Arnobio Rocha Estado Gotham City A Europa Pulsa, A Democracia Sangra.

1488: A Europa Pulsa, A Democracia Sangra.


O Sony Center em Berlim, futurismo num mundo incerto.

“From morning to night I stayed out of sight
Didn’t recognize I’d become
No more than alive I’d barely survive
In a word… Overrun”  (Wearing the inside out – Pink Floyd)

Por vias tortas, totalmente alheias ao que desejava na vida, em circunstâncias completamente terríveis, decidi sair por alguns dias do Brasil e acabei por realizar alguns dos meus objetivos da vida, que era conhecer algumas cidades fundamentais para civilização ocidental, num momento particularmente tenso, em todas as cidades visitadas, havia algo fora de ordem.

A viagem foi quase iniciática, apesar da velhice a chegar, tive a chance de ir, ver, sentir, trocar ideias, conhecer ambientes, obras de artes, culturas, sistemas de transportes, funcionamento de cidades, dinâmica e lógica, não era apenas turismo ocasional, valeu em muitos outros aspectos, especialmente para sedimentar teses teóricas que venho escrevendo nos últimos dez anos, in loco, a realidade se torna mais palpável.

Acaso consiga continuar a desenvolver esse trabalho, acabou de grande valia, essa viagem, observar que há realmente uma desintegração gradual da Democracia representativa, envelhecida, carcomida pela adequação ao negócios do Kapital, incapaz de dar respostar ao cidadão, mesmo o europeu, com larga tradição de lutas e conquistas, vive-se um impasse histórico, que salta ao olhos.

Em Paris, por exemplo, os coxas de coletes amarelos causaram um estrago imenso ao governo deles, da Direita liberal, que se mostrava como terceira via, com o jovem Macron, que se revelou um fraco, sem ideias, sem projetos. Menos de dois anos depois, o governo acabou, desacreditado, em novembro, mandou um pacote de medidas, contrário ao projeto de liberalismo que o elegeu,

Manifestantes se concentraram em várias cidades, em especial em Paris, na charmosa Champs Elysee, das lojas famosas e dos mendigos e pedintes, miseráveis que se avolumam. Mas, lá, no protesto, é classe média, que não se mistura, pôs à pique o governo Macron, acossado à direita e à esquerda. Nos últimos lances de desespero, propõe um “debate nacional”, enquanto balança, mas não caí.

A cena de Londres, é mais contraditória, a vitória do Brexit, a saída da UE, uma vitória dessa “nova direita”, pegou de surpresa e derrubou o governo conservador de David Cameron, que manteve o poder, com Theresa May, mas o impasse e as consequências da ruptura com a UE leva a tensões, com protestos diários, dos que querem que se cumpra o cronograma do desembarque e os que querem a revisão do referendo.

A guerra do início do ano era a votação do voto de confiança para continuidade do débil governo de May, além do ajuste ou não do cronograma de saída e as opções de acordos para não virar uma tragédia em março, prazo final do Brexit. Ela venceu o voto de confiança, mas perdeu na proposta de ganhar tempo para saída, o impasse pode levar a novo referendo, o que desmoraliza o parlamento.

Na Itália, o governo é ainda mais confuso, depois de muito impasse, eleições sem maioria clara de nenhum partido, dois acordos de governos sem maioria, a Direita Liga se uniu aos 5 Estrelas (o partido do tiririca italiano), que se apresenta como “esquerda de verdade”, para um novo governo, nomearam Giuseppe Conte, sem partido e dividiram o gabinete, é uma confusão por dia, sem norte, sem rumo.

A sólida Alemanha sofre com a longa liderança de Angela Merkel, quatro mandatos, agora sem maioria, com os neonazistas obtendo inacreditáveis 13% dos votos. A fadiga tem a ver também com o recuo da economia, a Europa não saiu da crise, a Alemanha que se manteve, já não consegue os mesmos índices de crescimento, além de ver a deteriorar as demais economias da UE.

Sim, tem muita coisa interessante para ver, conhecer, em Paris, Berlim, Roma e Londres, apenas olhar em volta, sobre a vida deles, é algo importante, assim não sofremos quando ouvimos os vira-latas locais deslumbrados com o que não enxergam.

De volta, preparado para o tenebroso governo Bozo, dos demagogos locais, mas com a certeza de que não durarão muito, a onda neofascista, parece chegar ao fim, os indicadores econômicos, vão varrer, só não sei o porvir.

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