1493: IO


Leda e o Cisne – Paul Cezanne

“Então, que me vale viver? Por que não me atiro já do alto deste duro
penedo, para livrar-me de todas as aflições arrojando-me abaixo? Melhor é
morrer duma vez do que viver padecendo dia a dia” (Prometeu Acorrentado – Diálogo com IO)

Remontar os azulejos que dão brilho e graça às paredes, seria como acrescentar adjetivos e cores para uma boa história. A criatividade, em ambos os casos, estaria a serviço do encanto que produzirá em que vai ver/ler, se apaixonar pelo que reluz, ser convidado(a) a descobrir além do brilho e penetrar no mundo mais árido de qualquer grande obra, do externo para o interno.

As alegorias que criamos ao escrever fazem parte da sedução para o outro, para tecer redes e o fisgar para nossas letras. Dará vida as palavras, sentindo as frases e completar um enredo. Nem sempre se consegue atingir essa empatia, esse desejo de ler/ver/ouvir um pouco mais, reflete a nossa pouca habilidade de manejo, como também do complexo meio cultural estabelecido em que vivemos.

Assisti ao belo filme IO (Netflix), umas das luas de Júpiter, sua amante, que foi duramente castigada por Hera, a ciumenta esposa. A terra destruída numa hecatombe, porém cem naves partem para colonizar IO, projeto Êxodo, na esperança que lá haja um habitat semelhante à terra. Apenas Sam (Margaret Qualley), uma jovem cientista permanece na terra, buscando um meio de sobreviver à tragédia.

Ela se relaciona por e-mail com Elon, um engenheiro que vive na colônia formada pelas naves que rumam a IO, a recusa de Sam, a vida solitária é interrompida com a chegada de Micah (Anthony Mackie), um professor de filosofia, que tenta a levar para última nave rumo à colônia.

Sensível, cheio de referência gregas, mitos, diálogos bem alinhavados, ótimas referências e, principalmente a reflexão sobre a vida, seus limites, a questão da felicidade, do amor. A complexidade dos relacionamentos, presentes ou distantes. As belas imagens, um cenário que lembra a artimanha de Zeus para seduzir secretamente IO, ele baixa as nuvens sob a terra, escondendo-a dos olhos de Hera.

O futuro da vida na Terra, destruição do planeta, ou como a Terra se livrará de seus destruidores, a humanidade, mais ainda, o que nos resta de humanismo, que nos faria salvar e ao próprio planeta. A consciência ampla, coletiva, ou a consciência de cada um, poderá mudar o ciclo vicioso?

A poesia da escuridão, a terra se fez nublada, por Zeus, ou pela hecatombe, para permitir germinar uma nova semente, uma nova possibilidade, uma metáfora ampla, para um microcosmo, que pode ser de qualquer um, as nuvens, nos cercam, até que se rompa à luz.

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