Arnobio Rocha Crise 2.0 A Itália Rumo ao Atoleiro

744: A Itália Rumo ao Atoleiro

 

Beppe Grillo a “novidade” eleitoral que negou a política,do já falido sistema italiano

Hoje, pela manhã, ainda sem resultados finais das eleições gerais italianas, escrevi o artigo Itália, Nau à Deriva, em que apontava a imensa confusão política do país, principalmente depois de 15 meses do governo biônico da Troika, liderado pelo burocrata Mario Monti, ex-executivo da Goldman Sachs. Como várias vezes alertamos na  sobre a  Crise 2.0, de que a Itália, além da crise econômica, vem de um processo de desagregação política, principalmente depois da operação mãos limpas, que favoreceu a ascensão do megaempresário de mídia, Silvio Berlusconi e seu neofascismo.

Com a crise, Bruxelas impôs a demissão de Berlusconi, fazendo assumir Mario Monti, sem mandato ou eleição, que fazia parte do acordo para que a UE ajudasse a Itália sair do atoleiro, desde que as reformas econômicas, leia-se, Austeridade, os planos da Troika que assombram vários países mais pobres como Portugal, Grécia, Irlanda, sem que as economias, efetivamente, saiam do buraco. No caso italiano, não era uma tarefa simples, trata-se da terceira maior economia da Zona do Euro, um país com longa tradição de lutas e um estado de bem estar social e de direito consolidado. Quebrar uma estrutura desta, sem respaldo popular, não iria longe, em janeiro de 2013, Monti renunciou, por não avançar seu plano.

De novo houve a divisão entre centro-esquerda, coalizão formado por ex-membros do antigo PCI, somados aos setores intelectuais e antigos membros do PSI e até dos antigos Democratas Cristãos, bem amplo, mas que não consegue a maioria na sociedade. Do outro lado, os neofascismo do norte italiano, rico, que comandado pelo empresário midiático Silvio Berlusconi, um bufão, sem caráter, sem qualquer projeto, que não o poder para si e aos seus aliados, usando o governo para ampliar seu poder econômico, misturando populismo e circo. Os seguidos mandatos de Berlusconi sempre acaba em escândalos políticos, sexuais e econômicos, mas continua com força num eleitor conservador.

A surpresa desta eleições, porém, não veio da disputa acirrada entre Esquerda vs Direita, mas o surgimento de um movimento que nega a política, mas se tornou organização política, liderado pelo comediante Beppe Grillo, que não se define num espectro político claro, mas que galvanizou o repúdio da sociedade, principalmente entre os mais jovens e desempregados, que perderam qualquer confiança nas estruturas de poder e dos partidos. O Movimento 5 Estrelas, acreditem, é este o nome, conseguiu 25% dos votos, contra 31 % da Esquerda e 30 da Direita. Um feito notável, mas que no fundo representa um repúdio ‘a política sem nenhuma solução alternativa, um voto nulo com ” cara”, um espécie de Tiririca à italiana.

A maior derrotada, neste processo eleitoral, sem dúvida, foi a Austeridade, com menos de 10% dos votos Mario Monti, o homem de Merkel e do mercado, foi massacrado, um repúdio amplo, pois de Berlusconi à Esquerda, passando por Grillo, era unânime a negação da politica da Troika. Pelos menos, neste caso, houve uma identidade no voto de protesto. Mas os resultados colocam a Itália no limbo, pois não há ganhador ou maioria mínima na sociedade, provavelmente será realizada um novo pleito, um desastre total, o tempo não espera.

O El País, na sua edição de amanhã, que está na internet tem como manchete: As Urnas conduzem a Itália ao Atoleiro. Realmente, este é o resumo da ópera bufa. Um bufão aprendiz de palhaço e um palhaço com panca de bufão, jogam o país numa incerteza, ou numa frágil maioria parlamentar, que não garante qualquer possibilidade de um governo que possa apontar uma saída para crise. Esta é a terrível herança das “Mãos Limpas”, 21 anos depois o país está mergulhado numa crise profunda e na corrupção aberta.

Acompanhemos a contagem final, preocupados com o destino dos trabalhadores que são vítimas e algozes de si, num sistema excludente e preso à logica perversa do Capital.

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