Arnobio Rocha Política O Rito de Vida e Morte no STF

1736: O Rito de Vida e Morte no STF


STF é um destruidor de mentes e corpos, ninguém entra e saí de lá impune.

“preferiria ter de pensar de novo estas feridas a ouvir contar como cheguei a obtê-las” (Coriolano – Shakespeare)

Li hoje numa dessas colunas de jornais de que a ministra Cármen Lúcia estava revendo suas posições sobre o ex-presidente Lula, tocada pelas revelações da Vaza Jato e sobre fatos que afetaram a D. Marisa Letícia. Ao pensar em STF, penso em mitologia, em seres mitológicos e suas glórias e tormentos, nada de anjos e demônios, para além do bem e do mal.

Um (a) candidato (a) à ministro (a) do Supremo Tribunal Federal (STF) deve cumprir uma agenda muito similar ao que os antigos candidatos ao Senado Romano tinham que fazer, quem leu Coriolano, de Shakespeare, terá uma boa ideia do rito iniciático.

Era preciso rasgar as vestes e mostrar as “feridas” de guerra, aqui, o processo é menos menos cruel, não menos desmoralizante, tem que demonstrar algum conhecimento jurídico, mas acima de tudo, uma imensa capacidade de se comprometer com a agenda de quem está  no Poder, numa frase: “Mato no peito”.

Vencida a corrida, a sabatina quase inócua do senado, ali além das vestes, mais coisas são desnudadas, a felicidade enorme toma conta da (o) cidadã (ão), seu maior sonho da vida, está prestes a se tornar seu pesadelo.

O passeio entre o senado e o STF, no Uber conduzido por Caronte. O novo ministro, ou nova ministra, então, será submetido (a) aos três maiores juízes, a saber, Éaco, Minos e Radamanto, ali decidi-se em qual turma, câmara, colegiado ele (ela) terá que pagar suas penas.

Quando esse (a) novo (a) Ministro (a) chega ao STF, ele/ela lê uma tabuleta gravada, logo na entrada do prédio, de igual forma a que tem na porta da cidadela de Dite (no Inferno), os versos:

“ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!

Ainda atordoado (a), o/a neófito (a) é conduzido (a) pelo decano e ganha seu primeiro presente, um banho e/ou bebe a água, dependendo do tamanho da vaidade, faz as duas coisas, essa água é trazida diretamente do rio Lete, o rio do “Esquecimento”, assim ele/ela se purifica, estando pronto (a) para vestir a capa que lhe cobrirá uma certa vergonha, a capa da invisibilidade (o segundo presente), como a do Harry Potter.

Os anos em que cumprirá sua pena, o/a ministro (a), quase que por um milagre, defenderá teses contra suas convicções, quando as tinha, será alvo das críticas dos velhos amigos, que não mais o/a reconhecerão com a capa preta, outros, bem poucos por submissão, interesses, manterão certa fidelidade de interesses raramente republicanos, novos e novas amigos (as) lhe farão à corte, pois o poder atraí todos os tipos.

A velhice lhe baterá à porta em menos de um ano no STF, o processo de envelhecimento é cruel, os cabelos, a pele, as dores, lhe denunciarão não a idade real, mas o peso que lhe será cobrado. O pacto com Mefistófeles tem data e hora de pagamento, é inescapável.

Porém, na virada do tempo, o/a ministra (o) recebe o seu terceiro e último presente, o banho nas águas vindas do rio Mnemósine, cujo poder é recobrar a memória sobre tudo, do conhecimento, da sabedoria, é o canto do cisne, do poder que vai passando.

Esse novo presente lhe fará retomar a vida, uma biografia, uma possibilidade de que não seja mais repudiado (a), as boas amizades são refeitas, os cabelos e a pele, não lhe negarão a idade, mas também é interrompido o processo do decrépito envelhecimento.

O tempo de vida será curto, mas ainda possível curtir e repensar o que foi feito, discretamente, para que a roda vida dessa lógica, jamais se quebre.

E ainda tem gente que defende a vitaliciedade, quanta crueldade, outros, mais sensatos, mandatos de onze anos, o que parece mais justo, enquanto, segue o show.

É por demais trágico e humano!

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