Arnobio Rocha Reflexões Por que os heróis nos fascinam?

1235: Por que os heróis nos fascinam?


Ártemis - A deusa caçadora (Arte de dark knight wolf).

Ártemis – A deusa caçadora (Arte de dark knight wolf).

Por que os heróis nos fascinam?

A questão não é simples de responder, ou melhor, pode caber uma resposta simples, mas certamente incompleta. Muitas vezes volto ao tema, pois convivo com ele desde muito cedo, minhas mais distantes lembranças são ligadas aos heróis e os mitos. Grosso modo, os heróis podem e fazem coisas que nós, os comuns, não faríamos, nos é impossível transgredir e ir além, por regras morais, sociais e religiosas.

Minha alfabetização se deu num ambiente de leitura de estórias de trancoso, revistas em quadrinhos e mitologia grega, muito influenciado por amigos e irmãos mais velhos, só me restava a leitura, faltava-me estatura para brincar com eles. As referências são grandes e longas, entretanto não sinto que hoje pese sobre minha consciência nenhuma lacuna de heroísmo ou atos heroicos.

Ao longo desses anos escrevendo esse blog tem uma coleção de artigos e respostas sobre o conceito de heróis, a maioria de estudiosos e outras minhas, mas sempre fico na dúvida se consegui uma visão total ou mais ampla que me satisfaça, parece-me que não. Refazendo os caminhos, para nos aproximar mais uma vez do ambiente dos heróis e debater mais uma vez a questão.

Píndaro definia que existiam três categorias de seres: Deuses, heróis e homens, Platão acrescentou “Demônios” como uma quarta. Com esta visão, os heróis trazem em si algo dos deuses e muito de nós reles humanos, sua figura sobre-humana causa em nós espanto, amor, respeito, mas também uma profunda inveja de seus feitos e talentos.

Heróis cumprem aos nossos olhos missões de grande valor por sua força descomunal, sua arte apurada, mesmo na tenra idade ele já apresenta dotes jamais imaginados, Héracles (Hércules) no berço mata duas serpentes, Ártemis já era excelente caçadora. Mozart aos quatro anos já tocava com maestria e suas primeiras sinfonias ele contava com 11 anos. Michael Jackson cantava melhor que os irmãos quando ainda era criança.

Boa parte do meu conhecimento de estórias de trancoso foi adquirido através das narrações de seu João Tomé, um velho sem educação formal, mas que nos contava essas incríveis aventuras com um português provençal na fazenda do meu avô. A noite, luz de lampião, voz potente, assustadora, aquele velho atraia atenção de adultos e principalmente de nós, as crianças. Ele levava para todos a tradição oral de seus pais, avós, nos fazendo viajar por terras e reinos distantes, mesmo sem ele jamais ter saído daquelas terras ou lido livros.

Há uma vinculação profunda no nosso inconsciente a esses seres mágicos e fantásticos, pouco importando em qual lugar do mundo tenha nascido, nossas mentes são povoadas por memórias extraordinárias, que não sabemos de onde vieram, mas elas estão ali, não importa, também, qual meio social frequentado, ou grau de instrução, o herói se consubstancia incrivelmente com todas as suas características e sofisticação que os intelectuais lhe atribuem, mas podem ser descritas por pessoas mais simplórias.

Os heróis são fundamentais para nossas vidas, Jung, falando sobre os arquétipos diz que “toda criança vê nos pais uma ‘parelha divina’, cuja ‘mitologização’ continua as mais das vezes, até a idade adulta e somente é abandonada após uma ingente resistência”. Portanto, não basta conhecer, temos que viver algo heroico por nossos filhos, numa continuidade eterna.

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