Arnobio Rocha Reflexões A Arte Médica Perdida.

1191: A Arte Médica Perdida.


A Sala de espera de um hospital, sem saber o que estar por vir.

A Sala de espera de um hospital, sem saber o que estar por vir.

 

“Puro deve ser aquele que entra no Templo perfumado. E pureza significa ter pensamentos sadios”. ( Gravado no pórtico de entrada no templo de Epidauro )

A pouco mais de um mês passei por um pequeno aperto de saúde que, infelizmente, tive que ficar por longas horas no hospital, aquelas incertezas criadas pelo ambiente hospitalar e a insegurança quanto aos resultados dos exames. Mas, muito além deste clima, foi o tratamento médico recebido, ou melhor, não recebido, incluindo uma sessão de proselitismo anti-PT durante um ultrassom para identificar ou não um acidente vascular.

Ali, naquela situação tensa, tolamente, para relaxar, resolvi puxar conversa com o jovem médico, comecei dizendo que minha filha mais velha tinha passado longo período naquele hospital se tratando de Leucemia, plena de vitória, que agora ela estava pensando em fazer Medicina. A resposta dele me “quebrou”, mandou: “Ela não deveria, pois o PT ACABOU com a Medicina no Brasil”.

Fiquei atônito e sem acreditar no que ouvira, então travamos um duro debate, mesmo eu estando numa situação vulnerável, rebati aquele conjunto de “pérolas”, parecia que estava lendo comentários do esgoto de portais ou uma edição da Revista Veja, infelizmente repetido a exaustão por um jovem médico, sem se preocupar com a ética, com a saúde do paciente, com nada, ali percebi o tamanho do buraco que os médicos e suas associações se meteram. Constrangimento total, completado com a observação dele – “o Senhor é bem Petista, né”?

O que mais me abalou foi ter em perspectiva uma filha médica, aquilo me deu calafrio, aguçou meus medos e receios, até esqueci a razão de estar ali, naquele excelente hospital (sem ironia). Voltei a pensar romanticamente nos meus estudos gregos, a visão sobre o médico, os deuses Apolo e Asclépio, o centauro Quíron. Também pensei no meu querido amigo Dr Odeon, que retratei aqui no blog (Dr Odeon, A Medicina e a Arte do Humanismo), o embrulho no estômago só não foi maior do que o temor de estar sendo cuidado por aquele tipo de gente.

O Deus Apolo é médico, sendo pai de Asclépio, a quem deu a arte da cura, mas ia muito mais além, conforme Junito, “Médico infalível, o filho de Leto exerce sua arte bem além da integridade física, pois é ele um kátharsi (Kathársios), um purificador da alma, que a libera de suas nódoas“.  Assim, como em Epidauro, no templo Hieron, estar gravado numa tábua a fórmula: “Puro deve ser aquele que entra no Templo perfumado. E pureza significa ter pensamentos sadios”. 

Asclépio e seus sacerdotes (médicos) seguiam um princípio muito claro: “Purifica tua mente e teu corpo estará curado”. Diante destas lembranças e velhas lições do passado, sobre Medicina e das origens de tão nobre arte, que no princípio era relacionada ao sacerdócio, às artes dos xamãs, fico pensando onde nos perdemos? Não acho que seja apenas a elitização extrema dos cursos de medicina, mas uma lógica perversa, a medicina privada, uma concepção distorcida e de poder ilimitado, vinculada, na maioria das vezes, ao vil metal, que perde a arte e dimensão humana ou humanista.

A pior doença no Brasil parece ser a da Medicina, pois os médicos estão abandonando sua arte, o ser humano virou um nada diante de um médico totalmente alheio ao humano, muitas vezes visto apenas como um número ou trampolim para obter dinheiro e comprar seus SUVs em que pendurarem seus “jalecos”, como sinal de status social e distinção dos demais.

Ainda não são todos assim, mas temo que estejamos caminhando para este destino terrível.

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