2379: Holy Spider


Holy Spider uma narrativa universal sobre violência contra as mulheres e religião

O filme Holy Spider Netflix) traz uma versão para as telas do famoso caso de um serial killer que assassinou 20 mulheres na cidade sagrada de Mexede (Irã), ampliando a narrativa para o comportamento humano, seus instintos mais selvagens, quase sempre ligados aos desejos primitivos, reprimido ou amplificados pela religiosidade, ou ser um dom divino, exercido através da maior perversão, a morte, um rito (quase) sexual.

A temática, em síntese, é a mulher como culpada e o homem violento como o que corrige seus pecados, multiplicada por mil, numa sociedade dominada pela teocracia.

O cineasta irano-dinamarquês Ali Abbasi narra o caso real do ex-combatente da guerra Irã contra o Iraque, que no fundo era uma tentativa dos EUA de voltar a dominar o país, mas foi derrotado, mas teve alto custo ao Irã e sua sociedade, ampliando o poder dos Aiatolás sobre o país, os costumes, a vida privada, a política pública e o governo, submetido à religião.

A milenar cultura Persa, seu rico idioma, artes, literatura, arquitetura, ciência, hoje vivendo contraditoriamente sob regime teocrático, quando a revolução proletária, que derrubou o regime autoritário do ex-Xá Reza Pahilav, sem direção política, a revolta entregou o poder aos Aiatolás, um governo civil, mas sob domínio religioso.

A influência da religião é nítida, no controle de funções estatais ou de aconselhamento dos que dirigem as cidades, as províncias e o governo central.

A pobreza nas cidades, principalmente no pós guerra levou mulheres à prostituição, uma afronta à religião e suas leis draconiana, mas a crise econômica fez tolerar essa prática, sem que a polícia faça qualquer coisa para coibir a violência contras as mulheres.

O “aranha” passa a matar essas mulheres como uma missão religiosa, de limpeza social, em nome dos mártires que deram suas vidas pela religião e defesa do país. É uma clara perversão, as vítimas são as mais vulneráveis, primeiro por serem mulheres, que não têm valor numa sociedade religiosa machista, mais ainda as prostitutas, o crime é delas, não dos homens que as usam e até as matam.

A escolha da morte por asfixia, dão ideia de intimidade, de poder sexual contra as vítimas, uma perversão própria, para prática uma mensagem contra as demais mulheres, um ritual, e codinome “aranha”, é um paradoxo, pois elas matam seus machos após o coito.

É um filme denso, escuro, baixa luminosidade, como a lembrar o regime, o obscurantismo civilizatório, ao mesmo tempo, lembra qualquer cidade do interior do Brasil, a religiosidade, as regras morais, em que a morte, a limpeza da sociedade é vista como caráter.

Excelente elenco e direção, uma discussão universal, que poderia ser em tantos lugares e sociedades.

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