Arnobio Rocha Política A Situação está Negra…Errado, está e é Branca.

A Situação está Negra…Errado, está e é Branca.


Cara gente Branca…vale ver.

“Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro”.
(Vida Obscura – Cruz e Sousa)

No meio de um discurso espetacular, sobre a grave situação política, jurídica e social do Brasil, o orador vai fazer a metáfora das cores:
– A situação do Brasil está “negra”, sombria, é muito grave.

Gelei na hora, cabeça passa um filme de terror, que ano estamos? Qual século?

Vejamos, um homem branco, bem sucedido, democrata, viés de centro, amigo da esquerda, mas incapaz de superar algo maior em nosso inconsciente coletivo (branco), o racismo velado. Longe de mim falar que ele seja racista, abjeto, não é um simples ato falho, é uma cultura arraigada, terrível. É a maldita sentença do “brasileiro cordial”, cordial com quem?

O mais louco é que na mesma semana em que o desastrado (des) governo Bolsonaro, com ele produzindo mais uma terrível declaração: “O índio não faz lobby, não fala a nossa língua e consegue hoje em dia ter 14% do território nacional”. Que bandidos, não é não?

Voltemos ao filme.

O homem branco europeu, de Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda, veio à América, nome que eles deram às essas paragens. Dizimou cerca de 80 milhões de vidas dos povos que aqui viviam. Insatisfeitos com a matança e com a “preguiça” (e resistência) à escravidão dos povos daqui, foram à África e sequestraram 15 milhões de vidas, homens, mulheres, crianças e escravizaram por séculos.

“Benevolentes”, os homens brancos deram à liberdade aos escravos, depois de milhões de mortes, estupros e toda sorte de violência, sem nenhuma. Óbvio que esse povo, não sairia da senzala para comer na mesa da casa grande, os benevolentes fizeram publicar leis e determinaram o uso da força policial para manter uma semi-escravidão ou a completa submissão dos negros e negras por mais um século.

Com as lutas e a lenta, desigual, incorporação dos negros e negras ao mercado de trabalho e de consumo, passaram a ser “aceitos e aceitas”. É preciso dizer que houve um avanço maior nos últimos 50 anos, não sem que as condições de discriminações e sociais fossem rompidas.

Ora, o mundo do homem, branco, diante das graves crises políticas, econômicas e jurídicas, recorre à famigerada metáfora da cor, para designar o que se vive, uma espécie, inconsciente, de culpabilizar o povo negro pelas crises.

Sinto dizer, se há algo que me resta na vida, é a capacidade de indignação, sem sentimentos de culpa, pois não uso religião como critério, mas por entender as mazelas do capitalismo e dos seus dirigentes, vejam só, brancos, que empurram a humanidade para o ralo.

Mais ainda, devo dizer, a Situação está Branca, nós, brancos, somos os responsáveis pela desgraça geral do Brasil e do mundo. Pois, se temos todos os bônus, por que fugimos do ônus?

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