Arnobio Rocha Reflexões Azedume de Domingo

1823: Azedume de Domingo


O Entediante domingo nosso de cada dia e multiplicado pela Pandemia.

Por alguns milésimos de segundos vi a Letícia, deitado, entre o sonho e a vontade de vê-la, foi tão rápido e tão real, como todos as viagens oníricas, quase não captamos o que vem, nem curtimos as frações segundos dessas sensações mágicas.

Bem, hoje é domingo, ou o que sobrou de calendário, então é possível que tenha sido um sonho lindo, ela partiu, assim, num domingo e ele é meio cruel comigo e com minhas memórias.

O que vem à cabeça é que no fundo a vida é uma longa sucessão de projetos não realizados, na maioria das vezes devemos ficar satisfeitos se algum deles funcionou, isso não é resignação, apenas constatação.

O mais arrojado desses projetos é de ser feliz, achando que é uma coisa enorme e obrigatória, tolice, felicidade é algo pequeno, raramente grande e duradoura, que quando menos se espera, já passou e nem nos damos conta de que não aproveitamos.

Aceitar que só se tem a incompletude, será que a plenitude nos rouba as forças, causa o pânico, tira o chão dos pés,  traz o receio de que não se vai ao extremo do mundo, muito menos ainda ao extremo dos sentimentos: Amor, paixão, ódio, apego, amizade, sexo e prazer, nada de Êxtase (sair de si)?

A conjuntura geral impede grandes ousadias (ou seria o contrário?), empurra para um terreno pantanoso, ambiente de raríssima solidariedade, em que predomina o “salve-se quem puder”. Como se cada um precise se salvar de alguma coisa maior, nos fechamos, parece até natural. Impossível medir o desespero ou desassossego que nós passamos, até onde é egoísmo, até que ponto é “estado de necessidade”?

E na era dos extremos não será bem vivida pela nossa mediana existência, qualquer ponto acima dos 3/4 (75%), sairá da normalidade, do padrão. O isolamento, a Sibéria virtual, é o castigo dos que se arriscam, mesmo os falsos “espíritos livres” que andam por aí, e que na imensa maioria das vezes, nem ao 3/4 chegam, morrem nos 2/3 ou vive nos dois terços, mas representam tão bem que enganam, porém com o olhar atento, basta aumentar a lente e verá mais um medíocre em cena.

O inusitado é que vivemos a fase do retorno às trevas, do 1/4 (25% e olhe lá), do eterno dia da mentira ou de apenas do 1 em 4, mesmo os mais brilhantes e descolados, vivem em suas jaulas pessoais, rompem e desprezam aqueles que poderiam apenas os acompanhar numa nova jornada,

Porém, suas aparentes irreverências, se revelam menores, pois vivem se achando acima de 3/4, nem desconfiam do autoengano, distribuem imagem, jamais essência.

O azedume de domingo.

 

https://www.youtube.com/watch?v=r5iQzD2Bs5Y

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