Arnobio Rocha Filmes&Músicas O Tigre Branco – A Sobrevivência no Caos!

O Tigre Branco – A Sobrevivência no Caos!


A dura realidade de uma sociedade dividida em classes e castas.

Por sugestão do Professor Pedro Serrano⁩ vi ontem um dos filmes mais duros dos últimos anos, O Tigre Branco (Netflix), em que retrata a horrível realidade da Índia, exatamente como ela é. O que de certa forma guarda muitas questões  próximas com a miséria endêmica do Brasil. Os guetos de riquezas e o resto e tudo mais, uma relação de completa de ausência do Estado.

O filme segue a mesma linha de “Parasitas”, mas não é uma versão dele para Índia, tem mais amplitude, analisa de forma mais cruel as relações de classes, castas, tradições e da cultura milenar de um país fascinante, um povo, ou povos, convivendo numa caldeirão pronto para explodir, mas segue e não explode.

Dirigido por Ramin Bahrani,  conta a estória de Balram (Adarsh Gourav), um motorista extremamente inteligente e com enormes ambições. A narrativa Bollywood pode ser um problema inicial, nem sempre muito apreciada por esse lado, muitas vezes parece filme B de Hollywood.

Esqueça isso, a ideia do filme é genial, a forma como conta a epopeia de Balram, através de um e-mail que ele escreve e que seria enviado ao primeiro-ministro chinês, que faria uma visita ao país, os gigantes populacionais unidos por uma poderosa aliança de comércio, produção e geopolítica.

Desse pressuposto, a narrativa desce para províncias distante, na extrema pobreza sem meio termo, sem qualquer mediação, tudo ali é real, inclusive, a metáfora fundamental de como funcionam as castas, principalmente, a luta de classes, num país em que convivem praticamente todos os sistemas econômicos, Escravagismo, Feudalismo e o predominante Capitalismo, todos eles unidos, moldados pelas religiões e costumes milenares.

As relações sociais e econômicas em alguns países não tem exatamente a dinâmica do capital, do contrato, as relações de informalidade refletem, no caso, as castas sociais, a impossibilidade de ascensão social, as inseguranças físicas e jurídicas sobre o presente e do futuro.

A radicalidade da solução do Tigre Branco, parece chocar mais do que o regime de castas e ultra exploração, a violência mitigada no dia a dia, parece “não-violência”, enquanto uma ação extremada é vista como tal, o lembra Bretch ao escrever que “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprime”.

A crítica social e política não se resume a auto sobrevivência, mas aponta para uma mudança sobre as relações econômicas, capitalistas (é o que de mais avançado se teria ali),  de fato, e um avanço num país em as relações humanas são mais aviltadas do que a exploração direta do capital x trabalho.

Nascer e viver numa sociedade cujo maior peso é a tradição, ou com certos aspectos da psique que para nós, ocidentais, nos escapa. A conclusão de que quem nasce nas castas baixas só podem sair do galinheiro pelo crime ou pela política, não deveria nos chocar tanto, é uma dura realidade, que não conhecemos e nem vivemos.

O filme é duro, forte e cruel, não dá margem a qualquer coisa leve, é porrada.

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