Arnobio Rocha Diário de Redenção Sete Vezes o dia 18

1524: Sete Vezes o dia 18


É sentar ao lado de alguém que não está mais aqui…

No existe un momento del día
En que pueda apartarme de ti
El mundo parece distinto
Cuando no estás junto a mi”
(Contigo en la distancia – Cesar Portillo De La Luz)

Os meses avançam, as estações se sucedem e muitas vezes me sinto naquele claustrofóbico hospital, preso ao que não posso mudar, o corpo se desloca, se movimenta, tantas coisas realizadas, ainda que a mente não se livre da cena, do que fomos obrigados a viver, como parte de uma nova consciência, de uma possibilidade de renascer e não se entregar, é o que nos debatemos, nesses sete meses, nesse 18 que se repete.

Todas as lágrimas são derramadas, mas parece pouco para preencher o vazio que não será preenchido. A dinâmica da vida, da luta pela subsistência se tornam mais fortes e temos que seguir, sabe-se lá como, não obstante (Letícia amava essa palavra, escrevia e se encantava com o efeito), algo no impulsiona, pode ser apenas o instinto de sobrevivência que nos impulsione a caminhar em frente.

O que se percebe é que os novos/velhos conflitos se impõem, muitas vezes, momentaneamente, nos faz esquecer a dor cortante, que vai das costas, passando pelo peito indo até a cabeça, outras vezes, os braços pesam demais e puxam os ombros para baixo. Descrever o que se passa não é uma coisa simples, entretanto é a forma de jogar para fora nossos sentimentos.

Algumas coisas começam a ficar mais claras, a cada dia, a principal delas, é que a vida ganhou uma outra dimensão, outro sentido, consegui me livrar de vários pesos, como num balão, vamos jogando fora aquilo que não tem importância, que apenas não permitiam voar melhor, subir mais alto, olhar mais longe, enxergar outros horizontes e possibilidades, antes não vistos.

A vaidade é o maior peso (morto) que abandonei pelo caminho, nesses sete meses de luto, o mais triste é que precisou de um evento tão grave para me livrar de algo tão ruim, como somos estúpidos, ainda que parecemos inteligentes, carregamos em nós uma característica tão contraditórias e que represente forma negativa de personalidade e que nada contribui para vida.

A arrogância também vai se esvaindo, esvaziando, abriu-se um clarão, no meio da escuridão, de que não é preciso dela para nos afirmarmos, ser reconhecidos, quanta tolice praticava apenas por ser arrogante?

As questões menores, que tinham tanta importância, pereceram, ou estão sumindo, obviamente que não nos tornaremos monges, mas procuramos melhorar, na segunda parte da vida, uma chance ganha, que procuramos ter outra visão de mundo, convivência, respeito ao outro.

Dito isso, só posso agradecer à minha Leleka, cada vez mais viva em mim, em nós, ainda que a saudade seja maior, o que derruba a ideia de que o tempo apaga e aplaca a saudade, bobagem, mas compreensível que seja dito como forma de esperança e de que se deve continuar a viver.

Obrigado, Lê, te amo!

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