1526: Chernobyl


Chernobyl uma série imperdível, grandes debates e reflexões.

Acabei de assistir ao perturbador seriado Chernobyl, da HBO, dirigida por Johan Renck, com um excelente elenco, reconstituição de uma época perfeita, roteiro extremamente bem elaborado, tema dos mais importantes, não apenas pelo acidente, catástrofe, mas para entender um período histórico, a vida do lado soviético que, ainda se constituí como um mistério para quase todo mundo.

Dois paralelos veio à mente, um o que fazia em abril de 1986, quando do desastre daquela usina nuclear, na divisa da Ucrânia com a Bielorrússia. Naqueles mês era de intenso debate político, o Brasil se preparava para eleição do congresso, que seria constituinte decisivo para o destino do país, depois de 21 anos de ditadura, no movimento estudantil a briga era com o PC do B que fazia parte da base aliada de Sarney.

O Plano Cruzado enganava a população, os fiscais do Sarney nos supermercado e nós nos debates fratricidas na esquerda. Naquele abril de 1986, tivemos um congresso estudantil de Escolas Técnicas Federais em Curitiba, levamos uma delegação de Fortaleza até lá, de ônibus, a disputa política na viagem e no congresso era franca, além do embate nacional, a luta entre soviéticos x albaneses x poloneses (solidariedade) x IV internacional.

Fazia parte do primeiro grupo, na verdade, trafegava entre prestistas e petistas, com uma paixão na IV, mas como os albaneses eram maioria no movimento estudantil, esquecíamos as divergências e nos aliávamos. Quando vem a notícia de Chernobyl, tudo aquilo nos deixou atônito, um camarada recém-chegado da URSS falando maravilhas da Perestroika e Glasnot e falava de um novo Lenin, o prefeito de Moscou, Boris Yeltsin. Imagine a confusão em 1986.

O segundo paralelo, é minha trajetória em Telecomunicações, especificamente nos tensos momentos em que tínhamos que fazer modificações de software, troca de sistemas operacionais, ou correções (patchs) graves por mau funcionamento na centrais de telefonia, especialmente, nos sistemas celulares. Havia uma cadeia de comando e uma enorme responsabilidade em cada ação.

O caso Chernobyl me fez refletir sobre quantos riscos e extremo estresse passei em 28 anos de telecomunicações, das vezes em que estive aplicando modificações, com medo de errar, ou com a experiência, que elaborava as rotinas que seriam aplicadas, quase sempre fazia questão de ir aos à central telefônica e conferir passo a passo se as modificações surtiam efeito.

Outras vezes fazia modificações diretamente da minha mesa, era uma adrenalina incrível, o que fizemos era algo no limite do estresse, milhões de pessoas podiam ficar sem falar por horas, em caso de falhas, que aconteciam, claro. O que dirá numa operação de uma usina nuclear, numa sociedade extremamente hierarquizada, com a obediência cega aos dirigentes, quase sempre incapazes e burocratas sem preparo.

A série tenta mostrar o fracasso soviético como um todo, mas, por um exagero, acaba trazendo um outro lado desconhecido e interessante, como havia, sim, debate, ainda que a KGB pressionasse, tantas ações críticas aconteciam, impossível controlar tudo. Como também o que houve de erros, teve de heroico, o que contradiz a ideia inicial.

Imperdível.

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One thought on “1526: Chernobyl”

  1. Passei o 1º ep dizendo a cada 2 minutos: esse tá morto; esses já morreram; e os caras continuando a entrar, a fazer, a tentar… Se o seriado mostra um coisa é heroísmo. Li não sei onde que só aconteceu porque foi na URSS e só não foi pior porque foi na URSS. Os bombeiros, num ep seguinte, meu deus, heroísmo cego. Aqueles povos nasceram pra heróis, têm um gene no DNA deles onde está escrito em letras garrafais: H-E-R-O-I. Adorei ler Wolfs eat dogs, do Martin Cruz Smith, que se passa quase todo na zona de exclusão, pra saber que muita gente ficou por lá… e que deixavam seus cachorros presos porque senao os lobos comiam.
    Em 86 eu xingava Sarney e Yeltsin…

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