Arnobio Rocha Política Cenário Político: Seis Meses Jogados Fora.

1529: Cenário Político: Seis Meses Jogados Fora.


Um governo sem rumo e sem direção.

O Brasil vive um impasse que se arrasta desde 2013, com o avanço da Direita, sua predominância nas ruas, jogou nas cordas o governo petista, mas não foi capaz de vencer as eleições de 2014. Entretanto, tal vitória ficou limitada por um congresso hostil que impediu-a de governar, numa combinação entre Eduardo Cunha, Lava Jato, mídia e os movimentos de direita nas ruas, o desfecho foi o trágico golpe de 2016.

A ilusão vendida de que bastava tirar a Dilma, que tudo se revolveria, não se realizou. Temer terminou um governo bisonho, as tais mudanças econômicas, só viriam depois do embate eleitoral de 2018.

Durante o governo Temer, a ofensiva sobre a classe trabalhadora foi uma das mais selvagens da história recente, os ataques em várias frentes, com uma brutalidade poucas vezes vistas no Brasil, piorando com o governo eleito, nas medidas contra os trabalhadores em todas as frentes.

Os cortes nos direitos sociais e trabalhistas, serão sentidos por vários anos, a proposta de reforma da previdência, ainda que incerta, significa o fim da aposentadoria. O enorme desemprego e o subemprego, baixos salários, em substituição às vagas existentes demonstram a força do Kapital em impor sua agenda, a queima de força produtivas é vital para que a Taxa de Lucro se retome aos patamares anteriores e garanta um novo ciclo do Kapital.

A aposta de que haveria uma recuperação, no novo governo, ainda não passa de uma ilusão, pois, além do desastre interno, a economia mundial se encontra a ponto de uma nova grande crise, de superprodução de Kapital nos EUA, não acompanhada na Europa e na China, ameaça uma nova ruptura, com previsões piores do que a de Crise de 2008.

O Brasil, desde o Golpe, vive suas próprias contradições e descompassos, sem que as eleições tenham apontando uma saída para o grande impasse. O eleito não tem nenhum projeto, nenhuma ideia econômica e traquejo para governar.

A eleição de Bolsonaro não mudou a situação complexa do buraco político-jurídico-ideológico que o país se meteu, que de alguma forma guarda semelhança à Ditadura, sem milicos, mas com civis protagonistas, usando o judiciário como cabeça-de-ponte, não cria ambiente de solidez para atrair novos investimentos, nem mesmo do Kapital abutre.

O governo Bolsonaro é absolutamente bizarro, com um presidente sem nenhuma capacidade de liderar qualquer mudança, essas incertezas do Kapital impedem um novo aporte para esses lados. Nem mesmo a queima de suas empresas estatais a preço de banana, consegue atrair investidores e/ou especuladores, há uma desconfiança generalizada da capacidade de liderança local.

Do lado da classe trabalhadora, o refluxo do movimento sindical e social são evidentes, por razões óbvias, externa: GOLPE, desemprego, ataque brutal aos direitos trabalhistas e sociais, a miséria que voltou à ordem do dia. E razões internas: Os anos de distanciamento do movimento social, burocratismo e sugados pela institucionalidade burguesa, hoje, cobra um preço alto demais, o que explica a facilidade do golpe e da rapidez do processo contra Lula.

Obviamente esse é um curso, um processo, que não se deu em 2013 ou 2016, mas um longo caminho que a esquerda, o PT em particular, trilhou. A decisão consciente de um novo eixo levou às alianças cada vez mais amplas, mas que permitiu chegar ao governo central. Contraditoriamente, os Governos Lula I e II e Dilma I, tiveram vários avanços econômicos e sociais, mas esse sucesso teve alto preço, vacilo e adaptação integral ao Estado e sua máquina, abandono das ruas e pouco apreço aos movimentos sociais.

O reflexo dessa adaptação se sentiu nas terríveis nomeações ao STF, STJ, PGR, PF, o que facilitou enormemente no estado de coisas atuais. O GOLPE foi um passeio no parque, nenhuma resistência social, política ou jurídica, o medo dos paneleiros e dos patos da Paulista/Leblon, facilitou o serviço da Globo e seus acólitos, que deu todo o combustível à famigerada lavajets.

