Arnobio Rocha Política Ideologia e Política – A Paciência Contra as Rupturas

Ideologia e Política – A Paciência Contra as Rupturas


As lutas pelo mundo para defender a Democracia contra o Estado de Exceção (foto AP)

Confundida coa nobre e infame essência,
breve reverte o mundo à prisca idade;
volve o caos, é morta a Providência.
(D. Quixote – Cervantes)

A paciência humana, revolucionária, há muito foi abandonada.

Nota-se, a olhos nus, que todos são empurrados para parede, sem qualquer possibilidade de recuo, tudo ou nada, o extremo das relações e só há uma saída, romper. Isto ficou tão simples que se repete, nas relações políticas e sociais, a mesma lógica dos “15 minutos de fama”, ou melhor, de amizade, respeito e convivência.

Nem se tenta aprofundar uma divergência, um olhar diferente sobre um fenômeno, sobre um processo, quanto mais ainda na análise da conjuntura, a leitura de um cenário complexo. Ou se estabelece um consenso ou rua, há pressa de coincidir ou não com aquilo que se pensa, senão, é o sinal final de que se deve romper.

Esta prática se espalhou de forma vertiginosa com o advento das redes sociais, aqui, a extrema urgência de tudo, parece que a velocidade é acelerada demais, precisa-se de respostas para ontem: Amor, Ódio, ideias, grupos, acordos e rupturas.

Os embates duram alguns poucos segundos, uma palavra mal (ou bem) colocada pode levar ao afastamento, que em regra, significa que todos os demais “amigos”, também rompem, uma sensação terrível de vazio, uma frustração de que algo não tenha se desenvolvido, um coito interrompido, uma ejaculação precoce.

É uma falsidade dizer que existe convivência com pluralidade de ideias nas redes sociais, a tolerância mesmo dentro de grupos de interesses comuns, é muito pequena. A coisa é muito rápida, as relações se dissolvem num instante, num segundo.

O autoritarismo, a falta de espírito coletivo, da troca paciente, da aproximação debatida, quase não existe, o que predomina é o: Ame-o ou Deixe-o. Visto de um ângulo mais amplo, aquilo que prometia ser uma nova era de contatos e vivências, se demonstrou que prevalece o lado mais tirânico e individualista. Parece que, individualmente, temos todas as respostas para vida e daremos solução para tudo.

Um terrível e trágico engano.

As velhas certezas absolutas predominam de forma cruel, mesmo assim, é incrível como a “verdade” se fragmentou diante de tantas convicções, e que a maioria delas jamais tenham sido experimentadas. Entretanto, são dadas como dados da vida, não carecendo de menor prova, é assim, porque assim é.

Qualquer contestação, mesmo que respeitosa, abrindo um diálogo é tomada como ofensa, pois detemos o poder de que estamos “Certos”, quem ousaria nos contrariar? Estamos certos, apenas por estarmos certos.

Além disto, talvez o pior do momento, é esse vai e vem ideológico e político, ao sabor dos ventos, as mudanças para posições antagônicas, sem uma explicação plausível, como se não se tivesse nenhuma obrigação de falar sobre as razões, quando dessas mudanças radicais de posição ideológica e/ou política.

É fundamental que os companheiros que têm mais tempo na estrada, com mais janela política, assumir mais obrigações, de ter mais paciência e pelo menos mais coerência no que escreve e fala publicamente, senão nos tornamos uma farsa ambulante, além de péssimos exemplos aos mais jovens. Podemos nos diferenciar no meio desta geleia geral que tentam nos jogar.

Este tem sido meu pequeno esforço, minha pequena contribuição, defender com certa lógica e honradez um legado histórico que acredito e luto por ele. É quase um apelo tolo, um ato de fé, pela firmeza ideológica e lucidez, no meio do caos e da barbárie.

Aqui estamos, bem-vindos aos que ainda acreditam, vamos em frente.

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