Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Espanha – Ruptura Social

Crise 2.0: Espanha – Ruptura Social

 

 


“Señor Rajoy, no se apropie de mi silencio” ( Pedro Almadóvar, cineasta espanhol)

 

A Espanha dominou esta semana as matérias aqui, na série sobre a Crise 2.0, por razões óbvias, é o país que se tornou centro nervoso da maior crise da economia mundial desde a Crise do Petróleo e a das Dívidas Externas nos anos 80. O cenário espanhol é complexo e explosivo, uma mistura de fracasso de modelo econômico do Euro e das relações Norte Sul que se somou à incompetência política local, que usufruiu do amplo fluxo do Capital “fácil”, como se não houvesse amanhã. A frágil economia espanhola, com baixíssima competitividade, aceitou o modelo imposto pela Alemanha e França, com altos déficits comerciais, sem desenvolver uma sólida indústria no país.

 

O modelo do Euro, de que, artificialmente, trabalhadores da Alemanha e Espanha, ou da França e Portugal, tivessem um mesmo patamar de ganhos, sem, entretanto, que se equalizasse a produtividade, se desenvolvesse tecnologicamente estes países, só se sustentava pelo peso da moeda única e forte. O endividamento das famílias e dos estados para manter certa paridade no poder de compra, deu a falsa ideia de igualdade, entre desiguais, com fluxo de capitais, sem lastro nas bolsas de Madri ou Atenas, as empresas destes países pareciam sólidas, mas não passavam de reféns do capital alemão e francês, prova disto é que 66% da dívida grega é com banco destes países e 45% da dívida espanhola também.

 

Nestes um ano e três meses que venho escrevendo esta série, a Espanha foi quase um laboratório para pesquisa de como um país médio, decai de forma rápida, uma queda livre impressionante, por algum momento os espanhóis se achavam “ricos”, mas quando receberam a “fatura” do cartão de crédito se assustaram com a cobrança imediata de todos os débitos. Pouco mais de um mês escrevi um roteiro deste calvário espanhol, para ajudar a rememorar os fatos: Crise 2.0: Espanha em Chamas – um Roteiro. Que agora se soma os novos artigos desta nova onda de queda, se é possível, cair mais:

 

A sensação de que a Espanha está em processo de dissolução interna, movimentos de rupturas das comunidades autônomas, rumo à construção de estados independentes, parece ser a resposta encontrada para enfrentar os seguidos cortes e a perda de soberania total que se avizinha com o pedido de resgate e a entrega do comando à Troika. A vitória esmagadora da Extrema-Direita nas eleições gerais em dezembro, com a imposição de mais austeridade, só fez piorar o clima geral de miséria no país, de empobrecimento, os velho sentimentos de autonomia total afloraram de forma irresistível,  o referendo na Catalunha, se concretizado pode sinalizar o fim da Espanha como conhecemos hoje.

 

Mas, a maior ruptura, é social. O desemprego massivo, combinado com baixa formação da mão de obra que é confirmada com a informação de que os jovens além de desempregados também estão fora das escolas e universidades, mesmo assim um dos centros dos cortes foi justamente na Educação, dando uma dimensão de que não existe nenhuma política que vise a competitividade, exceto com a oferta de baixíssimos salários, mas sem qualificação. A sociedade está em ebulição com muitas marchas, manifestações diante de um governo fracassado, sem perspectiva alguma, além de isolado politicamente e divorciado do povo.

 

O que sobrou ao governo neofascista de Rajoy foi a repressão aberta, enfrentando as manifestações com uma força desmedida e intimidatória, no último dia 25 de setembro, o 25S, teve centenas de milhares de pessoas nas ruas e as forças de segurança agiram com furor, prendendo e batendo, estes presos se tornaram incomunicáveis não se sabendo nem para onde havia sido levados. Agora há uma ameaça velada de que o governo central não aceitará o plebiscito da Catalunha, não permitindo que se faça pelo voto a independência, um risco de uma guerra civil paira no ar.

 

As desastradas falas de Rajoy, conclamando a “Maioria Silenciosa” recebeu uma deliciosa resposta de Pedro Almadóvar, o grande cineasta espanhol, num belo artigo publicado hoje no El País “Realidad y Narración”, em que deixa bem claro, mesmo não estando presente ao 25S, ele não estava em silêncio. Vamos acompanhar mais de perto ainda os próximos passos, ontem o governo mandou o orçamento de 2013, uma enorme mentira contábil, que não se sustenta, mas é preciso mais para derrotar o governo e a Troika.

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