1788: Insondável


O Insondável, o inacreditável, o limite do viver.

“Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.”
(Hamlet – W. Shakespeare)

Perder um (a) filho (a) é muito pior do que perder a própria vida, ainda mais se ele (a) já tivesse maturidade intelectual, é mais sufocante, mais inacreditável e dolorido.

No meu caso se não fosse pela outra amada filha, teria sucumbido, não tenho dúvida quanto a isso, pois a dor é insuportável, dói diariamente, uma ferida aberta, ou águia de Zeus que todos os dias come o fígado de Prometeu, não o mata, apenas o fere e faz lembrar do poder da dor, incomensurável, repetida, mal dar tempo do órgão se recompor, mais uma bicada, assim como a mente que teima em lembrar o sofrer,

O rochedo e seus grilhões, o tempo daquelas ondas quebrando, a sensação de morte em vida, de vida em morte, um estado impreciso, uma zona cinza de ideias e sentimentos, de pouco ou nada a fazer sentido.

A reflexão diuturna é se perguntar, por que eu? Por que ela? Por que não eu, ao invés dela? Sem nenhuma resposta racional, sem nenhuma crença no irracional, a mente ficar circulando, numa especulação sem solução e de incompreensão, o tempo passa, as tarefas da “vida” veem, vencem, criando um ciclo vicioso sem fim, ao mesmo tempo que sou incapaz de ligar o libertador: FODA-SE!

Como diz o bardo inglês de que a Reflexão faz de todos nós covarde, nada tão cruel quanto isso, o circunlóquio de Hamlet é a referência de que nada farei, apenas deixar vir, deixar acontecer. Foram dias de muitos sonhos com Letícia, de presença/ausência, que me empurra para um lugar nenhum, um limbo existencial, onde não há sentido, sentimento, senso e sensibilidade.

Não obstante, é buscar estratégias de continuar, seguir. Encontrar em música, filme, livro, algo que mostre um caminho.

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