Arnobio Rocha Literatura O Retorno ao nosso Odisseus.

2042: O Retorno ao nosso Odisseus.


Hermes Ordering Calypso to Release Odysseus” (Gerard de Lairesse, c. 1670)

“Mas eu que despertara, refletia em meu irrepreensível espírito
se devia morrer, lançando-me nas ondas ou se permaneceria
em silêncio e continuaria entre os vivos.
Resolvi sofrer e ir vivendo…”
(Odisseia, Homero X, 49-53)

Há dois anos, ainda no início da Pandemia, escrevi num daqueles dias em isolamento sobre Odisseus (Ulisses) que luta para retornar para ítaca, sua casa, depois de dez anos do ciclo de Troia, já havia quase dez anos que estava de ilha a ilha, preso a um castigo, não encontrava saída para seu retorno ao lar, para Penélope, para Telêmaco.

 A sagacidade de Odisseus, sua prodigiosa inteligência, é também sua desgraça, mesmo protegido por Palas Athena, assim escrevi:

“Sua enorme inteligência evitou guerras e terminou outras guerras, por graça e engenho de suas artimanhas bem engendradas, como o concurso para escolha por Helena, ou, em parceria com Diomedes, a ideia do cavalo de Troia.

O mais humano dos heróis gregos, o arquétipo do homem imperfeito, com todos os seus defeitos, suas trapaças, seus vícios. Por outro lado, há grande feitos de guerreiro, de coragem, inspira, em parte, Falstaff. Nesse meio confuso, como todos nós, responde por mais complexos sentimentos. como na questão do amor, sensualidade, sedução, perdas e danos, e o retorno.”

Odisseus é um dos doze príncipes que foram ao concurso pela mão de Helena, mesmo não tendo interesse efetivo, tanto que ajuda Menelau em sua conquista, o que lhe legaria a amizade e a dívida eterna do amigo, além de ter o privilégio de ser ouvido, nas decisões sobre os rumos do cerco à Troia.

De certa forma, a grande Odisseia, poema atribuído a um Homero mítico, pode ser que mais de um, ou vários poetas compuseram, é um contraponto à Ilíada, em forma e conteúdo. O feitos heroicos da guerra, os grandes heróis em ação, suas relações com os deuses, suas alianças, traições, e seus grandes feitos em batalhas, até a solução genial para invasão.

Do outro posto, a Odisseia, temos a solidão, o desespero, a incerteza de que se chegará à terra, é um poema do MAR, dos feitiços, encantos, das seduções, magias e da maturidade humana, que já não sonha, ou quer apenas a paz de retornar ao seu lugar.

Ora, se na Ilíada o herói tem que mostrar sua grandeza, inclusive, escolher entre morrer jovem e eternizado, como Aquiles, ou ser apenas reconhecido e viver longamente, mas sem ter seus feitos cantados. Na Odisseia, o já famoso herói, busca apenas ser humano, ter uma vida comum, de um lar mítico, sem mais guerra, um arrependimento, uma reconciliação.

Purga longamente, é como se um dia chegássemos ao alto, numa empresa, na sociedade, depois caíssemos em desgraça, mas não queremos mais retomar, apenas viver.

É essa a metáfora.

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