Arnobio Rocha Política A Cultura e o Estado de Exceção

1394: A Cultura e o Estado de Exceção


A mistura de mediocridade com boçalidade venceu a poesia. A “Nova Estética” privada.

“Toda teoria é cinza, auriverde e frondosa é árvore da vida” (Fausto – Goethe)

A afirmação de um “Novo Estado” é, em primeiro lugar, a afirmação de um “Novo Homem”, dessa arte, a Cultura é o mais adequado veículo para essa “Nova Estética”, a Ideologia se faz vida quando ela ganha corações e mentes na aurora desse tempo que nasce. Mas, até ela surgir com seus “dedos róseos”, uma longa e trevosa noite se cumprirá.

A aurora que está prestes a se anunciar é a do Ultraliberalismo, assim como o fuso horário, ela é defasada no tempo/espaço, mas em toda a parte ela já tem seus arautos, não por mera coincidência com livre trânsito entre a esquerda e a direita, nos seus extremos, pois num ponto eles estão de pleno acordo: O fim do Estado.

Este ocaso do Estado de Bem-Estar Social, mesmo nos locais em que não foi pleno de direitos (por exemplo, aqui no Brasil) representa o fim de certa racionalidade, de uma lógica de fatos impostos pela dualidade, polarização, do século XX, da guerra fria (ou seria quente?). Deus morreu, agora podemos tudo, nenhuma sensibilidade social, ora, vamos em frente, quem não tem “mérito não deve sobreviver”. Aparentemente se clama por igualdade, dos desiguais.

A horizontalidade exigida pelas multidões das “primaveras”, se casa, em essência, com os desejos da burocracia, numa dominação de massas de forma mais eficaz, pois se suprimirá a representação e seus intermediários (Partidos, Sindicatos, Organizações) tidos como desmoralizados, tudo se diluí em “movimento” em “Redes” (M15, 5 S, Sustentável,Tea Party) e “Indignados”, facilitando enormemente a cooptação e o combate de ideias.

Entretanto, olhando de perto, os ganhos privados de um seleto grupo (cada vez mais seleto e reduzido) é o que conta nessa nova quadrada da história. O peso é mais grave na mediação da sociedade, com o esgotamento da Democracia e da PolíticaA saída, mais uma vez é a quebra de um Estado paradigma e substituição por outro, o que nunca é pacífico.

O simulacro de Democracia em que se vive no Brasil capta bem essa realidade estética, o extremo mau gosto do primeiro casal que substituiu obras fundamentais do Palácio, ou o prefeito-fake de São Paulo apagando a história da cidade “limpando” e higienizando a mais plural das metrópoles do país. Mais além, rumando para a privatização completa da cultura da cidade, entregando museus, bibliotecas, parques para exploração privada.

No entanto, tudo isso que estar por vir, não acontecerá sem dor, pois não há parto sem luta e dor, o rebento se prepara, por natural, à fórceps ou por cesárea, mas nascerá. O termômetro dessa “Nova Ordem” é vista com detalhes na cultura, quando ela se impõe lá, a sociedade foi derrotada, isso é sentido dramaticamente quando valores essenciais são perdidos, eventos históricos negados sob a alegação de que foram escritos com viés “esquerdista”.

A boçalidade CINZA da cidade está sendo preparada para a “Nova Estética”, que, como diz o secretário de cultura de São Paulo: “a gente colocou no edital, que não serão permitidas manifestações de cunho religioso, político ou discriminatórias. Então esse tipo de manifestação não será permitido nas obras”. O PROIBIDÃO da extrema-direita nada deve ao velho stalinismo. 

O mundo se tornou significativamente pior, a democracia representativa se esgota de forma rápida, a combinação de desilusão com a nenhuma alternativa gestada, leva à dispersão geral. Os grupos autônomos surgidos nestes últimos anos não compreenderam os caminhos desta nova ordem Estatal, que busca esconder a ação do Estado com o ultraliberalismo, quase um semi-estado, mas na verdade é um Estado muito mais forte, de exceção, sem democracia, povo e representação.

Triste e cinza, o “Novo Tempo”.

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