Arnobio Rocha Política Manifesto Comunista – 175 anos

Manifesto Comunista – 175 anos


Pintura de Engels e Marx encomendada pelo Partido Comunista Chinês

O maior feito do Manifesto Comunista é que ele sintetiza, em poucas páginas, a colossal obra de Marx, O Capital. É como se ali estivesse antecipando, em quase 20 anos, todo os estudos econômicos e filosófico, da teoria fundante de que Marx e Engels estavam desenvolvendo.

Óbvio que compreendemos ainda que os Manuscritos Econômico-Filosóficos (1844), é anterior ao Manifesto (1848), mas não havia sido publicado, pois se tratava de um rascunho, ou um modelo de estudos que levaria ao grande livro de Marx, essa espécie de projeto de tese só consolida uma década depois quando Marx residia em Londres e vai sistematizar o Capital.

Umberto Eco no livro de apontamentos, ensaios, chamado, Sobre Literatura, há um pequeno capítulo saboroso: “Sobre o Estilo do  Manifesto”, é especial para entender a profundidade dessa obra genial, escrita sob a pressão das revoltas e greves de 1848, precisava de um documento que marcasse um novo movimento da classe trabalhadora, com base na ruptura social.

Diz Eco:

trata-se de um texto formidável, que alterna tons apocalípticos e ironia, lemas eficazes e explicações claras, e (se a sociedade capitalista realmente quer se vingar do desconforto que estas páginas não muito numerosas lhe causaram) que deveria ser analisado religiosamente nas escolas publicitárias hoje”. 

E passa analisar o estilo de escrita de Marx no Manifesto:

“Inicia com um formidável golpe de timbal, como a Quinta Sinfonia de Beethoven: “Um fantasma ronda a Europa” , 

Continua Eco:

“Segue-se imediatamente uma história panorâmica sobre as lutas sociais desde a Roma Antiga até o nascimento e desenvolvimento da classe burguesa, e as páginas dedicadas às conquistas dessa nova classe “revolucionária” constituem seu poema fundador — ainda válidas hoje para aqueles que apoiam o liberalismo”

E mais

“Vê-se (quero dizer exatamente “vê-se”, de forma quase cinematográfica) essa nova força irrefreável, que, impulsionada pela necessidade de novas saídas para suas próprias mercadorias, percorre todo o globo terrestre (e, ao meu entender, aqui o judeu e messiânico Marx pensa no início do livro de Gênesis), altera e transforma países remotos porque os baixos preços de seus produtos são a artilharia com a qual ela derruba todas as muralhas da China e rende até mesmo os bárbaros mais endurecidos pelo ódio ao estrangeiro”

Depois, analisa, Eco, de como Marx põe o Proletariado no centro da Luta (de classe:

“o feiticeiro se vê impotente para dominar as forças subterrâneas que evocou, o vitorioso é sufocado por sua própria superprodução e é obrigado a gerar de seu próprio seio, para nascer de suas próprias entranhas, seus coveiros, o proletariado.”

E dele, seu programa/Manifesto, assim descrito por Eco:

E arremata, assim, Umberto Eco:

A enormidade do Manifesto Comunista se constata pela sua atualidade, tarefas e beleza do escrito, sua capacidade síntese e o estilo inconfundível de Marx e Engels. O Manifesto foi a grande ruptura política de Marx, especialmente, com os vários movimentos no seio da classe, anarquista, socialistas utópicos, era preciso superá-los, inclusive, na teoria e nas propostas para uma nova sociedade.

A nova utopia, o Comunismo, tem no Manifesto uma de suas bases e sua longevidade e referência são fundamentais até hoje, 175 anos depois.

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