A cereja do bolo foi a prisão de Lula, mais uma vez sem resistência de massas

A Direção Política se fragilizou enormemente, aliás, em certa medida, ela implodiu. Como parte da contradição geral, as frações majoritárias do Kapital não conseguiram viabilizar nenhuma candidatura forte, teve que abraçar a esdrúxula campanha de Bolsonaro, sabendo de todos os problemas graves do entorno da família e suas relações com milicianos, mas era isso ou o PT, não tiveram pudor em abraçar o que havia de pior, entre os piores.

Essas reflexões não apontam dedo para ninguém, não há uma necessidade caça às bruxas, mas de uma profunda autocrítica, se acharem que vale fazer, sem que nos paralise e fiquemos reféns de um ato de contrição, do “eu pecador”, longe disso.

Deve-se afastar de qualquer teoria da conspiração de que há “lucro” na prisão de Lula, que torná-lo mártir trará benefício para alguém, ou alguns, ao contrário, seu cárcere, é nossa prisão, de alguma medida, expõe nossa fragilidade e mazelas.

Vivemos espasmos de espontaneísmo, voluntarismo e pouca clareza do momento trágico que estamos passando e passaremos mais, por quanto mais tempo Lula estiver preso.

As recentes revelações do site The Intercept, o escândalo #Vazajato, deu mais um ânimo, pois trouxe as provas e os indícios, do que antes era apenas uma construção teórica-lógica, de que a lavajets é operação que manipulou e agiu deliberadamente para destruir a esquerda, especialmente o PT, sendo a prisão de Lula o “troféu” que é usado para mobilizar uma classe média catatônica, feita zumbi, sem nenhum reflexo crítico.

Ao mesmo tempo, percebe-se que há, nesse ambiente caótico, um arvorecer de resistência, pequeno, mas muito consistente, surgindo e abrindo espaços generosos para novas lideranças, especialmente Boulos (PSOL), Manuela D´Ávila (PC do B), uma nova composição forças no congresso para combater o famigerado governo Bolsonaro e sua família.

Como parte desse novo momento se pode dizer que: Nunca se fez tanta política em tão pouco tempo como nesse ano, a necessidade de fazer alguma coisa de concreto despertou essa militância, em todos os campos, na política, nos sindicatos, nos movimentos sociais e no meio jurídico. Todos misturados, não apenas na defesa de Lula, mas da Política e da Democracia.

À Luta!!

 

PS: Num grupo de Whatsapp que participo, Sergio Storch fez um aporte ao texto que publico a segue:

“Maravilhosa síntese, @Arnobio Rocha . De um ponto de vista estratégico, ao parágrafo final, eu acrescentaria uma ideia-força, com algumas características específicas à nossa bandeira:

“a necessidade de fazer alguma coisa de concreto despertou essa militância, em todos os campos, na política, nos sindicatos, nos movimentos sociais e no meio jurídico. Todos misturados, não apenas na defesa de Lula, mas da Política e da Democracia.”

Qual a ideia-força:

– a necessidade de a resistência se entrincheirar em bandeiras temáticas, como a nossa, e como as da seguridade social, educação, defesa do SUS etc…

– de, em cada trincheira,enraizar na sociedade o movimento específico. Por exemplo, o nosso se enraizar em cada região, levando o debate e a mobilização para dentro de cada campus universitário, através dos estudantes das faculdades de Direito…

– e, em cada trincheira, abrir espaço para irmos além do “contra”, e começarmos a construir propostas para amadurecerem como alternativas reais inteligíveis para a população, e efetuarmos um trabalho de base cumulativo.

– No nosso caso, começarmos a esboçar algo além do “pacote é fake”, e dizermos à sociedade os contornos de uma reforma democrática no sistema de justiça que possam ser levados mais cedo ou mais tarde a uma possível Constituinte, mas que possam imediatamente se refletir em políticas públicas concretas nos estados sob governos progressistas…

Em cada trincheira pode haver processos de amadurecimento em ritmos distintos, e processos de educomunicação na sociedade em profundidades variadas conforme as estratégias e capacidades de mobilização. É somar visões de futuro ao #LulaLivre, de modo a tirar a sociedade da catatonia do Fla-Flu”.

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