Arnobio Rocha Filmes&Músicas Elza Soares – A Heroína e Musa

Elza Soares – A Heroína e Musa


Elza Soares e Garrincha, herói e heroína no sentido grego, glória e tragédia.

“mais tarde, todavia, ele deverá sofrer tudo quanto AÎSA fiou para ele, desde o dia em que sua mãe o deu à luz”. (Ilíada, Homero, Canto XX, 125-128)

O destino fiou para Elza Soares e Garrincha, no mesmo dia, com 39 anos de diferença, ambos partissem, num simbólico 20 de janeiro, dia de São Sebastião, aquele que deu o nome da cidade maravilhosa, em que ambos brilharam intensamente, de lá partiram para o panteão dos grandes heróis (heroína) da humanidade.

Os heróis são os intermediários entre os humanos e os deuses, A etimologia  ήρωας (héros) talvez se pudesse aproximar do indo-europeu servä, da raiz ser-, de que provém o avéstico haurvaiti, “ele guarda” e o latim seruäre, “conservar, defender, guardar, velar sobre, ser útil”, donde herói seria o “guardião, o defensor, o que nasceu para servir”. (Todas as definições são de Junito de Sousa Brandão).

São essas figuras extraordinárias que dão sentido a vida comum, eles (elas) veem para nos dar horizonte, sonhos e nos aproximar de uma ilusão de divindades superiores. Os heróis têm um ciclo próprio que tratamos tantas vezes aqui, mas não custa retomar em homenagem à imensa Elza Soares.

Nascem no nosso meio, em condições difíceis, são postos à prova ainda muito cedo, enfrentam situações e provações, seus ritos iniciáticos, para que sejam reconhecidos pela precocidade. Elza assim se fez, apresentando-se ao mundo, através de Ari Barroso e pelo prato de comida, ela anuncia que vem do Planeta FOME, algo tão brasileiro que dói.

A voz incomparável da inquieta Elza, está no mesmo plano das musas, sendo uma das noves filhas modernas de Mnemósine (“Memória”): Aretha Franklin, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Etta James, Elis Regina, Clara Nunes, Maria Bethânia e Elza Soares.

A capacidade de cantar em qualquer ritmo, do samba ao jazz, com originalidade e uma marca que ao se ouvir, sabe-se que é Elza, é inconfundível.

A trajetória de subidas e descidas, encontros e desencontros, inclusive, com outro herói nacional, Garrincha, com certeza um dos 5 maiores jogadores do Brasil de todos os tempos, desse encontro explosivo, da cantora consagrada e respeitada, num momento em que Garrincha, estava indo para o outono de sua enorme carreira, vencedor de duas copas, protagonista maior, que acabou com o complexo de vira-latas nacional.

O casamento de heróis é sempre atribulado, é feito de dor e prazer, pois estão num nível muito acima de todos nós, não há romantismo, condenações e incompreensão de que a vida é mais complexa, não é a realidade dos simples mortais.

Garrincha se foi muito cedo, suas gestas, como de todo  heróis não foi fácil, a crueza do vício, de uma vida desmedida, leva ao fim trágico, assim, fecha o ciclo do herói, naquele 20 de janeiro de 1983.

Elza cumpriu um longo caminho, suportou mais provas e se reinventou, recriou tantas e tantas vezes, como se uma maldição sobre ela pesasse. Mas nessa luta da heroína, ela foi a feminista, a ativista negra, a mulher sem medo e que desafiou o tempo, com dignidade e a voz potente até o penúltimo dia trabalhou, sem descanso por vontade e necessidade.

As justas homenagens e análises sobre Elza Soares feitas pelo Ruy Castro (‘Elza tinha uma relação de mãe com Garrincha‘) e pelo meu amigo Pedro Alexandre Sanches (MORRE, AOS 91 ANOS, ELZA SOARES, UMA DAS MAIORES VOZES DA MPB).Esgotam o tema, minha reflexão é numa outra perspectiva, de fã e admirador da cantora genial.

A Estrela Solitária agora reencontra seu par e atendo seu pedido:

“Me deixem cantar até o fim”

 

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