Arnobio Rocha Tecnologia O Limbo Virtual ou Real da Internet

1514: O Limbo Virtual ou Real da Internet


Descer ao limbo, ou viver nele, uma realidade virtual. (quadro de Andrea Mategna – 1492)

“Desçamos ao mundo onde nada se vê” (Divina Comédia – Dante)

Ao fundo ouço, mais uma vez, a poderosa “A Whiter Shade a Pale”, agora na espetacular versão de The Main Squeeze, as palavras descem no teclado no piloto automático, velhas e novas ideias, um sonho recente, ou uma formulação completa de algo que veio nascendo, que agora se transformará num texto, entre tantos e outros que inundam a internet, esse mundo dos anônimos.

A voz dos milhões da vida virtual, ecoa perdida no Limbo, ou seria no Inferno? Raramente chegará ao purgatório, menos ainda, visitará à ilha dos bem-aventurados. Afinal, o que existe de real no que se escreve?

A questão do Limbo, o local daqueles mestres, poetas, filósofos que vieram antes de Cristo, portanto, não tiveram como conhecer a “verdade”, a noção autoritária de que nada antes, pudesse existir, que tantas vezes é retomada, com algumas nuances mais leves, mas quando olhada de perto, é a mesma sentença, a via cristã, é apenas mais uma, como outras escatologias religiosas, nem tão românticas, salvando menestréis.

O lugar-comum das vozes soltas e roucas, ecoam nos vastos ciclos do infernum, que caprichosamente foram desenhados, para qualificar os nossos pecados, capitais, ou não, amedrontando os fiéis (ou seriam infiéis), a punição de milhares de anos, os castigos. O que atraí é que nada parece verdade, nem pecado, muito menos expiações, rompemos o Limbo, então, caímos na tortura.

A magia da purgação, de que algum dia, o comportamento mediano, nem tão pecaminoso, mas também, não pio, pode ser perdoado, em longo prazo, com castigos mais leves. O ser humano fica fazendo meio de campo, sem exercer o que há de melhor na existência, mas vacila, então sabe que ficará entre o pecado e a benção, na ilusão de que um dia será aceito, no clube de cima.

Por algum critério estranho, o bom selvagem, aquele que foi expulso do excelso Paraíso, pode voltar, ao convívio dos eleitos, que coisa sem o menor sentido, ou lógica, mas a vida, a existência, carecem, de vez em quando, dessa mesma falta. Então, a maçã, a Eva, o anjo da luz, que corroboraram com os planos do divino, pai de todos, para que essa existência, ganhasse cores, quer a palidez dos bem-aventurados?

A beleza das grandes obras é nos fazer refletir sobre o que somos hoje, como vivemos e repetimos ou que já foi vivido, mas que a modernidade pensa ser novidade “nova”, raramente, são. Ler a Divina Comédia, quem sabe ajude a entender o que é mundo virtual, que se pensa que fora criado pela internet.

Aos poetas, a luz.

Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno

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