Arnobio Rocha Reflexões A vida segue, mas nem sempre (Post 116 – 70/2011)

117: A vida segue, mas nem sempre (Post 116 – 70/2011)

 

 

“Na minha desventura, contemplo um mar tão vasto de infortúnios, que nunca poderei salvar-me a nado, nem ao menos vencer esta vaga fatal que ora me assalta” ( Hipólito – Eurípedes )

 

Semana passada escrevi o texto que mesmo com todos os problemas que enfrentamos: A vida segue…. Mas não é tão fácil assim, a dinâmica geral da vida realmente segue, os fenômenos que nos paralisam ou congelam nossa existência particular, pouco ou nenhuma importância há para o grande fluxo.

Esta lógica do seguir em frente não pode também nos fazer indiferentes ao que nos rodeia: as pessoas, as suas micro-tragédias, os desacertos do cotidiano ou as desavenças próprias da nossa medíocre/espetacular trajetória. Falar de si, por mais egoísta que seja, pode ser um alento nas dores que cada um em particular sofre, mas não consegue efetivamente expressar.

Vivi nos últimos 30 dias duas experiências terríveis com jovens que morreram de forma estúpida, que devastam nosso ser, ficando um vazio, uma sensação de impotência. Primeiro o Dimitri Sena( Os fados da vida ) , 24 anos, um acidente de moto. Agora na última sexta meu sobrinho Rodrigo, 18 anos, sofreu grave acidente de carro, veio a falecer na segunda. Aos pais, que são amigos tão queridos, que perderam seus filhos de forma violenta, pouco temos a dizer, choramos juntos, morremos um pouco com eles, mas dor que sentem não há como dimensionar.

Rodrigo era um menino apenas, inteligente, afável, cheio de vida. Ano passado esteve conosco em São Paulo prestando vestibular para medicina, conversamos muito sobre os planos de vida, as expectativas, ele não queria iniciar a faculdade tão novo, sabia que medicina iria consumir 9 anos, pelo menos, de sua vida, seu tio é médico, seus pais são dentistas, então conhecia a dedicação que seria. Revelou-me que ficaria feliz se entrasse agora, mas não estaria triste se ficasse um ano na casa dos pais, para estudar mais forte, curtir um pouco, antes de mergulhar na faculdade. Fiquei feliz com esta visão, longe da lógica do “mercado” de impor tamanha pressão sob as costas de pessoas tão jovens.

As notas do Enem do Rodrigo foram ótimas, entraria na maioria dos cursos, mas não para medicina, realmente voltou para casa dos pais no interior do Ceará, depois de morar sozinho por 3 anos em Fortaleza. Estava fazendo cursinho, estudando, mas como todo jovem também se divertia, brincava, tinha seus momentos de lazer. Desgraçadamente num destes momentos sofreu o terrível acidente, voltando de uma festa. Desde sexta sabíamos do quadro gravíssimo, a primeira avaliação era de morte cerebral, durante o fim de semana houve várias tentativas de reversão e de esperança para que não se confirmasse o laudo inicial, infelizmente segunda veio o veredito final.

A morte é a única certeza da vida como nos Lembra Ariano Suassuna na definição perfeita sobre viver e morrer, quando Chicó encontra João Grilo morto:

“Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre.”

 

Muitos dos que me acompanham neste espaço sabe das tormentas por quem tenho passado no último ano e meio( #Leucemia : Quando ela bate na sua porta! ) , por mais dura que tenha se mostrado a vida, não perco a fé ou a esperança de que vamos passar e voltar  a ser felizes, parece uma ilusão estéril, mas esta certeza de que superaremos é mais forte do que os maiores temores que possam existir.

O Paraíso

Madredeus

Subi a escada de papelão
Imaginada
Invocação
Não leva a nada
Não leva não
É só uma escada de papelão

Há outra entrada no Paraíso
Mais apertada
Mais sim senhor
Foi inventada
Por um anão
E está guardada
Por um dragão

Eu só conheço
Esse caminho
Do Paraíso

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