Arnobio Rocha Política Ciro morrerá pela boca de novo?

2101: Ciro morrerá pela boca de novo?


Um debate inusitado entre Ciro e Duvivier.

Essa campanha eleitoral será cheia de surpresas e de coisas inusitadas, uma delas foi o convite do candidato Ciro Gomes ao comediante Gregório Duvivier para  um “debate” no seu programa, nessa sexta 20/05/2022. Foi um show de horrores, um candidato chama um comediante para debater já é inusitado, mas Ciro tornou pior, pois baixou o nível, se destemperou, perdeu a mão, partiu para ataques ao PT, ao Lula, e ao próprio Duvivier, não deixava falar, nervoso, grosseiro.

É preciso relembrar a trajetória de Ciro para contextualizar melhor a sua fase atual, outonal, e uma busca por um novo público, moralista, conservador e combinado com a ferve destemperada, parece levá-la para um beco sem saída.

Ciro Ferreira Gomes vem se candidatando ou se apresentando como candidato para Presidente, com três candidaturas, a primeira em 1998, a segunda em 2002, a terceira em 2018 e agora é pré-candidato em 2022. As duas primeiras vezes, suas chances foram pelo ralo justamente por suas declarações destemperadas, facilmente exploradas pelos adversários e pela imprensa.

Ciro tem uma vida política errática, do ponto de vista ideológico, de uma família tradicional do Ceará, foi eleito deputado estadual muito jovem pelo PDS (a legenda herdeira da ARENA, o partido dos milicos) em 1982, com 25 anos. Logo que assumiu o mandato, se filiou ao PMDB, o partido de oposição à ditadura, foi reeleito em 1986, em aliança ao empresário bilionário, Tasso Jereissati.

Sob a liderança de Tasso, Ciro foi eleito prefeito de Fortaleza em 1988, num trampolim para depois se eleger governador do Ceará, em 1990. Quase ao fim do mandato, foi ser ministro da fazenda de Itamar em substituição ao embaixador Rubens Ricupero, depois do candidato Fernando Henrique Cardoso sair do ministério e ser eleito sob efeito do Plano Real, elaborado por esse, mas efetivado por Ricupero e Ciro Gomes, óbvio que lançado por Itamar Franco.

Rompeu com o PSDB, pois FHC comprou a emenda da reeleição, não dando chance ao Ciro de ser o candidato do PSDB à presidência em 1998. Ciro se candidatou pelo PPS. E em 2002, com uma aliança com Brizola, foi candidato pela “Frente Trabalhista”, no segundo turno apoiou Lula, foi seu ministro, só saindo para se candidatar a Deputado Federal, para formar uma bancada forte de apoio.

Na câmara, Ciro se alinha com um grupo que votava com o governo Lula, mas se preparava como alternativa em 2010, Ciro migrou para o PSB, se aproximou do governador Aécio, a quem insistia que se lançasse candidato, uma espécie de “terceira via”. Aécio não se candidatou e o PSB não deu legenda a Ciro, ele acabou não por não se candidatar a nada.

A terceira candidatura em 2018, pelo PDT, Ciro teve a grande chance de ser o candidato de consenso das forças de centro-esquerda, com a prisão de Lula pela lava-jato, no entanto, Ciro se recusou a participar de uma chapa com Lula, caso fosse negada (como era certo que seria), ele seria o nome.

Ciro e seus interlocutores avaliaram que um vínculo com o Lula e o PT, nenhum candidato teria chances. Com a entrada de Haddad, Ciro caiu e não foi ao segundo turno, mesmo declarando apoio ao candidato do PT, fez questão de não fazer campanha e foi para Paris (ou Lisboa), suas falas foram raivosas ao PT, de que nunca mais votaria e trata Lula como bandido, desde sempre.

Ciro efetivamente saiu de um campo de centro-esquerda, mesmo no PDT, quando se aproximou de políticos de Direita, até da extrema-direita, como o MBL, seu eixo de campanha tem sido destilar ódio ao PT, ao Lula em particular, para cada crítica ao governo Bolsonaro, faz dez ataques ao PT/Lula.

Sem medo de errar, seus 6 a 9% de intenções de votos, pelo menos 2/3 dificilmente votarão em Lula, exatamente pelo comportamento raivoso e baixo de Ciro. Nesses dias, Ciro rebateu o comediante Gregório Duvivier sobre uma crítica que esse fez, para que os eleitores se alinhasse com Lula para derrotar Bolsonaro no primeiro turno.

Ciro se desnudou completamente, entretanto, a percepção é que Ciro fala para um público não de esquerda ou do centro democrático, mas para o seu novo tipo de eleitor, raivoso, antipetista, não bolsonarista, mas pouco difere do método do bolsonarismo.

Triste fim!

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