Arnobio Rocha Mitologia Grécia: O eterno retorno (Nova Versão)

893: Grécia: O eterno retorno (Nova Versão)


Ruínas do que seria o Labirinto de Creta(Grécia)

Ruínas do que seria o Labirinto de Creta(Grécia)

Ao estudarmos mitologia grega, mesmo sua versão, empobrecida, da Mitologia Romana, impossível não ficarmos maravilhados com aquele mundo fantástico, muitas vezes nem percebemos as suas implicações no nosso presente, o comportamento dos heróis, mitos ou deuses através da psique nos conecta ao nosso íntimo, nossa personalidade, nosso Gene e Ethos.

Conversando com um amigo médico no Twitter, pois ele estava desenhando os órgãos internos, naquele dia útero, então falei sobre a relação útero e labirinto, ele ficou interessado, resolvi publicar este trecho interessante de Junito de Sousa Brandão, o genial estudioso da Grécia antiha.

Cavernas, Labirintos e útero

Estava relendo alguns textos sobre a relação de mitos, heróis e os seus ritos iniciáticos (passagem de estágios na vida: Menino – Homem), como sempre retorno ao mestre Junito de Souza Brandão, pois ele expõe com perfeição qual a unidade lógica de cada coisa, leiamos juntos:

“As grutas e cavernas desempenhavam um papel religioso muito importante, não apenas na religião cretense, mas em todas as culturas primitivas. A descida a uma caverna, gruta ou labirinto simboliza a morte ritual, do tipo iniciático. Nesse e em outros ritos da mesma espécie, passava-se por “uma série de experiências” que levavam o indivíduo aos começos do mundo e às origens do ser, donde “o saber iniciático é o saber das origens“.

Esta catábase é a materialização do regressus ad uterum, isto é, do retorno ao útero materno, donde se emerge de tal maneira transformado, que se troca até mesmo de nome. O iniciado torna-se outro. Na tradição iniciática grega, a gruta é o mundo, este mundo, como o concebia Platão (República VII, 514, ab): uma caverna subterrânea, onde o ser humano está agrilhoado pelas pernas e pelo pescoço, sem possibilidade, até mesmo, de olhar para trás. A luz indireta que lá penetra provém do sol invisível, que, no entanto, indica o caminho que a psiqué deve seguir, para reencontrar o bem e a verdade.

À idéia de caverna está associada o labirinto Numa visão simbólica, o labirinto, como as grutas e cavernas, locais de iniciação, tem sido comparado a um mandala, que tem realmente, por vezes, um aspecto labiríntico.

Assim, em termos religiosos cretenses, o Labirinto seria o útero; Teseu, o feto; o fio de Ariadne, o cordão umbilical, que permite a saída para a luz

“Muito provavelmente, como pensa Mircea Eliade, a lenda dos companheiros de Teseu, sete rapazes e sete moças, ‘oferecidos’ ao Minotauro, reflete a lembrança de uma prova iniciática desse gênero. Infelizmente ignoramos a mitologia do touro divino e o seu papel no culto. É provável que o objeto cultuai especificamente cretense, denominado ‘chifre de consagração’, represente a estilização de um frontal de touro. A sua onipresença confirma a importância de sua função religiosa: os chifres serviam para consagrar os objetos colocados no interior”

As touradas atuais, diga-se de passagem, sobretudo as espanholas, em que se mata e se devora o touro, simbolizariam uma comunhão com o animal, uma aquisição de seu mana, de sua enérgeia, já que o touro, seja o Minotauro, seja o feroz Rudra do Rig-Veda, é portador de um sêmen abundante que fertiliza abundantemente a terra. Ao culto em favor dos vivos estava indissoluvelmente ligado o culto em benefício dos mortos

Ontem e Hoje

Teseu é apenas um herói que passa tão detalhadamente pelo rito iniciático de ir à Creta e matar o Minotauro, livrar Atenas de pagar com a vida dos seus jovens imposta por Minós. Era fundamental a Teseu fazer sua Catábase, descida ao labirinto enfrentar seu “Monstro” matá-lo e de lá fazer sua Anabase, subida, já como Homem e Herói.

Os Junguianos interpretam estes mitos de forma bastante coerente, apontando traços comuns em diversas culturas e trazendo até os dias de hoje vários aspectos comuns de nossas vidas, nossas lutas, que às vezes fazemos determinada ação e não compreendemos a lógica ou o porquê de fazê-lo, boa parte destas ações estão gravada em nosso inconsciente coletivo.

 (Publicado originalmente em 03 de Dezembro de 2010) 

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