Arnobio Rocha Política Sem Espírito Olímpico, A Queda.

1332: Sem Espírito Olímpico, A Queda.


As várias quedas (Imagem Golconde - René Magritte)

As várias quedas (Imagem Golconde – René Magritte)

“Sem perturbá-lo a queda, o herói mais agro
Volta impávido à luta, e a ira o esforça” (Eneida – Virgílio)

Momento tão ferrado que apenas ouvir/ler velhos ídolos para aplacar as dores, manter viva a esperança em alguma coisa concreta. Lembro que em 2010, diante da possibilidade de Serra ganhar, pensei em autoexílio, mas tanta coisa aconteceu na minha vida, inclusive a derrota dele. Entretanto a conjuntura de hoje, do Estado de Exceção, parece bem pior, porém não posso nem pensar nisso, completamente preso aqui, por não sei quanto tempo…

Mas minha alma já está exilada, faz tempo. No texto anterior, tratei de alguma similaridade do pós-muro de Berlim, com o possível pós-moro, o retrocesso institucional brasileiro se desenha de forma terrível e inexorável. A reflexão ficou incompleta, também não tenho certeza que se feche com esse post. Retomemos a ideia anterior:

“Os anos seguintes à queda do muro de Berlim foram estranhos, de um lado, a euforia dos trotskistas, com sua certeza de que a nova revolução estava em marcha, que Trotsky voltaria ao Kremlin. Por outro lado, o Kapital estava em festa, fim da história, era o mínimo, não restava saída fora do capitalismo, a retomada do Leste era certa, simbolizada pela refundação alemã.

(A ironia é que temos um quadro tão parecido de herdeiros, do pós-moro, com todas as certezas e as arrogâncias, até o retrocesso histórico, o estado de exceção se completam, a ver.)” (do post O pós-muro e o pós-moro.).

Ao PT parecia que nada muito significativo tinha acontecido (durante o tortuoso ano de 1989), o programa de ruptura com o capitalismo já tinha sido abandonado (com a vitória das teses de José Dirceu – Articulação, no IV Encontro), bem antes da queda do muro. Como a maioria do PT não tinha nenhuma relação ideológica com a URSS, nem com o stalinismo clássico, aquele evento histórico parecia que não atingiria o caminho rumo ao governo central.

Apesar da derrota nas eleições de 1989. Logo um novo levante do impeachment do Collor repôs o partido na cabeça do movimento de massas ainda ascendente no Brasil. Obviamente que as duas derrotas eleitorais seguintes, para FHC, além da enorme adaptação ao sindicalismo de resultados, contribuíram decisivamente para maior rebaixamento do programa do PT.

Sua política de aliança se deslocou da esquerda e centro-esquerda, para o centro e centro-direita, prenuncia o que seria os governos petistas. Mais ainda, a forma de chegada ao governo feita com campanhas eleitorais milionárias financiadas pelos tradicionais dos sistemas corruptos, do toma lá, dá cá, assim, evidencia os estreitos limites de uma mudança mais profunda no Estado, até as reformas mais elementares ficariam em xeque.

A base de sustentação do congresso iria contribuir, no futuro bem próximo, para o processo de criminalização e desmoralização dos principais líderes do PT.  Nesse processo de adaptação exagerada do PT ao calendário eleitoral e o abandono da perspectiva da ruptura, antes de chegar o governo já havia um processo de rupturas internas, como a da Convergência Socialista e pequenos grupos regionais de esquerda, que deu origem ao PSTU. No início do governo, com a reforma da previdência, uma nova leva, deu origem ao PSOL.

Os governos centrais petistas (Lula I e II e Dilma I) foram resultados de um longo processo de acúmulos de lutas e de contradições políticas e sociais. Amplas demandas de tarefas puramente democráticas, jamais foram cumpridas pela burguesia, em todos os governos anteriores, ao contrário, o Brasil de grandes riquezas convivia com a miséria absoluta, com salário-mínimo miserável, desemprego endêmico e sem projeto de governo.

Cabe lembrar do estado de abandono generalizado da Saúde e Educação, mesmo com generosos recursos previstos na Constituição Federal e que nunca eram aplicados integralmente. Por alguns anos, as políticas sociais bem focadas e com acerto geral da economia baseada em exportação, aumento do salário-mínimo (sempre acima da inflação) e ampliação do crédito, fez do Brasil exemplo de crescimento, ainda que sustentado no consumo das famílias.

Mesmo com estouro da crise geral, o país ainda manteve significativas taxas de crescimentos do PIB e do emprego. Até o esgotamento do modelo, o amplo apoio popular garantiu a manutenção desses governos, ao que pese a oposição ferrenha da mídia brasileira, com a escandalização generalizada para colar na testa do PT a corrupção secular, não que ele não tenha participado do jogo sujo, em especial no âmbito eleitoral e dos acordos espúrios para manutenção da tal “governabilidade”.

A bola de neve foi se acumulando, a economia entra em fase de baixa expansão, os projetos sociais são mantidos, mas o crescimento da inclusão, via educação e emprego, começa a minguar. O rompimento final se deu, ironicamente, por R$ 0,20. As jornadas de junho de 2013 representaram a mudança completa de humor e de rumo do Brasil, as feridas foram abertas e expostas, o que foi feito de positivo, rapidamente foi esquecido, todos os erros foram exageradamente quintuplicados.

A fase final é o que vivemos hoje, sem Perestroika ou Glasnot, vamos diretamente para o desmoronamento do Estado, com um vilão bem certo, o PT, a esquerda em geral de forma reflexa. Aquelas rupturas ideológicas, PSTU e PSOL, foram incapazes de se tornar alternativa política, correm o grande risco de sucumbir junto com o muro/moro do PT.

Seguidamente tenho escrito sobre os cenários apresentado, nesses últimos anos, tentando, tolamente, colocar esse rico período dentro de um contexto histórico, analisando com o método de Marx, a crise e as rupturas causadas por ela, mas vejo que não tenho talento para convencer quase ninguém, para uma reflexão mais paciente. Enfim, até desse lado, somos vítimas (ou algozes?) da conjuntura cruel em que vivemos.

Repito o meu mantra predileto: Só a Literatura (Prosa, poesia, música) nos salvará, saravá!

 Save as PDF

Deixe uma resposta

Related Post