Arnobio Rocha Política A Crise e as Eleições Presidenciais no Brasil.

1148: A Crise e as Eleições Presidenciais no Brasil.


Dilma em campanha em Osasco(SP),um cenário complicado demais (Foto: Felipe Rau/Estadão-AE)

Dilma em campanha em Osasco(SP),um cenário complicado demais (Foto: Felipe Rau/Estadão-AE)

O cenário eleitoral que se desenha será de grande dificuldade política, mesmo que com perspectiva de vitória da coalizão governista liderada pelo PT e pela Presidenta Dilma. As recentes pesquisas sobre o Governo de Dilma e as expectativas eleitorais de 2014 nos colocam, mais uma vez, diante do debate sobre qual a relevância da Economia na Política e vice-versa. De cara já aviso que defendo o primado da Economia sobre a Política e sobre qualquer outra ordem de análise.

Nos últimos dois anos tenho me dedicado aos estudos da Economia Política mundial, uma iniciativa pela retomando das análise de Marx sobre as Crises do Kapital e sua atualidade. Sob a Categoria Crise 2.0, escrevi mais de trezentos artigos sobre atual Crise do Kapital e que foi melhor sintetizado no meu livro Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded. O brutal esforço, infelizmente, não foi acompanhado por um amplo debate no seio da esquerda, parte enfronhada nas tarefas de estado e burocratismo e outra parte numa atuação estéril de crítica, mas sem projeto alternativo.

Partindo da Crise no Centro (EUA e UE) e seus reflexos no Brasil, que trato no Capítulo dedicado ao BRICS, aponto diretamente, sem embargo, que por volta de Agosto de 2010, o Brasil, efetivamente, passou a sentir com mais força os efeitos da Crise, as políticas anticrese adotados entre 2008 e 2010, ainda no Governo Lula, foram fundamentais para que o país não sucumbisse à hecatombe mundial, entretanto, o fôlego  destas medidas não seria tão longo, caso a economia mundial não se recuperasse, o que realmente não aconteceu, ao contrário piorou. Assim descrevi, no livro:

“A aposta de Lula, seguida por Dilma, era de que EUA ou UE superariam a crise em três ou quatro anos, o que parecia plausível naquele distante novembro de 2008. O Brasil então soltou às amarras da economia para crescer e aguardar que um novo ciclo se iniciasse. O que percebemos é que o auge deste processo se deu até julho de 2010 – o ciclo virtuoso começava a ter problemas. Com a paralisia do mercado mundial, a inflação ameaçava o crescimento interno. Em agosto de 2010 começou lento processo de ajuste, uma tentativa de acomodação “suave” do Brasil diante da crise. Percebia-se que a crise econômica mundial seria mais longa. Os EUA e (muito menos) a Europa não davam sinais de que retomariam o ciclo virtuoso. Ao contrário, os constantes QE (expansão da base monetária) exportavam a inflação do centro desenvolvido para o mundo, o que dificulta em muito os ajustes locais”.

Assim, continuo, “Dilma recebeu o governo em situação bem melhor que a de Lula ao suceder FHC, mas sob turbulência mundial muito maior, na qual a crise na Europa, por exemplo, apresenta cenário de recessão longa. Os EUA, com sua tímida retomada, não garantem um novo ciclo de crescimento, principalmente porque a ameaça passou a ser Zona do Euro. São dois anos de voo baixo, lutando a duras penas para não pousar de vez. Ainda assim os resultados no Brasil são significativos, como o mercado de trabalho em expansão”. Por fim disse que “a resposta, agora, parece clara: sim, a Crise 2.0 chegou aqui, por volta de agosto de 2010, mas o Brasil não vergou, o que é muito, muitíssimo. Mesmo num cenário pessimista como o da OCDE, o Brasil não recuará, mas o nível de compreensão e apoio terá que ser maior, muito maior”.

Partindo desta análise e da realidade concreta podemos melhor entender os fatos e fados apresentados pelas grandes manifestações, pois estão diretamente ligados à queda de expectativas na Economia em geral e particular no âmbito das ações governamentais, aqui entendida como responsabilidade, quase que única, do governo central, o que de todo não é errado, os ônus e bônus são assim melhor distribuídos. Em vários textos tentei apontar quais os aspectos mais relevantes das manifestações de junho de 2013 e cheguei aos três signos da revolta (do meu ponto de vista):

1) A Crise passou a ser sentida, em particular nas classes média e alta;

2) A tolerância com os governos do PT, era graças a sensação de estabilidade econômica, então agora os graves erros da época do Mensalão, acabou;

3) Todo o ódio de classe, mesmo que difuso, se liberou”.

Acrescento ainda que, mesmo com os números da economia em ordem, a sensação de que algo não vai bem se generalizou, o maior sintoma é na Inflação, que passa a pressionar o governo que caminhava firme na política de diminuição dos juros, mas recuou diante do velho fantasma, mesmo que de pouco vulto, ainda assombra. As várias desonerações e planos e mini-pacotes de combate à crise acabam trazendo poucos resultados palpáveis, combinado com uma péssima comunicação do que se faz. As medidas acertadas de diminuição do preço da energia e os impostos da cesta básica foram espertamente incorporados ao lucro dos supermercados, sem que o governo reagisse, por exemplo.

Combinado com estas questões econômicas, a direção política do PT envelheceu de forma assustadora, o diálogo com esta nova geração que surge é truncado, poucos compreendem as razões políticas e ideológicas ou as opções de luta e vida que os velhos quadros tiveram, alguns preferem reduzir as questões a um moralismo tolo, muito próximo do que sai nos jornais e revistas vinculados ao grande Kapital. Há aqueles que foram construir pequenos partidos, radicalizados na forma, mas conservadores no conteúdo. Pouco ou nada de novo, diferente, se conseguiu de alternativo fora da experiência do PT, esta é a realidade. Por fim, surgem os liquidacionistas internos, que enxergam, em toda crise, a necessidade de “refundações”, velha e única tática das lições da esquerda europeia, que levou ao fim os grandes partidos de esquerda na Europa, hoje não passando de aglomerados ou “movimentos”.

Por fim, a judicialização da política é outro fator complicador do atual cenário, mas os destinos da Esquerda brasileira vão bem mais além da decisão do STF, pois esta é mera formalidade, para aqueles que condenaram estes quadros, já condenaram, de nada adianta argumentar, não se darão o direito de pensar diferente do que já pensam, nisto a Direita usou com eficiência todo seu poder, Mídia e Judiciário, para criar o clima de condenação e linchamento prévio, qualquer questão técnica jurídica será vista apenas como manobra, para evitar condenação e prisão e espetáculo televisivo. Chegamos ao absurdo de um ministro do STF, Marco Aurélio Mello, pedir manifestações (seriam os “black blocs” ?) na frente da suprema corte, para pressionar seu colega a votar contra a apelação dos condenados. Refresquemos a memória, este mesmo Marco Aurélio deu Habeas Corpus a tipos como Cacciolla, o banqueiro amigo que deu um desfalque de 1,5 bilhões de Dólares, algo como 50 “mensalão”. Nem lembrou, portanto, o “clamor das ruas”, como, covardemente, apela agora.

A questão que se impõe, para a militância, é mais uma vez derrotá-los nas urnas e seguir em frente, reconstruir as pontes e formar novos quadros, respeitando os velhos, aceitando seus erros e acertos, porque a vida é bem mais complexa do que pensamos.

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