Arnobio Rocha Política Desapego pelo Poder

1921: Desapego pelo Poder


Homenagem da OAB/SP aos dirigentes das suas comissões, gestão Caio Augusto – 2019/2021

Umas das melhores coisas que aprendi na minha vida e na militância política de longa data, foi de que somos apenas passageiros, não devemos nos apegar aos cargos, posições ocupadas, muito menos nos deixar seduzir pela nomenclatura, pela forma de tratamento pomposa que se preenche, mas que não nos pertence.

Ter uma relação saudável com as entidades, com as instituições, ser apenas uma parte delas, às vezes com relevância, quando se galgar as posições de comando, de decisão, é uma responsabilidade e uma honra, mas jamais esquecer de que isso é transitório, que em algum momento seremos substituídos, que outros (as) virão para fazer algo mais e quanto melhor deixarmos, mais seremos respeitados.

O momento mais difícil não é o de se chegar a um cargo importante, mas o de sair dele, de dar o lugar, isso mexe com  nossas fraquezas humanas, nossas vaidades, a sensação de vazio, muitas vezes se sentir preterido, ou de que houve qualquer injustiça, de que, por nossa capacidade (vaidade), sabemos mais, temos mais experiência, pode até ser verdade, mas não é insubstituível.

No início da minha trajetória política, por uma série de boas coincidência da vida, características pessoais, cheguei à liderança do movimento estudantil na Escola Técnica Federal do Ceará, fui o presidente do Grêmio Livre, a reconstrução dele, após a ditadura, era muito jovem, aquela adrenalina e muito estudo, debate e embates políticos.

Dirigir assembleias, greves estudantis, ocupação da casa do Diretor da ETFCE, as reuniões tensas, manter uma condução firme, mas democrática, dialogar com as correntes políticas, tudo sendo aprendido na prática. Dessa atuação fui para vice-presidência da entidade estudantil metropolitana, com maior visibilidade e muita responsabilidade.

Depois fiz parte das articulações nacionais e aquele garoto da periferia, estava voando mais alto, viajando pelo Brasil, conhecendo tantas realidades distintas, pessoas, sonhos e um mundo cheio de ideias, de mudanças, que facilmente se sucumbi, ou se faria qualquer para dele não sair, a projeção e a sedução de poder.

A firmeza ideológica e uma certeza de que cada missão, etapa, deveria ser cumprida bem e depois desapegar, passar a vez, virar Ex, de que foi intenso e bom, mas seguir em frente é sempre melhor e saudável, a lição de Orfeu, Lot, de não olhar para trás.

Lembrar dessas questões do passado, da pouca idade, é bom, para entender o momento atual, o fim de gestão da OAB/SP, do trabalho tão bom e recompensador da Comissão de Direitos Humanos, dos desafios, de começar numa atividade vindo de lugar algum, chegar tão bem ao final, reaprender o valor do trabalho coletivo, dos embates e das disputas.

Sair de cabeça erguida, ciente do que se fez, como se fez, mais uma vez exercer o desapego, de entender que novas ideias e mentes farão mais e melhor, e cabe a nós a apenas seguir, guardar com carinho e amor, que uma jornada incrível foi percorrida, mas ela teve seu fim, simples assim, quem não entende que seu tempo passou, não respeita os que chegam e não aceitam a democracia, a urbanidade e a vida.

Agradeço a todas e todos aqueles (as) que compuseram a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, pela imensa dedicação, por acreditarem nos Direitos Humanos como Norte de luta, como lema. A garra, o destemor, o compromisso de não deixar a peteca cair, não vacilar nem um minuto e ir até o fim da jornada, independente de eleições, diferenças políticas ou qualquer natureza.

Valeu demais!

Obrigado a vida, por todas essas conquistas, outras jornadas virão, sem precisar atropelar ninguém, apenas curtir o momento, fazer bem feito e ficar em paz consigo, a melhor sensação, o de ter feito o melhor todos os dias. Muitos outros espaços nos esperam, seremos felizes e lutaremos com a mesma intensidade, companheirismo e coletivamente.

Até breve!

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