Arnobio Rocha Política Romper com o Linchamento e a Barbárie.

1086: Romper com o Linchamento e a Barbárie.

 

O Canibalismo "digital", a imagem da barbárie ( Hans Standen)

O Canibalismo “digital”, a imagem da barbárie ( Hans Standen)

No último artigo (Declaração de Princípios sobre a Barbárie nas Redes Sociais.) que publiquei, sob forte emoção, devido ao linchamento de uma dona de casa na cidade do Guarujá, vítima de um boato espalhado por uma página no Facebook. Sob esta perspectiva, tracei alguns princípios sobre a conduta nas redes , ditas, sociais, deixando claro o meu afastamento completo de qualquer pessoa ou grupo que incitem o ódio, individual ou coletivo. Percebo que este episódio pode ter um efeito extremamente positivo neste comportamento errático e estúpido das redes sociais, pode ser a “Escola de Base” do mundo virtual.

O que tenho visto, mas sei que é cedo, que há uma mudança de conduta ou pelo menos, um pouco mais de cuidado. Por exemlo, hoje li uma frase de uma figura, no Facebook, que endeusava o mundo digital, como a “verdadeira nova era”, mas que agora se mostrava preocupada com os falsos boatos. Pergunto: Só agora? Quando falávamos do clamor fascista pela condenação dos dirigentes do PT, esta mesma figura e tantas outras, simplesmente relativizavam, pois era “mimimi de petistas”.

Agora o linchamento de Fabiane no Guarujá,  o lance do Renato Aragão, vítima de mais um boato, ou mal entendido, começam a perceber a perversidade dos boatos , da “justiça” com as próprias mãos , do efeito manada, dos julgamentos acríticos que podem destruir irremediavelmente a vida, ou a honra das pessoas. Mas muitos acham que vale tudo, em particular contra políticos ou pessoas públicas como se a elas também não coubesse o benefício da dúvida. Mas caiu a ficha de que tudo isto, também, pode se voltar contra as pessoas comuns, como o linchamento imbecil da senhora, mãe de família, vítima deste comportamento animalesco.

Aqui se julga imediatamente a tudo e a todos,  condena-se, manda-se pra fogueira, literalmente, como nas antigas práticas medievais, mas com poder deletério muito maior, aliás, nunca visto. O exercício de ódios, das frustrações e um aparente poder pessoal devastador, transformou todos os PC, Tablet ou Smartphone em armas de destruição em massa. Estes julgamentos precipitados, aliás, já mostrados no último Batman, em que o sociopata Crane foi revestido de juiz e condena milhares de pessoas, com apenas uma palavra: Exílio ou Morte. Exílio era caminhar sobre fina camada de gelo, que inevitavelmente redundava em morte.

Como disse no texto sobre o citado filme (Batman vs Bane ( O Gigante Coxinha?), a obra é uma metáfora deste tempo cruel: “Bane, uma aberração mascarada, aqui é o detalhe fundamental, Bane é na medida certa o “anônimo” ou o Gigante Toddynho das recentes manifestações.

De alguma forma tinha tido, em parte, este insight no post anterior quando disse que “Bane, o anti-herói toma o poder em nome do povo, uma caricatura de “socialista” ou dos “Occupys”. Todos são convidados a tomarem o poder, mas ali, na visão tipicamente de criar um caos, uma barbárie, com tribunais de exceção com um louco, Dr Crane, como juiz supremo, a condenação se dá em segundos, morte ou morte, pois o exílio é o caminho da morte“. Mas a ideia está incompleta, Bane é muito mais, ele é a ideologia recente do “novo” do “anônimo”, do herói digital, aliás, ele mesmo, assim se define: “Ninguém se importava quem eu era até que eu pus a máscara”. Ora, a máscara, que já analisamos na questão do herói, a nova identidade como traço essencial, não restando duvida que a indumentária é para chamar para si todas as atenções.

O herói vindo do oriente, do estrangeiro, vem para conquista de uma cidade, para, em tese, libertá-la e que ela se devote ao seu culto, o que é parte mais ampla  do mito do herói, tema recorrente da mitologia grega, romana ou oriental. O próprio Bane reflete e fala que “Assumir o controle de sua cidade. Eis o instrumento de sua libertação!” e complementa dizendo “Não importa quem nós somos… O que importa é o nosso plano”. No diálogo com seu aliado rumo ao poder ele é bem mais direto quando o milionário percebe o tamanho de suas ambições ele diz: “Você é pura maldade!”  calmamente, Bane, retruca: “Sou o mal necessário”.  Aliás, ele se apresentará como o “purificador”, o salvador daquela cidade corrompida, daquela sociedade egoísta e miserável.

Mas a parte mais intensa e o cerne do filme é como Bane se torna o herói dos revoltados, o líder das massas, aquele “anônimo” que convoca os coxinhas contra os políticos, contra o Estado, contra a corrupção, contra tudo, adesão é instantânea e irrefletida, o brilhante discurso é feito em frente à prisão Blackgate (Guantanamo?) símbolo da violência e do Estado de Direito em nome da “guerra ao terror”, ali se prendeu sem direito a julgamento justo, revisão de pena ou progressão de regime, então Bane vai lá e faz seu palco teatral, é perfeito, primeiro destrói o antigo “herói”, Harvey Dent, desmascarando-o, depois convocando as massas para destruir o poder real e formal”. 

Vivemos o limiar da sociedade democrática, com o fim do Estado de Direito, como resultado da Crise, naturalmente aqui se reflete o mundo real, com a diferença da “velocidade” com que tudo é tratado. Convoco-os, mais uma vez, de que “Passou da hora de um basta, de um repúdio amplo, dar uma parada neste caminho rumo à barbárie, à destruição da sociedade pelos toscos do midiatismo canalha, sem valor moral, sem ética e sem humanismo. Fiquemos assim, não precisa curtir compartilhar, apenas vamos manter conosco quem estiver afim de uma convivência de respeito e pluralidade”.

Este apelo não é patético, é um sopro de esperança.

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