Arnobio Rocha Esportes Quando É Proibido Falar de Corinthians

748: Quando É Proibido Falar de Corinthians

 

 

Estádio Vazio, a tristeza do Futebol . Foto: Leandro Moraes/UOL

Ontem foi um dia extremamente triste, para mim, ao olhar o velho, amado e lindo Pacaembu vazio, com um jogo do Corinthians, é de partir o coração, ali vivi e vivo as emoções mais simples e o desafogar de males que ficam presos na alma. O ato de ir ao estádio é emocionante. Começa com a comprar os ingressos, antigamente enfrentando filas e dificuldades, era uma glória tê-los na mão, hoje mais simples, via internet. Depois o deslocamento rumo ao templo do futebol de São Paulo, descer a avenida e olhar aquele povo se aglomerando, sempre é de arrepiar.

Ir ao jogo do Corinthians, não  importa se o time é um esquadrão ou um “faz-me rir, é algo mágico, uma viagem numa paixão que não se explica, não tem lógica ou razão, ela, é, existe e ponto. Imagino que para outras torcidas deve ter o mesmo efeito, mas falo do que sinto e  do que vejo lado a lado nos campos. Naquele belo estádio se reúne uma nação, um povo, uma identidade, uma ideia plantada por operários no início do século passado e que contaminou uma cidade, um estado e um país. Que no último ano ganhou o mundo, nas cenas mais arrepiantes daqueles loucos que fizeram de tudo para ir ao Japão, uma decisão extraordinária, escreveram uma bela página não apenas para a torcida, mas para o nosso país. Pelo que me consta não houve nenhum incidente nas ruas japonesas ou nos estádios.

Um incidente gravíssimo, na última semana, em Oruro, Bolívia, provocou uma reviravolta, como se apagasse toda a história do clube. Muito costumeiramente as outras torcidas olham para o Corinthians não com respeito que deveria merecer, mas com desdém, chamando-os de favelados, ladrões, bandidos, analfabetos e toda a sorte de coisas que acham que pode atingir a honra e moral da torcida. Lembro quando a torcida se preparava para ir ao Japão, não era incomum ler/ouvir piadas de que aqueles “pobres” não sabiam usar um banheiro de avião, pois sempre andavam de ônibus. Os mais afoitos diziam que a criminalidade de São Paulo iria cair com a ida dos milhares corintianos ao Japão, torcendo para que lá fossem presos. Bem, tudo faz parte da rivalidade, das provocações, mesmo as mais ofensivas.

Com o episódio da Bolívia, foi a detonador de todo espécie de ódio ao Corinthians e ao corintianos, tudo que não ocorrera no Japão, ou na Argentina, agora era repisado, bem que dissemos são bandidos, torcida de assassinos. Nós, corintianos, se tentássemos argumentar era logo taxado de “clubistas”, “cegos”, “coniventes” e alguns ainda repetiam: “se defende bandido, bandido é”. Nem preciso dizer o tamanho do absurdo e da irracionalidade, viramos o motivo do ódio, os sem-defesas, toda opinião de um corintiano não é válida porque é “clubista”, como se as outras não fossem “clubistas”, uma atitude típica de ditaduras e fascistas, que só aceitam uma única “verdade”, a deles: Exclusão, expulsão da Libertadores ou de qualquer torneio, pois os “bandidos” da direção do Corinthians, não controla seus “assassinos”.

Escrever sobre o Corinthians, qualquer opinião livre, virou um pesadelo, mesmo os que tentassem ponderar, era meu caso, pedia apenas moderação e alguma sinceridade no debate, pois ali não estávamos diante de freiras, qual torcida no Brasil e no mundo nunca se envolveu com morte em estádio? Um detalhe cruel, a arma do crime foi disparada de forma acidental, isto não inválida o erro grave de ter um sinalizador com a torcedores. Mais ainda, todo o clamor de punição ao Corinthians passava longe da reparação à família do garoto morto, menos ainda na culpa objetiva na sequência: Fifa e Conmebol que são as entidades que organizam o torneio. Esqueceram das autoridades que permitiram a entrada dos sinalizadores, por fim do próprio San José, que era o mandante e que na sua torcida havia os mesmos sinalizadores.

Claro que o Corinthians merece ser punido, mas faria o caminho inverso, obrigaria a indenizar a família do garoto, a maior perda em toda esta história, depois a individualização da culpa entre os torcedores envolvidos, não apenas naquele que manuseio o sinalizador, mas quem os levou, comprou e usou juntamente. Terceiro, perda do mando de campo, ter o jogo sem torcida é uma punição burra, é contra o futebol, culpa todos os torcedores, por um  ato isolado,  principalmente por não haver previsão no torneiro. Mas, já que se optou pelo estádio vazio,  a punição ao clube pode se discutir justa ou não, apenas com o tempo, se outros forem punidos de forma igual, efetivamente se saberá se houve justiça ou apenas um arroubo seletivo de punir.

Isto posto, foi melancólico assistir ao jogo, uma sensação de tristeza terrível, olhar a TL de Twitter e Facebook e ver os “justiceiros” tripudiando, fiquei pensando, tão bom quando não se tem “pecados” e se pode apontar e rir dos “pecados” alheios, jamais vão refletir, pois sempre se acharam puros, nós, os “bandidos” e “assassinos”, pior que isto, sem direito a nos defender, é pena de morte e ponto.

Ainda bem que futebol é apenas uma “diversão”.

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One thought on “748: Quando É Proibido Falar de Corinthians”

  1. Agora aos anti-corinthianos são contra o patrocínio da Caixa ao Corinthians, o torcedor que moveu a ação torce para o Gremio que é patrocinado pelo Banrisul.

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