após doloroso período de ajustes; segundo, um casamento miserável, que sobreviverá porque uma separação seria custosa demais; terceiro, chegar a certo grau de acomodação mútua, em que o norte se torne mais sulino e o sul, mais nortenho; quarto, uma separação parcial, com os membros restantes entrando em uma das três alternativas anteriores; e, por fim, uma separação total. É certo que a Alemanha não conseguirá uma região do euro como a que deseja com tanta facilidade ou rapidez. Caso se consiga evitar uma separação parcial ou total, o período de dificuldades será longo e doloroso. A crise da região do euro provavelmente vai ser uma longa novela – caso não acabe em tragédia.

Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.

 

 

 Save as PDF

Deixe uma resposta

Related Post