2261: I-Mortais


Juninho e Letícia, acompanhados da Joyce, nos tucuns da fazenda do vovô Pedro.

“Senão porque o terror de alguma coisa após a morte _
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante _ nos confunde a vontade”
(Hamlet – Shakespeare)

Todos que nascemos, carregamos conosco a sentença de que um dia chegaremos ao nosso fim, até a Rainha Elisabeth II morreu, quanto mais um simples mortal. Essa consciência de nossa finitude, longe ou breve, é um dos aspectos mais complexos de nossas vidas, pouco importa o lugar que ocupamos “na fila do pão”.

Esses duros dias vivo em reflexão sobre o sentido da vida e seus limites, tempo em que perdi meu jovem sobrinho, José Francisco Soares Lima Junior (Juninho), faltando um mês para seus 25 anos, doeu forte, em que pensei na minha filha Letícia, que teria 25 anos agora, mas que partiu aos 21 anos, ambos filhos maravilhosos, verdadeiras dádivas e sorte para nossas famílias, que sentimos um vazio inestimável com suas partidas então breves idades, ficamos nós, sem saber por que, não nós, ao invés deles.

A morte “prematura” nos incomoda de sobremaneira, em casa ou na sociedade, mas também cria-se ícone com o cedo partir, como James Dean, aos 24 anos, virou símbolo de rebeldia, de juventude que se eterniza com a morte. No rock, grandes nomes de talentos extraordinários se foram com pouca idade, a barreira dos 28 anos virou um símbolo: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Kobain, Amy Winehouse.

Há, no entanto, no mundo do rock, figuras lendárias com idades avançadas, que desafiam o tempo e são fundamentais para arte, como Keith Richard, MIck Jagger, Roger Waters, David Gilmour. Assim como na MPB, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Leci Brandão, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Edu Lobo.

A vida tem regulações próprias, raramente compreendemos, sabemos das estatísticas, da expectativa de vida média da população, dos avanços da ciência para prolongar a vida, com saúde, qualidade, principalmente dignidade humana, pois não adianta ficar por ficar, mas ter uma existência plena.

Das minhas perdas vou guardando um amargor, um sentimento de derrota, ou de que não fui pleno com meus entes, faltou algo, ou que foi pouco o que vivi com eles, com minha Leleca, com meu Junior, filha e sobrinho, praticamente da mesma idade, no mesmo tempo e espaço, colhidos pelo cruel destino do fim insidioso da pouca idade. Sei que é o destino último de nós todos, mas deles, antes, principalmente, antes de nós, o que inverte a lógica natural dos filhos ficarem mais do que nós.

Ontem celebramos os aniversários e renovações de vida, de Jéssica e Joyce, as irmãs de Juninho, aqui de longe, com o coração apertado, mas feliz porque elas e minha irmã são mulheres fortes e vão honrar o nome dele, que ele será presente na memoria em cada coisa, assim como Letícia é me nós, na nossa casa.

Nesse sentido, a vida virtual, prolonga a presença, numa espécie de I-mortal, de que eles estão entre nós, de forma viva, não apenas numa memória abstrata, quase concreta e sempre, talvez ajude a nos ver melhores e possa atenuar nossas dores e lamentos.

A vida continuará para todos, de alguma forma encontraremos uma forma de felicidade, por nós e por eles.

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