Arnobio Rocha Reflexões Mutatis Mutandis

1429: Mutatis Mutandis


Mutatis Mutantis (by w scott nicklin)

“Nada há de sério na existência humana,
Tudo não passa de frivolidade” (Mabeth – W. Shakespeare)

A Classe, ou seja 99% das pessoas, vive sob constante pressão: Terá o que comer amanhã, como pagar as contas que vencem na semana que vem ou, terá trabalho no próximo mês. São as condições elementares para “reprodução e sobrevivência” que vão ditar o animus da imensa maioria de nós. Todo e qualquer outro devaneio sempre foi secundário, pior ainda na quadrada atual.

Parece cruel o que foi citado, mas é apenas a apresentação real, que muito teimam em negar o óbvio, talvez consigam sublimar ou arrumar escapes para a realidade que nos cerca. Também não adianta cultuar o passado como melhor, é apenas uma ilusão, na verdade, o passado é a certeza que se viveu, duro mesmo é encarar o presente, mais complicado, olhar para frente.

Aliás, o para frente, tem seu campo ainda mais reduzido, não ligado à morte, a maior certeza, mas, certamente, as necessidades mais prementes, estão cada dia com perspectiva de vencimento imediato. O além do horizonte não garantiu a poesia do Roberto, de que “deve ter um mundo lindo para viver em paz”, ao contrário, ele se aproxima perigosamente de ser contado em semana, dias, e, explodirá, quando se contar em horas.

O retrovisor pode ser apenas um novo inimigo, pois as mudanças são tão rápidas que precisamos nos adaptar, sem olhar para trás, senão teremos o destino da mulher de Lot. O presente dita o ritmo da vida, a crueza de nossas relações pode piorar o viver (sobreviver) tornando quase sempre insuportável até olhar para os lados, muitas vezes nos cegando sobre qualquer evento sensível.

Essa velocidade dos acontecimentos foi multiplicada por uma aceleração extraordinária das Redes Sociais, com uma ilusão de que estamos mais “próximos”, conectados. É o oposto, estamos mais longes, desconstruídos, lutando por conhecer mais gente, em qualquer lugar, mas não damos bom dia ao vizinho, ao porteiro do prédio, o homem da banca do jornal (ou do jogo do bicho).

Os amores e as relações são líquidas, intempestivas e superficiais, ou não. Pode ser que elas se exaurem em tão poucos  tempo, todos os atos cumpridos, ao sabor da ultra velocidade da fibra ótica que as conectam, mas, que mesmo assim, elas tenham sido vividas numa relação “tempo-espaço” que ainda não nos damos conta, pois estamos no olho do furacão, que, combinada com as necessidades essenciais de sobreviver, não dará tempos de elaborar, o que significam.

De repente uma imagem de fuzil na cara de uma criança numa favela já não choca mais ninguém, vira apenas um “dado da realidade”, líquida ou sólida. Assim caminhamos com medo que um “paraíba” tenha caído do andaime e morrido na contramão atrapalhando o tráfego, pois seguir em frente, é apenas o que importa, será?

Continuamos vendo (vivendo?) mais um capítulo de uma série do Netlix.

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